CONTENÇÃO

1 O Dia da Escolha

Meu avô sempre me dizia que eu deveria valorizar o simples fato de estar viva. Que os tempos difíceis também chegariam para mim, e na hora certa eu precisaria ser forte.

No início, eu não entendia muito bem o que aquilo significava. Cresci em barreiras rigorosas e tinha o momento certo para se aprender qualquer coisa, sempre com o acompanhamento de meu pai.

No ano de 2056 , o planeta entrou em estado de alerta máximo. Um vírus altamente poderoso foi exposto em uma usina nuclear , na Jordânia , no Oriente Médio.

Se alastrou rapidamente pelo mundo todo. Os países criaram muralhas de proteção, mas nem todos conseguiram conter o vírus.

O vírus C2056 era transmitido para um novo hospedeiro através do contato com o DNA, seja ele uma mordida, ou arranhão. Caso fosse infectado o corpo resistiria por cerca de uma hora, para então, logo depois, você se tornar um deles: se tornar um Cruel.

Nunca havia visto um Cruel pessoalmente; as figuras nos livros eram  suficientes para me botarem medo e , mesmo assim, eu tentava sempre descobrir mais a respeito. Era inacreditável aquilo que nos transformávamos quando infectados.

A geração dos meus avós presenciaram a liberação do vírus. Antes dele o mundo era normal, era vivo. Meus pais me ensinaram tudo o que eu precisava saber; suas instruções básicas de sobrevivência foram me tornando cada vez mais confiante, segura de mim mesma.

Porém, todos os meus conhecimentos de sobrevivência não passavam de primeiros socorros. A realidade lá fora era outra.

O nosso refúgio Garden, antes conhecido como Los Angeles, sul da Califórnia, era um dos poucos que tinham as melhores barreiras que cercavam a cidade. Porém, a segurança da cidade não dependia só dos concretos reforçados e portões blindados. Ao redor do grande muro várias bases do antigo exército nos guardavam de todo mal lá fora.

Ainda assim nada disso impedia que pessoas morressem, que novos infectados a cada dia reforçassem o mundo Cruel  . Meu coração aperta em lembrar que ainda existem pessoas sobreviventes fora desses muros que precisam da nossa ajuda.

Para isso os julgadores,  pessoas mais importantes do planeta responsáveis pela ordem e justiça, criaram a "Caixa": uma ilha de treinamento rígida e completamente isolada no Alaska. E , a cada 5 anos, cada refúgio de todo o mundo era obrigado a enviar 5 jovens para lá , com o intuito de reforçar as equipes de busca por sobreviventes em áreas hostis infectadas de Cruéis.

Era como uma pena de morte.

Quando eu tinha 18 anos vi meu irmão ser selecionado. A tristeza caiu sobre nossa casa quando ele partiu. Eu percebi então que qualquer um estava sujeito a isso e meus pais temiam que meu destino fosse o mesmo. Mas eu soube que, pelas leis vigentes,  irmãos não são chamados.

Quando a nova seleção foi dada início, assisti a transmissão no telão do parque junto a centenas de pessoas.

Aos 23 anos sentia o medo de uma garotinha, a mesma que se assustava com as figuras de Cruéis. Eu segurava a mão de minha mãe esperançosa.

De forma robótica e para meu espanto, vi meu nome sair dos lábios secos de um membro dos julgadores. Sustentei o peso de minha mãe quando desabou ao meu lado. Meu pai a acodiu e manteve sua postura firme como a sociedade exigia de um homem de família, no entanto suas lágrimas rolavam pelo rosto enrugado e sofrido pelo sol de forma silenciosa e agonizante pois , além de tudo, isso poderia significar a morte de Jeffrey.

Quando subi no helicóptero que me levaria até a Caixa junto aos outros quatro selecionados algumas horas atrás, deixei meu coração em Garden e, consequentemente , minha esperança também.

Em meu quarto um último bilhete:

" Mãe, pai.
Hoje é um novo dia. Guardo vocês em meu coração. Prometo a vocês que, após encontrar Jeffrey, darei tudo de mim para sermos novamente uma família.
Com amor , Jennifer."

E guardei minha alma lá.

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boa leitura! Amanhã tem mais um.