+TWENTY_SEVEN+

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Levei ambas as mãos à garganta, como se a causa da minha falta de ar fosse eu mesma. Como se eu me estivesse enforcando.

Ajoelhei no chão por segundos, me levantando num pulo de seguida, não querendo manchar o meu orgulho. Uma gota de água não me transbordaria.

Olhei com ódio. Nem sei de qual deles tinha mais ódio. Se de Jimin, se de Yoongi.

- Está tudo bem?
Taehyung correu para o meu lado, colocando delicada mas firmemente as mãos envolta dos meus braços. O empurrei abruptamente, num ato insensato e impulsivo.

Está tudo bem?! Que pergunta mais inconveniente e óbvia. Incrédula.

- O que ele faz aqui?!
Nem eu consegui decifrar se minha frase fora uma pergunta ou afirmação.

Yoongi se atreveu a dar um passo em minha direção. Notei pelo canto de meu olho, por chamar minha atenção subitamente, a postura de Jin se tornar severa. Os restantes não se atreviam a mover um músculo. Jungkook incluído.

Nesse momento, ao ver suas expressões, toda a raiva sucumbiu. Tive reconsideração por eles. Aliás, eles não estavam metidos nisto, não tinham de assistir a tal cena. Respirei fundo.

- Está aqui como qualquer outro. Ele também é do nosso grupo.
Yoongi responde.

Eu poderia gritar, chorar, suplicar para que ele fosse embora. Mas não o fiz. Limitei-me a perguntar:
- Porque vieram para cá, todos vocês?

- Queríamos fazer parte. Nós sempre fizemos tudo juntos, não é mesmo Jungkook?
As posturas e expressões dos restantes suavizaram, com a declaração de Yoongi.

Foi um ato descarado de sua parte. Após saber o meu desgosto pelo meu irmão horas atrás, me lamentando nos braços de Jin, decidiu me encurralar com ele.

Olhei uma última vez para Jimin, desta vez sem ódio aparente, mas acredito que ele podia ler todos os pensamentos que a minha mente produzia e acumulava. Pois eu vi sua expressão mudar drasticamente para oprimida.
Ele engoliu a seco e penteou o seu cabelo. Com isso, me sentei de costas, no balcão. E lá permaneci, quieta.

🕰⏳⌛️📺

Um som invade completamente o lugar, abafando as conversas interditas dos meninos.

- Conseguimos!
Seokjin abraça Hoseok, e ambos pulam. A televisão produzia música para os seus ouvidos. Literalmente, pois estava num canal de música clássica.

- Falta mudar de canal. Jungkook, você tem um controle?
Jungkook, se retirando da conversa entre Namjoon, Yoongi e Jimin, vai até à televisão, abrindo um compartimento no fundo, no qual expos alguns botões negros.

Para aumentar ou diminuir o som, mudar de canal, e muitas outras funções desinteressantes para os restantes.

- Não apanha muitos canais, mas talvez tenham sorte.
Ele refere, apontando para os botões que eles necessitavam focar.

Taehyung estava ao meu lado, ainda sentados no balcão, no entanto ele dormia.

Bela adormecida.

- Não entendo esse seu ódio pelo Jimin.
Ouço.

- Não entendo essa sua serenidade.

Jungkook riu, colocando as mãos no bolso.
- A culpa não é dele se seu pai lhe bateu. Acredito que até ele se sinta culpado.

Fiquei surpreendida por Jungkook conhecer sequer o conceito de culpa.

- Me desculpe? Tudo começou porque ele decidiu comentar que eu não amava minha mãe biológica.

- Você é muito... agressiva. Talvez a paciência dele tivesse esgotado, tal como a tua.

Rosnei por entre os dentes, olhando para Taehyung dormindo pacificamente.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, até ouvir Jeon suspirar.

- Quer ir lá fora?
Ele propôs por fim. Concordei e, após passar a minha mão pelos cabelos claros de Kim, segui Jungkook até à entrada.

