Meu nome é Miguel Hernández, e tinha 24 anos na época. Fazia faculdade de direito. O que eu pensava da vida? Faculdade, amigos, família, paqueras. Não tinha muito o que pensar. Tinha sonhos e desejos sim. Mas não tinha muitas propensões pro futuro. Gostava de viver o presente. Viver os segundos intensamente. Viver cada dia como se fosse o último. Beber como se fosse o último gole. Beijar como se fosse o último beijo. Comer como se fosse a última refeição. Porém, tinha apegos na vida. Como minha família, minha casa. Minha vidinha estava calma e tranquila.
Acordo em mais um dia comum para ir até a faculdade. O toque do meu alarme tocava pontualmente às 7:00. Algumas vezes, eu não acordava. Mas por gentileza minha irmã me acordava, pois ela costumava acordar mais cedo pra fazer a maquiagem. Minha irmã era mais velha que eu alguns anos, e normalmente íamos juntos no meu carro, pois seu trabalho era bem próximo da minha faculdade. Somos uma família pequena. Tenho apenas uma irmã e meus pais, que moramos em um modesto apartamento de cobertura no setor Noroeste. Sempre, desde pequeno, fui muito próximo da minha irmã mais velha. Tínhamos 6 anos de diferença, mas ela ainda não havia casado e morava em casa. Ela tinha um sentimento de proteção muito grande por mim. Por vezes, parecia que era minha mãe e eu um mero garotinho assustado. Apesar dela me sufocar às vezes, eu gostava dessa conexão que tínhamos. Ana era a única na casa que sabia da minha homossexualidade. Ela aceitava numa boa, mas meus pais jamais aceitariam. Nem sequer desconfiavam. Ela me dava carinho e atenção, e nós tínhamos muitas coisas em comum.
Hobbies como jogar tênis, ouvir ópera e concertos de música erudita, viajar e ir em boates em fins de semana. Passávamos muito tempo juntos, e minha irmã muitas vezes era confundida como minha namorada para as pessoas que não nos conheciam. "Tem sorte de pensarem que sou sua namorada", sempre dizia ela convencida de sua aparência. Mas minha irmã realmente era linda, e não se parecia nem um pouquinho comigo. Eu sou moreno, tenho um cabelo curto e crespo, uma densa barba e um bigode. Mais parecido com o meu pai. Já Aninha era branca e tinha os cabelos lisos e extremamente negros, tão negros que as pessoas achavam que a mesma o tingia. Mas era natural. Usava um corte curto Chanel, que ficava muito bem para o formato do seu rosto. Costumava usar um batom vermelho que ficava lindo em seus finos lábios. Parecia com a Branca de Neve, já dizia minha mãe. Minha irmã realmente era doce e incrível como uma princesinha da Disney.
Enfim, acordei e me arrumei com minha roupa social para ir até a faculdade. Arrumo minha pasta de couro legítimo, e meus sapatos perfeitamente limpos e engraxados. Deixo minha gravata no ponto da Aninha arrumar pra mim, pois eu nunca sabia dar o nó. Chego na sala de refeições e todos já estavam lá, tomando o café da manhã com uma mesa farta e recheada de todos os tipos de bolos e pães. Dou bom dia aos meus pais, que me recebem com um sorriso, e um beijo no rosto de Aninha, que sorri já aproveitando para dar o nó em minha gravata.
- Prontinho!
- Obrigado, Aninha. Vocês dormiram bem?
- Sim, meu filho. E você?
- Mais ou menos. Tive um pesadelo...
Ficamos conversando no café da manhã e sorrindo uns com os outros. Eu não podia reclamar de nada. Tinha a família perfeita, que todos gostariam de ter. Saio de casa com Ana, dirigindo o carro e a levando até o trabalho, me despedindo da mesma. Logo dirijo até a minha faculdade, caminhando um pouco até a sala de aula. Chego um pouquinho atrasado, então sento no fundo, assistindo a aula tediante do professor.
- Ei, Miguel! Vai ter um seminário pra semana que vem!
Ouço Carlos Alberto sussurrando perto de mim. E me viro de lado pra falar com ele.
- Nosso grupo já está formado, né?
- Sim, os de sempre. Eu, você, o Jonathan, o Natanael, o Felipe e o Hugo.
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Seesaw
RomanceSeesaw é um romance gay, com uma pegada mais realista, cheio de desejo e muito drama também, porque a vida não é feita só de alegrias, né? Uma história focada no equilíbrio para que uma relação seja satisfatória para ambas as partes. E como a falta...