Jennifer
Agora sim estou quebrada. Não tem como contar quantas vezes eu caí. Que o treino é duro , eu até entendo, porque a situação de resgate é difícil. Eu só não entendi porquê a dona Cookie ficou junto a mim , de braços cruzados e pernas abertas, com aquele sorriso escandaloso nos lábios. Aliado a isso, minha pouca resistência estrutural de cálcio nos ossos, em virtude da escassez de produtos de origem animal... Chego a imaginar que tenho osteoporose.
Nem cheguei a pensar que era simpatia. Porém depois comecei achar bem macabro. Cada vez que eu caía, via o brilho de satisfação no rosto dela e o sorriso crescer mais. Como é possível um sorriso não ter limites para tamanho? Eu nem sabia que sorriso tinha tamanho.
-O que é isso, Jenny? - perguntou Meg sussurrando após parar ao meu lado.
-Minhas mãos estão esfoladas - mostrei as palmas gemendo mentalmente.
-Não, amiga! Eu tô falando da Cookie que estava em modo "Coringa" aí do seu lado! - ela franziu a cara perplexa - O que você fez?
- Você está doida?Como assim " o que eu fiz"? Você me viu! Eu estive aqui me destroçando no chão a cada 30 segundos, ferindo minhas mãos porque em casa eu era uma menina apenas... - me calo quando a vejo vir nessa direção me abraçar e apoiar para ficar de pé , ao passo que a nossa tutora se afastou , atendendo ao chamado de outro tutor que ainda não conheço.
Controlo a emoção para evitar descontar em Meg minha frustração.
- Droga! Eu não estou aqui porque quero... - desabafo ainda um pouco alto , o suficiente para receber a represália de longo alcance .
- Mas está! E essa não é uma opção sua! Sua única opção é se adequar ou ser rejeitada pelos julgadores! - o veneno escorre pela boca daquela áspide , com um sorriso - Você escolhe, princesinha.
A cara de Meg e a minha devem ser a mesma: incredulidade. Não bastava estar aqui, ainda vou estar rodeada de porcos espinho?!! O que realmente acontece aqui?
- Amiga , que azar você tem.
Me calo porque não há o que falar por hora. Estou tão moída que eu mesma tenho dó de mim. Até meu pensamento está moído.
Cookie vira para os outros e grita:
- Vocês estão todos liberados para próxima aula.
E sai rebolando magnífica, com o uniforme lhe parecendo segunda pele. Será que ela pensa que está numa passarela? Seus coturnos quase parecem salto 15, para pisar nos carpetes "jenifferianos" da vida. Recolhi-me a minha insignificância. Por hora pelo menos.
Eu já estava andando torta e mancando, apoiada no ombro de Meg tentando pular num só pé.
Podia piorar? Quando meus pais falavam nos ditados populares, diziam com brincadeira: "É assim mesmo. Depois piora!". É assim que eu me sinto: eu pensei que nada era pior que viver num mundo deteriorado e perder o único irmão; aí fui separada da minha família e enviada para um lugar onde todos me odeiam. Com exceção de Meg. Então pensei novamente que nada poderia ser pior e estou indo toda roxa e quebrada pra aula de armas de fogo com quem? Com Max: o homem que quer me fritar.Já estou. Aliado a isso, perdi as refeições por simplesmente não conseguir comer.
Olho para frente e , ao invés de Max, vejo Eithan em pé recebendo aos 15 na porta da sala. Ele para o seu olhar em mim com o cenho fechado e , posso dizer até um pouco assustado, ao contrario de segundos antes.
Jesus, eu não aguento mais perseguição! Primeiro o Max, depois a Cookie e agora o bonitão. Eu devo ter cuspido na cruz, com certeza.
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CONTENÇÃO
Ciencia FicciónEm um mundo devastado por um vírus poderoso, jovens são selecionados a cada 5 anos e treinados na Caixa para se tornarem soldados em busca de sobreviventes. Jennifer Maloy viu seu irmão ser selecionado a cinco anos atrás e seu destino foi o mesmo de...