O clima estava obviamente gelado. O sol ainda não nascera, apesar de duvidar que esteja longe de o acontecer.
Sempre que expirava, um fumo branco se formava e dispersava na minha frente, consequência das temperaturas negativas. O facto de eu não ter tirado o casaco dentro da casa, arrefeceu o meu corpo brutalmente. E, mais uma vez, me arrepiei.

Jungkook parou na minha frente, encarando o chão com lábios comprimidos um no outro.

- Fui eu que pedi ao Yoongi para trazer Jimin.
Ele diz me olhando nos olhos, como se estivesse estudando minha reação.
Me mantive em silêncio, ouvindo apenas o barulho causados pelos meninos, através das paredes.

- Eu até poderia acabar com ele eu mesmo. Mas não consegui, ele é meu amigo. Então a forma mais fácil era fazer você se redimir com ele.

Ele fala inocentemente. Acabar com ele?

- Você está me colocando numa situação complicada. Escolher você ou meu melhor amigo?

- E porque não escolher os dois?
Digo olhando para o cimento. Minhas palavras eram ásperas.

- Estou tentando.

Eu poderia ficar zangada com Jungkook. Afinal, não foi culpa de Yoongi por Jimin ter vindo. O culpado era Jungkook.
Penso estar demasiado cansada.

O ódio é passageiro.

- Falta mais uma coisa.
As suas palavras saíram nasalmente, como se ele estivesse contendo as mesmas. Como um animal se controlando para não devorar a sua presa.

Olhei para baixo, entre suas mãos estava uma arma negra como seus olhos, e ele a apertava fortemente.
O encarei com receio e terror, a minha boca abria mas nenhuma palavra saia. No meu caso, eu não as estava a conter, elas simplesmente não queriam sair.

Como eu conheço Jungkook, sei que hesitar é um erro. Corri para dentro da sua casa, desta vez realmente tropeçando nos degraus da entrada. Me levantei com um gemido sussurrado, tocando no meu joelho, onde gotas de sangue marcavam essa área das calças.

Não olhei para trás, mas sabia que Jungkook ainda me observava com os seus olhos de carvão sem brasa, na rua.

Ao entrar, corri para Taehyung ainda dormindo no balcão. Abanei fortemente mas ele não se moveu. Tossi.

Olhei em volta, e decidi que preferira levar um tiro. Apenas para não presenciar a cena. Tossi.

Jin estava no chão, pálido que nem o cal.
Hoseok ainda no sofá, descaído para o lado. Reparei que estava em posição de fuga, mas o seu plano obviamente não sucedeu.
Yoongi, por sua vez, se encontrava inconsciente atrás do sofá. Do meu campo de vista, apenas via uma de suas mãos com a pulseira negra e fina de cabedal no pulso da qual ele nunca retirava.
Namjoon conseguiu chegar mais perto da saída. O seu limite foi o balcão, onde ele tentou, assumi, desesperadamente acordar ou levar Taehyung. Ele sempre fora bem rápido a tomar decisões, mas esta fracassou.
Ajoelhei no chão tossindo, com lágrimas nos olhos.

O que chegou mais perto, mesmo atrás da porta de madeira, foi Jimin. Por isso eu não o ver quando entrei, ele ficara inconsciente segundos antes de abrir a porta para a sua salvação.
Rastejei até ele, e surpreendentemente, senti remorsos. Com mãos trêmulas, penteei os seus cabelos lisos por ele. Limpei o meu campo de visão, e coloquei a palma molhada na sua face pálida. Os seus lábios estavam roxos.

Agora é que a minha família me vai odiar.
O que farei eu agora?

A minha fértil imaginação já me torturava. Meus irmãos de preto. Eunji chorando compulsivamente, os seus gritos estrondosos. Sunju engolindo seco, com lágrimas contidas. O Pai agarrando a camisa de lã, que Jimin tanto gostava. Me culpando.
Minha mãe susurrando no meu ouvido, vindo dos céus, de que eu ficarei fiel e solenemente com a solidão.
E Jimin, de olhos fechados. Sem vida.

O caixão é enterrado, e com ele vai Jimin. Tal como Yoongi, Taehyung, Namjoon, Seokjin e Hoseok.

Demasiado doloroso.

•Psycho• >> JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora