Capítulo VIII

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O meu corpo não se movia, era como se estivesse congelada, eu queria mexer-me mas não conseguia, estava completamente paralisada, não podia acreditar no que acabara de ouvir, aquela voz…

- Pai... - Disse gaguejando, lágrimas começaram a encher-me os olhos, enquanto no meu interior lutava para que elas não passassem dali.

De repente, num reflexo comecei a correr em direção aquela figura celestial que se apresentava há minha frente, as lágrimas, que eu tanto tentei esconder, começaram a cair como se fosse uma cascata. Abracei-o, como nunca tinha abraçado alguém na minha vida, abracei-o com todo o amor, carinho e saudade que corriam na minha alma. 15 anos se passaram, nunca pensei voltar a abraçar o meu pai, nem por um segundo pensei voltar a vê-lo… Acho que nunca tinha sido tão feliz na minha vida, nunca!

- Tenho tanta coisa para te dizer... Tive tantas saudades tuas... – Disse entre os soluços incessantes. – 15 anos, pai… 15 dolorosos anos sem ti… Tive tantas saudades!...

- Eu também minha querida,  mas agora tenho que ir... – O meu pai tinha os olhos inchados e vermelhos, e as lágrimas corriam-lhe pela pele clara e pouco iluminada.

- Mas...  – Comecei hesitante, mas fui interrompida por ele.

- Já nos veremos por aí. - Disse ele, afastando-se de mim, voltando para a escuridão.

Ele desapareceu tão de pressa como aparecera e eu fiquei ali sozinha, com a cara húmida das lágrimas, tentando voltar ao normal depois daquele encontro tão inesperadamente agradável… Mesmo tendo sido por pouco tempo, foi bom poder voltar a cheirar o seu perfume e sentir a sua pele suave depois de tantos anos, naquele momento a nostalgia apoderou-se de mim, e uma vez mais comecei a chorar. Sempre pensara que tinha superado toda esta história do meu pai, mas com tantas novas revelações sobre os meus pais, acho que os demónios do passado voltaram para me atormentar. Talvez eu esteja completamente errada, quem sabem…

Depois de me recompor um pouco voltei ao meu percurso original, de regresso a casa.

Cheguei e a primeira coisa que fiz foi ler o diário, ele estava em cima da mesa de café cuidadosamente pousado sobre dois dos meus livros favoritos. Reparei que haviam novas páginas escritas, mas pelo que a Sarah me dissera era completamente normal isso acontecer. Abri o livro na página que estava marcada pelo fino cordel que seda amarela que vinha com o mesmo, sentei-me no sofá e comecei a ler.

A minha infância foi bastante feliz e simples. Quando era pequena, eu e os meus pais vivíamos perto do Stonehenge, eu adorava aquele local. A minha mãe sempre dissera que o Stonehenge era o melhor sítio para encontrar inspiração, tanto para escrever como para criar melodias. Eu costumava ir com o meu pai dar longos passeios por aquelas pequenas colinas verdes que rodeavam aquele monte de pedras com um enorme significado. A minha mãe explicava-me uma e outra vez a importância daquele monumento, mas na verdade eu nunca chegara a entender, mesmo agora depois de tantos anos passados. Não sou uma mulher muito dava ao misticismos, mas parece-me que isso está a mudar, mesmo sendo pouco, está a mudar. Uns anos mais tarde, já eu era mais velha, eu e os meus pais mudamo-nos para o norte de Londres, na verdade nos primeiros meses custou-me um pouco adaptar-me ao ambiente da cidade. Foi aí que me dei conta do quão importante era para mim aquele ar puro existente naquela pequena localidade perto do Stonehenge. Na verdade, desde que a minha mãe morreu nunca mais voltei aquele lugar, pois sempre que pensava em lá voltar, sentia um aperto no coração e a nostalgia apoderava-se da minha alma.

