Capítulo 51

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"A gente acaba. Gritando. Sussurrando. Chorando. Matando. Sorrindo. Sofrendo. Sentindo falta. Odiando. Amando. Tudo em silêncio."

— Orquestrando.

Kyle Reyes

Horas depois.....

Percebi que dormi deitado no sofá e nas pernas da minha namorada.

Ela estava acariciando os meus cabelos e dava beijos na minha bochecha.

— Amor — me chamou — Às pessoas devem estar chegando — avisou.

— Me desculpe por pegar no sono, no seu colo — pedi.

— Não tem problema nenhum — falou.

Esfreguei os meus olhos, então me levantei, pra ir dar uma lavada no meu rosto.

Percebi que ainda estávamos na casa dos avós da minha namorada, bati na roupa dando uma leve ajeitada e fomos de mãos dadas até o cemitério dos lobos e ambos estávamos em silêncio.

Percebi que o local estava cheio de lobos, já que era proibido a entrada na forma humana e também quem não fazia parte da nossa raça não podia participar do enterro, por ser um local sagrado.

Por ser a minha namorada, Melanie tinha total direito de estar ao meu lado na sua forma humana.

Percebi que o Juan e o Johnny estavam na minha frente, ambos são lobos preto e marrom respectivamente.

Mas senti falta dos meus cunhados, tenho certeza que se sentem culpados por não estarem aqui me dando forças.

Mesmo sendo o novo rei, não posso mudar uma regra de séculos.

Vejo a minha mãe chegando, ela estava usando um macacão longo preto que nas mangas era rendado com flores e um salto preto.

Seus cabelos estavam soltos e molhados, usava um batom vinho escuro e uma sombra preta nos olhos.

Seu olhar passava uma certa frieza que me fazia sentir até mal.

Como de costume o próximo rei tinha que fazer um pequeno discurso, não pensei em nada específico, me sentia um pouco de medo, mas sentir a Mel apertando às minhas mãos me trouxe segurança.

Mas, no fundo não queria ir primeiro, então direcionei o meu olhar para o Juan, ele entendeu que eu estava pedindo pra ele vir primeiro.

Ele deu uma sumida e depois voltou vestindo um terno preto e os seus cabelos estavam bem bagunçados.

Ele subiu no palco no centro do altar e pegando o microfone.

Ele estava usando óculos escuros pra poder esconder os seus olhos vermelhos de tanto chorar.

— Apesar de não ser o novo rei, ele era o meu padrinho, foi um homem admirável que seguirei todos os ensinamentos que me passou — Juan falou — Citarei uma frase de um filme que vi com a minha namorada esses dias atrás, o nome dele era Life in a Year — explicou — Todo mundo pensa que morrer te ensina algo sobre a vida, mas eles estão errados; O único jeito de aprender sobre a vida é vivendo; E eu aprendi que cada momento pertence a você; Às vezes os momentos são conturbados, às vezes são lindos, ou assustadores, ou simplesmente estranhos; Mas eles são seus; Aproveite-os; Viver não é fácil, mas se você conseguir superar os seus medos e as expectativas de todo mundo, a recompensa é a sua vida; E na minha vida, eu fui amada. — recitou, ele retirou os óculos e fechou os olhos por um momento — Descanse em paz padrinho — falou saindo entre os choros do palco.

Mel se aproximou dele e lhe dando um forte abraço.

Os lobos começaram a uivar, agora não tinha como adiar, agora era a minha vez.

— Me lembro claramente das palavras do meu pai, foi quando ele se atrasou pra apresentação dos pais, quando ele chegou ja acabei, lembro que fiquei com raiva, ai ele me fez um breve discurso - falei respirando fundo — Kye quando você nasceu vi ser pra ser grandioso, desde que peguei você nos meus braços pela primeira vez, eu senti que seria um rei melhor do que fui — falei me segurando pra não chorar, precisava terminar de dar o meu discurso, sei que meu pai ficaria orgulhoso de mim, pensei em um filósofo que ele gostava ou até mesmo uma pequena citação — Quando tinha 7 anos, lembro me que meu pai me presenteou com o livro do "O Príncipe" do escritor "Nicolau Maquiavel", fiquei muito admirado com aquele livro em si, lembro que marquei vários trechos, mas um em especial era o favorito do meu avô e do meu pai — explicou — "Para bem conhecer o caráter do povo, é preciso ser príncipe, e para bem conhecer o do príncipe, é preciso pertencer ao povo." — citei — Isso fazia total sentindo, naquele dia dos pais ele ter se atrasado, ele tentava conhecer melhor o seu povo e assim ajuda — lo no que precisavam, colocava eles acima até mesmo da sua família, ele era assim e mesmo assim me ensinou tanta coisa, obrigado pai por tudo — finalizei o discurso.

Ouvi os uivos dos lobos e algumas saudações para o novo rei.

Vejo a minha mãe se aproximando de mim, ela apenas deu um tapinha nas minhas costas, sussurrando que ficaria tudo bem.

Ela começou a fazer o discurso de uma rainha viúva, ela chorava tanto que o seu rímel escorria pela sua fase.

A única coisa que fiz foi correr para os braços da minha namorada, ambos ficamos abraçados em silêncio.

Minutos depois...

Todos que estavam se transformando em lobos, agora em típicos humanos, enterrando o rei na cova real, onde 20 gerações de rei e rainha de sangue nobre foram enterrados.

As únicas coisas que fiz, deixou as lágrimas caírem sem cessar e os súditos ao meu redor fizeram o mesmo.

— Saímos daqui, deixe que falem com a minha mãe — pedi — Eu não aguento mais ficar aqui — falei me sentindo sufocado.

— Ta bom — Minha namorada concordou — Iremos pra casa dos meus irmãos — sugeriu — Eles estão se sentindo culpados por não terem falado com você ainda — explicou.

Minha namorada, meu melhor amigo e eu seguimos em direção ao carro da família real, pedi ao chofre para nos levar até a residência dos Bennet.

Minutos depois.....

Pedi ao chofre pra não dizer a ninguém onde eu estava, apertei a campainha da casa deles, esperando algum deles abrirem a porta.

Escuto passos se aproximando da porta, pelo jeito de pisar e o cheiro da colônia masculina, dava pra saber que era o Nathan.

Ele estava usando uma camiseta azul-escuro de mangas longas e gola alta, calças moletom cinza e um sapato marrom.

Seus cabelos estavam bastante úmidos e parecia que eu tinha acabado de sair do banho.

— Meus sentimentos, cunhado — Nathan falou me dando um forte abraço.

— Obrigado cunhado — agradeci.

— Ah que bom que chegaram — Jess falou saindo da cozinha.

Percebi que nas suas mãos tinha uma bandeja que continha um bolo redondo de fubá e chocolate quente.

Ela colocou em cima da mesinha, ambos nos sentamos no sofá, apesar de não sentir fome, resolvi comer, afinal ela é uma ótima cozinheira e faz doces incríveis.

— Sinto muito pelo seu pai, querido cunhado — falou dando um forte abraço e um beijo na minha bochecha.

Percebi que Jess estava usando um cropped de mangas longas, calças jeans branca e uma sapatilha cor vinho de lacinho fofo.

Seus cabelos estavam numa trança lateral exibindo mostrando seus brincos de argola dourados.

Ela se sentou ao lado do Juan com um sofá pequeno na frente da mesa, já eu estava no meio de Mel e Nathan.

Ter os meus amigos do meu lado era reconfortante, ambos estavam tentando me distrair com assuntos aleatórios.

A Cinderela Dos Lobos (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora