O ambiente dentro do carro era bastante tenso, não existia nenhum som para além do motor do carro. A minha cabeça estava cheia de pensamentos confusos e sem nenhuma lógica aparente. Ninguém diria que por esta altura, na semana passada, era uma pessoa com uma vida completamente normal, tanta coisa mudou tão depressa... Neste momento não sei mais quem sou e qual é o meu objetivo, a minha vida deu um giro de trezentos e sessenta graus num simples virar a página. Estou prestes a saber quem realmente sou, conhecer a minha verdadeira história, ou pelo menos parte dela... Está tudo tão confuso.
Todos estavam nervosos, notava-se a uma légua isso, mas nada se comparava ao que estava a sentir, a pergunta que mais vezes ecoava pela minha cabeça era porquê eu, porque tenho de ser eu a Escolhida? Existem sete biliões de pessoas no mundo, e tinha de ser eu...
O carro parou, todos abriram a porta ao mesmo tempo e saíram, era o momento da verdade. Sarah dirigiu-se até à mala do carro e abriu-a, de lá retirou a espada que havíamos encontrado no interior da capela.
- Isto pode ajudar. – Informou Sarah baixando a cabeça.
Quando os meus dedos tocaram a espada tive uma sensação bastante estranha, era como se algo de mal estivesse dentro dela, mas ignorei essa sensação e retirei com firmeza dos braços de Sarah.
- Talvez seja melhor a Annabelle ir sozinha. – Afirmou Jake.
Depois de ouvir as palavras de Jake fiquei um pouco pensativa. – Sim, o Jake tem razão, é melhor eu ir sozinha, eu fico bem.
- Tens a certeza? – Perguntou Richard.
- Sim, tenho. Eu vou a pé para casa e caso aconteça alguma coisa... – Fiz uma pausa e retirei o telefone do bolso. – ...Eu telefono.
Todos se aproximaram de mim e demos um abraço de grupo, com aquele abraço pude sentir que todos eles me apoiavam, que eu não estava sozinha nisto e isso ajudou com que os meus nervos se acalmassem. Depois do carro partir, subi vagarosamente a pequena colina que levava até ao Stonehenge, circundei o enorme monumento uma vez e depois aproximei-me das cordas que o rondavam. Aquilo era lindíssimo ao pôr-do-sol. O meu coração batia com violência, como se quisesse sair do meu peito. Toquei na corda, e uma imagem veio-me à cabeça, mas estava desfocada e não consegui ver com claridade o que era. Levantei a corda e avancei até ao pé de uma das pedras do lado mais afastado do centro.
Acalma-te Annabelle!
Toquei na pedra e a mesma imagem que tinha visto anteriormente voltou-me à aparecer, mas desta vez podia ver com maior claridade. Havia uma fogueira no centro de um círculo formado por homens encapuchados, que pareciam estar a rezar. Perto da fogueira, ainda dentro do círculo encontravam-se três pessoas, uma delas estava de joelhos e as outras duas estavam colocados perto dela, uma por detrás e outra na sua frente. Quando olhei para o que se encontrava de joelhos, o meu coração começou a bater com mais rapidez, uma sensação de tristeza profunda apoderou-se de mim, já quando olhei para o homem que se encontrava à sua frente, a sensação era diferente, era de raiva e maldade, uma maldade que nunca sentira antes. Para todos os que olhava podia sentir o que eles sentiam, e isso estava-me a deixar completamente fora de mim.
Aquela imagem desapareceu, mas eu continuava com a mesma sensação de tristeza e de raiva, o meu coração batia rapidamente e a minha respiração estava completamente descontrolada.
- Pai... – Sussurrei, praticamente sem forças, caindo logo depois no chão completamente derrotada e com as lágrimas a caírem-me dos olhos.
Uma nova imagem apareceu assim que me voltei a levantar, desta vez pude ver a face do sujeito que se encontrava na frente do meu pai, aquele sorriso sínico e aqueles olhos que mostravam toda a maldade do seu coração ao deixavam nada que enganar, era Lúcifer.
- Vais pagar por tudo o que fizeste! Não me queres entregar a tua filha? Então vais sofrer as consequências. – Proferiu Lúcifer num tom ameaçador, que fez com que o meu coração se enchesse de raiva.
O meu coração batia cada vez mais rápido, e a minha respiração estava totalmente descontrolada enquanto as lágrimas saiam a uma velocidade cada vez maior. Queria poder ajudar o meu pai, mas sei que o que estou a ver não passa de uma visão, uma recordação das pedras do que se passou aqui faz tanto tempo.
- Prefiro morrer, a deixar a minha filha nas tuas mãos. Annabelle estará bem sem mim... – Disse o meu pai em grande sofrimento e praticamente sem forças. Não acredito que o meu pai fez isto por mim, sacrificou-se, preferiu morrer a deixar a filha nas mãos de Lúcifer. Naquele momento sentia emoções contraditórias, estava com orgulho e medo. Orgulho de ser filha daquele homem incrível, e medo de ser quem sou.
Até agora estava tudo muito confuso, ninguém conseguia esclarecer as minhas dúvidas, ninguém sabia dizer quem realmente sou, ninguém... Será que agora tudo ficará mais claro?
Ajoelhei-me no chão, com as mãos a cobrirem-me o rosto, e chorei... Chorei como nunca havia chorado antes, naquele momento apenas queria voltar atrás no tempo e dizer a mim mesma para não pegar naquele maldito diário, para o esquecer. A única coisa que desejava naquele preciso momento era ser normal, era ser apenas eu.
Senti uma mão nas costas, limpei as lágrimas que me dificultavam a visão e olhei para trás, por um segundo o meu coração parou, não podia acreditar.
- Annabelle... És o maior orgulho da nossa vida, tornaste-te numa mulher bonita e forte... – Proferiu ela num tom solene, com aquela voz, que apesar de não a ouvir há muito, conhecia tão bem.
- Mãe... – Disse levantando-me rapidamente.
- Annabelle, meu amor, estamos orgulhosos de ti... És a melhor coisas que nos aconteceu. – Disse ele, enquanto tocava suavemente na minha mão.
- Pai... Vocês morreram por minha causa... – Proferi já com as lágrimas a caírem-me dos olhos.
- Está na hora de descobrires a tua verdadeira natureza... Mas o que aqui for revelado, mais ninguém poderá saber, nem a Sarah nem o jovem Jake. - Informou a minha mãe enquanto abria uma espécie de portal.
- O que é isso? - Indaguei.
- Aqui se encontra a fonte dos teus poderes. Aqui descobrirás quem realmente és... - Disse o meu pai enquanto entrava naquele portal. Entrei e a primeira coisa que vi foi um lago, uma cascata, que parecia começar no céu levava a água cristalina para dentro dele, e ao seu redor havia relva e árvores, como se fosse um bosque.
Aproximei-me lentamente daquele lago e toquei na água, uma imagem apareceu. Era eu com umas bonitas asas...
- Pretas?! - Exclamei sobressaltada.- Mas só os anjos caídos é que tem asas negras.
- Olha com mais atenção. - Disse o meu pai.
Olhei então com um pouco mais de atenção para a imagem e foi aí que vi que as asas terminavam num tom acinzentado.
- Annabelle és um anjo muito especial. - Disse a minha mãe.
Depois das palavras da minha mãe, os elementos apareceram: água, fogo, gelo, vento, terra,...
- Eu posso controlar os elementos? – Questionei surpreendida.
- Sim, minha querida. – Confirmou o meu pai.
Levantei-me e olhei para os meus pais, que se encontravam junto um do outro, o meu pai estendeu-me a mão e eu repeti os gestos, mas no momento em que as nossas mãos se iam tocar tudo simplesmente desapareceu, como senão tivesse passado de um sonho.
Quando peguei na espada mais uma imagem apareceu. A mesma espada que tinha na mão estava na mão do homem que estava atrás do meu pai. Então num golpe rápido e frio, a cabeça do meu pai caiu no chão, e então o mesmo homem que atacou o meu pai atirou o seu corpo à fogueira. Vi no fundo uma figura brilhante, parecia ter asas, mas então olhei com mais atenção e consegui ver o meu pai a sorrir.
- Isto é apenas o começo, Annabelle...
Senti algo frio atrás das costas o que me fez virar rapidamente, mas não consegui ver quem era. Olhei para a espada que estava meio congelada, um pequeno sorriso abriu-se na minha cara ao pensar no significado daquelas palavras que acabara de ouvir. Depois de uns minutos de reflexão comecei a caminhar em direção ao pôr-do-sol, de volta a casa. Agora estava tudo muito mais claro.
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Diário do Destino [Em Revisão]
FantasíaIMPORTANTE: O livro encontra-se em processo de revisão. Annabelle Collins é uma jovem universitária que trabalha a tempo parcial numa biblioteca pública em Londres. Numa noite de tempestade, enquanto trabalhava, encontrou um pequeno livro no chão d...