Depois de passar algumas páginas, cheguei à tão temida parte: as folhas rasgadas. Pelo que entendi até agora, o meu pai iria revelar nas páginas seguintes coisas sobre o meu, passo a citar textualmente, inimaginável e inexplicável poder e o meu desafortunado destino. A meu ver acho que alguém não quer que eu saiba do que sou capaz.

É melhor amanhã falar com a Sarah.

Pousei delicadamente o diário de novo no lugar onde o encontrara ao chegar, de certa forma eu tratava aquele pequeno livro como se fosse um quadro muito antigo e muito valioso que não pode ser estragado por nada, pois seria uma enorme perda.

Depois de lavar os dentes e vestir o pijama, foi para a cama e deitei-me. Recordações do passado surgiram na minha cabeça. Todos estes anos achando que anjos e demónios não passavam de invenções feitas pela mente humana, e agora estou a ver que realmente existem. Acho que o meu cérebro não está preparado para tal choque, era como se tudo no que eu acreditava fosse uma enorme mentira, e era… Os meus pais não eram quem realmente diziam ser, a minha melhor amiga, tudo… Mas tenho de aceitar não é verdade? É o meu destino… o meu maldito destino…

Naquela noite não dormi absolutamente nada, o meu cérebro não parou de funcionar nem por um momento, tentando arranjar uma lógica a tudo aquilo.

De manhã, acordei com uma enorme dor de cabeça, levantei-me e vesti-me, logo depois fui preparar o pequeno-almoço. Enquanto a máquina do café aquecia liguei para a Sarah, que pelo que me parecia ainda estava na cama. Combinamos encontrar-nos no pub que se encontra na rua onde vivo, um pouco mais à frente do meu apartamento.

Cheguei lá e sentei-me numa mesa da esplanada, uma rapariga loira que aparentava ter uns 16 anos aproximou-se e eu pedi-lhe um café, o quarto café num dia. Já passava da hora combinada e a Sarah não aparecia, estava atrasada como de costume.

- Desculpa o atraso. – Disse puxando a cadeira de plástico e sentando-se há minha frente.

- Não faz mal, mas tenho uma coisa importante para te dizer.

- O quê? – Perguntou Sarah, pedindo logo depois um chá a um camareiro de cabelo negro e olhos azuis, que passou pela nossa mesa.

- Já cheguei à parte em que faltam folhas. – Revelei. 

- E então?- Perguntou Sarah, olhando para mim com os olhos a brilha, pareciam dois berlindes ao sol.

- Ao que parece ia falar do meu destino e dos meus poderes. Não sabes nada sobre isso pois não? - Perguntei-lhe.

- Não, sobre isso não te posso ajudar... desculpa... Era só isso, é que tenho de ir. – Gaguejou Sarah enquanto engolia o chá com uma rapidez incrível. Logo depois pousou a chávena e tirou algumas moedas do bolso do casaco para poder pagar o chá. – Adeus!

- Adeus...- Respondi.

Achei muito estranha a reação da Sarah quando lhe dei a notícia, pensei que ela ficaria curiosa e tentar-me-ia ajudar a descobrir onde é que foram parar as páginas perdidas. Ela parecia esconder algo, mas o quê? E porque me haveria de esconder coisas, somos melhores amigas, ela sabe muito bem que pode confiar em mim.

Ao longe uma silhueta bastante familiar começou a evadir o meu campo de visão e aquele sotaque, que pessoalmente achava bastante engraçado e interessante, não enganava ninguém.

- Olá Jake!

- Olá, posso?- Perguntou Jake apontando para a cadeira onde Sarah estivera sentada minutos antes.

- Claro! - Disse com um sorriso.

- Preciso de falar contigo. – Revelou, pondo uma expressão bastante séria.

- Aqui estou podes falar. – Disse bebendo um pouco do meu café que começara a ficar frio.

Ele olhou-me fixamente e disse:

- É sobre os teus poderes...

      Uma pergunta surgiu no meu complexo cérebro: o que ele me tinha para dizer, seria bom ou mau?

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