Tentar Outra Vez

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                       JEAN

   Depois que a Camila foi morar com o policial, passei a beber desesperadamente, não conseguia ficar em casa, sentia o seu cheiro, o gosto, escuto seu riso e seus gemidos de prazer. Apesar de tanto tempo de relacionamento só agora, só depois que a perdi, vim perceber que a amo. Já tive vontade de bater na porta da casa do infeliz, gritar para ela, que a amo, não fiz por medo de ver que realmente ela está feliz com ele, ver que eu nunca a fiz feliz de verdade. Estou em casa na garagem com o som ligado, tentando me afogar na bebida, deixando meu chifre arada o chão, se a dor fosse só no cotovelo era bom, mais não tinha um canto do meu corpo que não doesse. Eu faria tudo para te-la de volta. Bebi tanto que não consigo por me de pé. Deito-me no chão fico olhando o teto. Roendo escutando uma “moda” mais sofrida que a outra.

— Eu te amo porra... — o bebum aqui diz antes de cair no sono.

            CAMILA

   Desço do táxi de frente a minha antiga casa, não sei o que me espera, não sei como Jean vai reagir, também não sei o que dizer. E se Lívia estiver com ele?
Se ele realmente gosta dela? Será que eu errei em ter vindo pra cá?
Estou parada na  frete da porta, cadê a coragem? Cadê essa bendita quando se precisa dela? Estou tremendo, soando frio, estou com medo do que pode acontecer. Rezo em pensamento, toco a campainha, uma, duas, três e nada. Seguro na maçaneta da porta e a giro. Porta destrancada? Isso não é nada o feitio do Jean, ele não gosta de deixar porta aberta. Pode ter sido Lívia ou outra mulher que ele pode esta saindo. Ponho minha bolsa sobre o sofá. Percorro o corredor, escuto o som ligado com aquelas músicas de roer até quem não esta roendo.

— Ele esta bebendo. — constato. Anos atrás, uma vez nos separamos por causa de uma briga, Jean tomou um porre e passou a noite me ligando, quando o dia estava amanhecendo, acordei com ele com o carro do pai dele parado na porta da minha casa, tocando uma musica que graças a deus eu agora não lembro, só lembro que era sertanejo, sofrido. Ele para completar o show, ainda cantou a musica até o final em cima do carro, com direito a coreografia e tudo. Sorrio com as lembranças. Chego a garagem nada de Jean, chego perto do som desligo, um gemido me chama a atenção, vou me aproximando devagar e lá esta ele, Jean esta jogado no chão, bêbado, sem camisa, só com um short tactel. Sorri ao vê-lo neste estado. Ajoelho-me sacudo o chamando varias vezes. Nada dele acordar.

— É né!? Eu tentei acordar você por bem, mas como você não quis... — me afasto, pego o balde com gelo que estava sobre a mesa, derramo todo encima dele.

— Ham? O que? Vamos morrer afogados? — juro que não aguentei, cai na gargalhada, Jean me olha confuso, olha algumas vezes, coisa que me faz rir ainda mais. Levanta com muita dificuldade, eu o ajudo para evitar a queda.

— Calma vem cá. — segurando-o.

— É você mesmo Camila? É você mesma ou eu to tão bêbado que já tô vendo e sentindo coisas? — pergunta com essa voz engraçada de bêbado, bate na própria face.

— O que é isso Jean? Sou eu mesma, calma, para de se bater. — digo segurando as suas mãos.— Vamos, você precisa de um banho e cama. — me olha com uma cara que era para tentar me seduzir, mais acabou sendo uma coisa muito estranha e engraçada. Vou rebocando esse mutante quase arrastado para o banheiro do quarto. O banho foi algo difícil, ele me molhou toda, ainda tentou me agarra, me afastei, depois de muito empurra-empurra consegui banhá-lo. Antes de sairmos ele se afasta de mim rápido e coloca tudo para fora, pelo o jeito vai ser uma noite daquelas. Me afasto por que também estou com enjôo, corro para o meu quarto, coloco o mundo para fora, minutos depois, mais recuperada vou até o quarto que deixei Jean. O mesmo ainda esta no banheiro.

— Jean? Tudo bem? — pergunto parada na porta do quarto.

— Não. — percebi logo que não era bem vinda, saio do quarto, fechando a porta atrás de mim. Volto pro meu quarto, tranco-me, tomo um banho, depois de vestida, volto para a entrada da casa e coloco as minhas malas para dentro, mas caso alguma coisa aconteça, deixo elas encostadas ao lado da porta. Volto pro meu quarto porque amanhã será um dia daqueles.
Acordo no dia seguinte com o cheiro de café que esta dando vida a casa. Depois de pronta desço, vou direto para a cozinha, Jean esta de costas pra mim. Ele só usa um short jeans azul marinho, pés descalço, cara de ressaca.

1 ano e nada maisOnde histórias criam vida. Descubra agora