A Besta do País das Maravilhas

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Até que não foi difícil descer o precipício. Foi fácil, fácil. Mamão com açúcar. Escorreguei umas dez vezes e quase matei o Chapeleiro e Percy umas cinco vezes. Mas fora isso foi tudo super simples e prático. Me senti muito sortuda por ter saído somente com as canelas e cotovelos ralados. Pensei que ia morrer umas quinhentas vezes, e sair somente com machucados era muita sorte. Agora falta de sorte mesmo, foi depois de atravessar o rio.

Se eu soubesse que o monstro ia sair de dentro da caverna só porque eu encostei naquele desenho eu nem teria chegado perto daquilo! Mas não como sempre a Annabeth aqui é curiosa demais e vai metendo a mão onde não deve!

Por isso estava eu naquele momento, encolhida atrás de uma pedra me desviando do ataque daquela coisa estranha.

Vou te explicar. Aquilo não era um monstro normal, do tipo enorme e cheio de pelos que estamos acostumados a imaginar. Não. Como sempre tudo naquele lugar era estranho.

Aquela besta era grande. De fato, mas tinha um pescoço muito grande. Como uma girafa e sua cabeça tinha um formato estranho. Ele andava sobre as quatro patas, mas também podia andar sobre duas e usar as outras para agarrar coisas ou no nosso caso esmagar. Ele não tinha nenhum pelo no corpo e era fedido para caramba. Além de babar feito bebe. Horrendo. Era tudo que eu precisava naquele momento. Um bicho babão e fedorento querendo nos matar.

O Chapeleiro e Percy ainda tinha uma vantagem: eles tinham espadas. Não sei da onde eles tiraram elas, porque não tinha reparado nesse detalhe durante nossa caminhada, mas quando o monstro apareceu eles desembainharam as espadas e foram lutar contra a besta enquanto eu corria e me escondia.

Lindo isso não é mesmo? Eu escondida! Isso não era de meu feitio. Eu só precisava pensar. Como iriamos derrotar ou ao menos dispersar aquela coisa?

Odiava me sentir impotente! Não saber o que fazer quando se é uma garota inteligente, não é uma coisa muito agradável.

Olhei ao meu redor, tinha o lago, mais a frente tudo era tomado pelas arvores novamente, para trás de mim, eu via os meninos lutando contra aquela coisa, sem muito sucesso e um pouco mais ao lado eu via a caverna.

Droga, droga, droga! O que eu poderia fazer? Talvez tenha algo na floresta que eu possa usar!

Corri até lá, procurando algo, ou qualquer coisa que eu pudesse usar para distraí-lo. Aquele monstro guardava a entrada da Cidade. Por isso somente o coração mais valente poderia ver a cidade. Até porque nenhum covarde enfrenta aquela coisa!

Corri muito, muito mais até do que pretendia. E então um cheiro horrível tomou conta do lugar. Que cheiro ruim. Mas como sempre, em vez de eu sair daquele lugar cheguei mais perto procurando de onde vinha o cheiro ruim.

Existia um buraco enorme. Grande mesmo ali. Como uma armadilha. Muito curiosa e devagar inventei de olhar para baixo para saber o que tinha lá dentro e quase morri do coração ao ver duas bestas versão mirim ali dentro. Não me surpreendia o cheiro. Entendi porque fedia. Se uma delas já era fedorenta, imagine duas!

E então uma luz iluminou uma mente. De alguma forma essas duas coisas fedidas tinham caído aqui dentro... Talvez se conseguíssemos fazer aquela besta gigante ir até ali, daríamos um jeito de faze-la cair no buraco também!

Provavelmente ela conseguiria subir novamente, mas teria certa dificuldade. Seria tempo o suficiente para que voltássemos correndo e entrássemos na cidade!

Voltei correndo para onde Percy e Chapeleiro lutavam bravamente contra a Besta Fedorenta.

—Percy! Tive uma ideia! – gritei para ele! —Faça ele correr atrás de vocês!

Tanto o Chapeleiro quanto ele fizeram exatamente o que eu disse. E deu certo! Aquela coisa gigante veio correndo atrás de nós. Corri na frente e sempre verificava se eles estavam atrás de mim.

Vamos, pense, Anna! Como você fará para que ele caia naquele buraco?

Olhei para trás novamente e vi que o monstro corria muito rápido, apesar de os meninos ainda estarem na sua frente. Estávamos quase chegando no local. O ambiente já estava fedido. Sem ter nenhuma ideia brilhante, diminui o passo e puxei Percy e o Chapeleiro pelo braço tirando eles do caminho enquanto o monstro se conseguir desviar a tempo caiu no buraco.

Nós estávamos ofegante, e a besta ainda rugia sem entender bem o que tinha acontecido. Ainda respirando pesado acabamos caindo no chão para recuperar o folego. Sem entender bem o porquê acabei rindo. Provavelmente era a adrenalina. Uma gargalhada que vinha do fundo da alma. Os meninos pareciam entender de alguma forma, porque riram comigo.

—Você é dez, Anna. – Percy elogiou. Senti minhas bochechas esquentarem e eu sabia que estava vermelha.

—Obrigada. – respondi sem graça.

—Sabia que ia conseguir pensar em algo. – Chapeleiro disse sorrindo.

—Melhor irmos antes que ela consiga subir novamente. – falei me levantando.

Fizemos nosso caminho até o lago mais devagar. Ainda tínhamos um sorriso no rosto. Assim que chegamos ao lago, corremos até ele e bebemos água. Os meninos molharam a cabeça e eu os braços.

Olhamos para a caverna e nos entreolhamos. Era agora ou nunca.

Andamos até lá e entramos. Demorou um pouco para que meus olhos se adaptasse a escuridão, mas ainda sim conseguíamos ver uma ou duas coisas a nossa frente.

Eu olhei para trás e vi a luz do dia e a calmaria do rio, e quase pensei em desistir. Mas tínhamos andado tanto até ali. Eu já tinha enfrentado tanto. Tudo que eu queria naquele momento era terminar logo tudo isso para voltar para minha vida. Voltar para Londres, para o aconchego da minha avó, e contar para ela sobre tudo isso aqui. Sobre toda essa confusão.

Eu sentia falta de Thalia, e de Silena. Até mesmo o Nico e seu jeito dark faziam falta. Queria minha vida de volta!

Ainda estávamos andando, olhando para trás eu já não via mais a claridade do lago. Só uma infinita escuridão, mas logo à frente começamos a enxergar uma luz. Olhamos um para o outro e em concordância começamos a correr. A claridade nos cegou por um momento, e quando me acostumei me maravilhei com a vista.

—Bem vinda a Cidade de Prata. – Percy disse olhando para a beleza que se estendia a nossa frente.

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