Capitolo Ventidue

86 7 0
                                    

Minha tia mora em um subúrbio onde todas as casas são iguais e brancas, mas ela fez questão de pintar a dela com uma cor verde fluorescente, típico da família ter essa necessidade artística com as coisas sem graça. A escola fica um pouco longe, já que os bairros residenciais em Nova York costumam ser perto de áreas mais amplas e sofisticadas, e a minha antiga escola era mais perto da minha antiga casa do que daquele lugar. A escola me aceitou de volta, seria mais fácil voltar para lá do que transferir meus documentos para outra, isso só me fez ficar menos feliz para voltar.

— Minha bicicleta está na garagem, você pode usá-la quando quiser — tia Katie disse enquanto comia seus waffles.

— Ainda não acredito que você ainda não tirou sua habilitação para dirigir — comentou Nolan, que parecia jogar tudo que tinha na geladeira em seu shake de proteínas.

— Nunca tive condições de ter um carro — respondi.

Tia Katie sorriu para mim.

— Se inscreva nas aulas de direção e se você passar darei um carro como presente de aniversário.

Minha bolsa quase caiu do meu ombro ao ouvi-la dizer isso.

— Não será necessário. Eu tenho um pouco de dinheiro que ganhei trabalhando com o meu pai no hotel, dá pra dar de entrada em um usado.

— Mona, você sabe que fazer dezoito anos não é pra qualquer um, quero lhe presentear com um carro novo e você não pode dizer não.

Ela tinha razão, se eu dissesse não, era capaz dela comprar o carro hoje mesmo.

— Tudo bem, vou para a escola.

— Não se esqueça que sempre deixo a chave naquela pequena estatueta no jardim e que se precisar de algo para comer enquanto não chegarmos você pode usar o dinheiro do pote de apostas.

Concordei, olhando diretamente para o pote de apostas que ela e o marido costumam depositar dinheiro. É uma forma de entretenimento de casal que eles têm.

— Tia Katie, você já me disse isso.

— Não custa falar novamente, certo? — Sorri para ela e saí da cozinha. — Boa aula.

Encontrei uma bicicleta amarela encostada em um canto da garagem e coloquei minha bolsa sobre o pequeno cesto na frente. Dirigir um carro nunca me daria a sensação gostosa de sentir o vento como pedalar uma bicicleta. Por mais chamativa que seja, era um bom meio de se chegar na escola a tempo com a vantagem de poder me desviar dos carros com facilidade.

Era incrível ver que todos ainda se lembram de mim naquela escola. Andei pelos corredores ouvindo os sussurros e segui diretamente até a sala do diretor. Um senhor calvo e com uma pequena pança, que sempre supus ser de tanto tomar cerveja.

— Srta Brighten, que bom tê-la de volta — disse ele quando fechei a porta atrás de mim.

— Terei meu armário de volta? — perguntei indo direto ao assunto.

— Infelizmente não, mas temos o armário perto do bebedouro disponível, sei que os alunos adoram aquele lugar e é muita sorte sua conseguir aquele armário.

— Certo.

— E acho que não preciso revisar com você as normas da escola, certo? — ele se aproximou mais da mesa, tentando reforçar suas palavras.

— Aquilo que aconteceu antes, ela falou da minha mãe e eu...

— Sem agressões, Srta Brighten.

— Claro — concordei.

Ele sabia que eu tinha batido naquela garota porque ela falou sobre minha mãe alcoólatra.

MONA LISA {JB} ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora