– O que é uma Controladora? – dirigiu o olhar ao professor, exasperado – Pare de tirar a pele dela como se fosse um bicho!
Lima foi acometido por receio ao perceber a irritação do feiticeiro, que agora tinha os olhos de um vivo vermelho púrpura, como se as íris queimassem. Fingiu não perceber a transformação, concentrando-se no colega de quarto.
– Controladores são abençoados com mais de uma capacidade mágica, pertencendo a mais de um grupo da Escola, podendo ser Filho da Noite, Iluminíade, Leviantari e Transmorfo, além dos grupos de apoio, que têm menos destaque. Todos os Controladores registrados possuíam QI maior que 240 – Astrid falava rápido, era difícil acompanhar.
O aluno mais velho respirou fundo.
– Leo, precisamos estudá-la para descobrir o que ela é. Sabe muito bem que a identificação leva até um mês para ocorrer e as consequências da ausência da mesma. Principalmente na filha da fundadora-mor. Antes todos os feiticeiros agiam por conta própria, e quando faziam isso, eram caçados. A mãe dela mudou isso. Devemos essa contribuição à memória de Patricia.
Leonardo sentiu-se envergonhado. Apesar de mais velho, Lima sempre fora o irmão que nunca teve, para todos os momentos, mas mesmo assim portava-se como Freud, com calma e maturidade estimáveis.
– Perdão, professor. Não foi a intenção ofendê-lo.
As desculpas não foram suficientes para relaxar o outro, que tomou em mãos uma pastilha recém retirada do bolso do sobretudo, engolida a seco.
– Saiba onde é seu lugar, Sampaio. Eu sou a autoridade. Você é um bom aluno, nada mais – inclinou-se e fitou-o compenetradamente, as íris negras a devorar o peito do rapaz – Se deseja demonstrar seu valor, não ouse pela arrogância – e então recuou, a coluna perfeitamente reta – Na próxima, será punido severamente. Por ora, um dia suspenso.
Astrid trocou uma breve olhadela com o professor de tecnologia assim que o outro deixou-os, logo quebrando a tensão, que se desfez perante um largo sorriso.
– Bom, nota-se que tem desempenhado seu papel de protetor muito bem – a risada estridente preencheu o salão, em ecos – Fique tranquilo, senhor Sampaio, Marcos apenas deu um empurrãozinho para que se acerte com a moça.
Estranhou ouvir o primeiro nome do “Conde Drácula”, apelido pelo qual os alunos costumavam chamá-lo às costas, por sugar até a última gota de sangue de todos nas provas. Não literalmente, é claro.
– Bem, já que os assuntos foram resolvidos... – Maria levantou-se – Declaro a reunião como encerrada. Podem voltar à seus afazeres.
Lima carregava a novata junto à si, os braços apoiando-se nos joelhos e braço esquerdo da moça, cuja cabeça quicava na omoplata do rapaz enquanto este caminhava. Leo seguia-os ao lado, indignado. O amigo repreendera-o assim que tentou levantar a ex-vizinha, alegando não estar em condições de esforçar-se após a cabeça colidir com o asfalto.
Virou à direita no corredor, passando por uma enorme janela branca cuja vista mostrava as pessoas que caminhavam com seus animais na orla, à distância.
O caminho que percorriam não tinha como destino os dormitórios duplos, tampouco os que remetiam aos quatro grupos e aos que destinavam-se a apoiar estes últimos. O loiro seguia à Grande Biblioteca em passos largos, sem proferir uma palavra.
– Ei, por que estamos indo para a biblioteca? – Santiago perguntou.
Assim que percebeu que não seria respondido, suspirou e centrou-se em seus próprios pensamentos. Precisava descobrir quem era o tal Codinome. "E que diabo de nome de vilão é esse?", pensou.
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The Dark Crystal
MaceraAlice vivia com o padrasto em um bairro na zona sul de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, até que, em seu aniversário de dezesseis anos, foi forçada à fugir. Eventos aparentemente inexplicáveis acontecerão no que parecia ser uma cidade tranqui...