DA VINCI I

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Esse capítulo faz parte de contos que postei no tumblr (davincicontos.tumblr.com) a pedido de leitores curiosos para saber o ponto de vista do Justin. E podem aparecer entre os capítulos, porém não são muitos.
Espero que gostem! 💋
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J U S T I N

Estava completamente abalado.
Era estranho pensar que a garota com o nome da pintura de Da Vinci havia despertado em mim um sentimento que parecia ter morrido.
Seus olhos verdes demonstram curiosidade e, às vezes, eles são frios como se toda a inocência tivesse sido roubada deles. A forma como ela fala, como se fosse uma pessoa mais velha dando um conselho para uma criança. Isso me fascina. Ela é tão misteriosa e audaciosa, mas tem uma forma de me censurar que é totalmente irritante, pois, na maioria das vezes, ela têm razão.
E eu a pintei.
Era loucura ficar pensando nela o tempo todo. Visualizar seu rosto perfeitamente em minha cabeça e não fazer nada. Tive a necessidade de colocar tudo isso em uma tela e jogar toda os meus pensamentos sobre essa garota... transformar meu turbilhão de sentimentos em pinceladas fortes e tentar acalmar meu coração depois de extravasar tudo em um novo quadro.
Passei a noite em claro, pintando com tanta determinação que quando chegou a hora de ir para a escola, estava totalmente exausto e só saí do quarto porque ouvi passos no corredor e o meu nome sendo chamado com um sotaque russo.
Na escola, a encarei no refeitório. Ela tinha um sorriso bonito, seus dentes não eram perfeitamente alinhados como os de Isabel, mas esse defeito era charmoso.
— De olho na Mona Lisa? — Chaz sussurrou para mim.
Assustado, fingi estar olhando para algo além dela. Um cartaz do baile.
— Estava lendo o cartaz do baile — disse indiferente.
— Você vai? — perguntou alto, fazendo todos da nossa mesa nos encarar.
Mordi o lábio inferior e cocei a nuca.
— Talvez.
Caitlin sorriu e Ryan ao meu lado deu um empurrão no meu ombro contente.
— Todos iremos. Vai ser divertido — falou Chaz, dando tapinhas em minhas costas e de repente ele parou e fitou minhas mãos. — Sua mão está suja de tinta.
Olhei para elas rapidamente. Meu dedão estava com uma mancha verde.
— Devo ter passado a mão em algum lugar com tinta fresca.
Depois disso, esfreguei minhas mãos uma na outra tentando tirar a mancha.
...
Pensei que se me distraisse com o churrasco, acabaria passando a impressão de estar aproveitando a festa. Mas Chaz convidou ela.
Fiquei tentado a ir embora, só que Chaz me faria ficar e eu também tinha que ter mais presença nas festas dos meus amigos, pois eles se esforçam muito para que eu me socialize novamente. Tenho que passar a impressão de que ainda não me sinto mal pelas coisas que passei.
Até que ela vem falar comigo.
Parecia receosa e foi ai que me lembrei de ter sido rude da última vez que nos vimos.
Primeiramente, era irritante te-la nas pedras, o lugar que pensei que seria só meu. E ainda por cima, ela, além de descobrir as pedras, descobriu a caverna. Me pergunto o que a fez ir para lá.
Várias coisas passaram pela minha cabeça. Mas a garota veio apenas pegar churrasco.
— Tem algum prato para que possa enchê-lo? — perguntou.
Olhei para ela e apenas apontei para o lugar onde estava os pratos e ela começou a encher um deles com linguiça.
— Não sei o que aconteceu naquele dia, mas...
— Tudo bem — a interrompi. — Só quero que prometa que não aparecerá lá novamente.
— Não vou aparecer — ela disse, um pouco triste. — Vou até as pedras apenas para observar o pôr-do-sol. Nada mais me interessa.
Fiquei aliviado por ela não estar mentindo. Mas a fiz prometer:
— Quero que prometa também que não contará sobre isso a ninguém.
— Não contarei. As pedras é o único lugar que fico sozinha para pensar... ou quase — completou.
— Você ainda não disse 'eu prometo' — insisti.
— Eu prometo. Satisfeito?
Sorri para ela e assenti. Fui muito breve em minhas respostas, mas tentei ser gentil e deixei claro que a havia exagerado, mas não disse claramente, apenas tentei amenizar a situação. Mas depois, me arrependi por ter dando uma fagulha de esperança. E se ela estiver gostando da minha companhia? E se eu estou em sua cabeça assim como ela está na minha?
Em questão de segundos, enquanto eu tentava evitar ter pensamentos do tipo, Chaz apareceu e pegou Mona Lisa no colo. Ele ria enquanto andava até a piscina ao som de todos gritando "joga, joga, joga" Ela parecia desesperada. Senti sua aflição e aquilo se tornou insuportável de se observar.
Larguei tudo que estava em minhas mãos e fui correndo até Chaz, que balançava Mona Lisa na beirada da piscina. Ela estava tremendo. Parecia uma criança com medo do escuro.
— Solta ela! — ordenei.
— É só uma brincadeira, cara — Chaz respondeu, rindo.
— Olha só como ela está tremendo, acha que isso está sendo engraçado para ela?
Chaz olhou para Mona Lisa e então se deu conta do quanto ela parecia assustada. Ele entrou em casa e todos ficaram surpresos com a reação de Mona Lisa, mas logo voltaram a conversar.
Depois de um tempo, decidi que não estava me divertindo como o churrasqueiro da festa. Por mais que todo mundo vinha conversar comigo alegre, eu não tinha a mesma empolgação. Avisei ao Chaz que ia usar o quarto dele para trocar de roupa e ir embora, mesmo ele insistindo para que eu ficasse.
Andei pelo quarto, procurando minhas roupas e comecei a me despir. Até ouvir um barulho e flagrar uma garota me olhando, ela fechou a porta antes de dizer qualquer coisa. Terminei de vestir a calça e corri para abrir novamente a porta.
— Aqui não é o banheiro, né? — perguntou, ruborizada.
Mona Lisa me encarava, e eu tentei não rir do seu constrangimento.
— Sinto muito, eu estava procurando o banheiro.
Não me importava de ela ter me visto nu, e não nego que aquela situação era divertida, mas tinha que ser ela?
Apontei para a porta do banheiro:
— Ali está o banheiro, mas também tem um lá em baixo — falei.
— Chaz disse que era a última porta do corredor.
Ri debochadamente. Já deveria ter imaginado que tinha o dedo dele nisso.
— Claro, tinha que ser o Chaz.
E ela fechou a porta.
A primeira coisa que fiz assim que Mona Lisa saiu, foi rir. Depois pensei nos planos de Chaz e decidi contrariá-lo.
...
Pode parecer errado. Mas eu não podia dar nenhuma esperança a ela. Mona Lisa está me conquistando e mesmo eu tendo recusado todas as suas formas de falar comigo a ponto de começarmos uma amizade, ela ainda acredita que isso irá acontecer. Percebi isso em seus olhos, quando conversamos.
Foi então que avistei uma garota loira. Lembro-me de tê-la visto algumas vezes. Ela era bonita. E fui conversar com ela. Essa era a minha chance de dizer aos meus amigos que sou que escolhe quem vou beijar e não um bando de intrometidos.
Não tinha mais a facilidade que tinha antes em manter um flerte. Por isso, a beijei na primeira oportunidade que tive. Ela beijava bem e por um momento, senti uma parte de mim ganhar vida e tive a ligeira sensação do meu antigo eu. Adorava beijar, fazia isso tão bem. Senti saudades dessa sensação gostosa.
Sei que todos estavam encarando e essa era a minha intenção. Espero que ela tenha visto e que perceba que a minha intenção era fazê-la desistir de qualquer esperança comigo. Não aguentaria sofrer novamente por uma garota.

MONA LISA {JB} ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora