Capítulo 18

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Miguel

Atendi o celular, e ouvi a voz de Ana ao celular. Ela parecia nervosa e com muita raiva, e aquilo também me afetou.

- Alô? Miguel?

- Alô? Aninha? O que foi?!

- Vou fazer uma revelação importante pra nossa família. Vem pra casa agora.

Ela desligou o celular tão rápido que eu nem tive tempo de questionar. Mas eu sabia muito bem que Ana era uma mulher séria, e não perdia tempo com coisas que realmente não fossem importantes. É isso me deixou muito preocupado. Entro no carro com Gustavo e fico quieto, calado, com mil coisas se passando pela minha mente. Por compaixão, ele não diz nem pergunta nada, mas mostra que está ali colocando a mão no meu ombro e acariciando enquanto eu dirigia. Logo chegamos em minha casa, e eu olho pra ele.

- Você pode esperar aqui no carro, eu juro que não demoro, e se demorar, eu vou te deixar em casa, tá?

Ele não responde, apenas me dá um beijo profundo e reconfortante. De todos os nossos beijos, aquele foi o que mais me fez bem, tirando um pouco da tensão que eu sentia.

- Não precisa pressa, Miguel. Se demorar, eu pego um ônibus. Não se preocupe.

Saio do carro e chego em casa, vendo tudo como se fosse um dia comum de visita do meu tio com sua família. Minha mãe e sua esposa conversando em um canto da mesa de jantar, meu tio e meu pai em outro. Dudu comendo um pedaço de bolo de chocolate. Todos estavam na mesa, menos Ana e Clara. Todos estavam felizes.

Cumprimentei todos e fui pro quarto de Ana, a encontrando lá com Clara, que estava chorando.

- Clarinha? O que houve?

Ana me vê, e ela mesma me responde.

- Hoje nós vamos desmascarar esse homem nojento que é o nosso tio.

- Mas o que?

Ela me entrega fotos reveladas do corpo de Clara seminú, cheio de hematomas e marcas de mordidas, arranhões e dedos, como se fossem tapas. Vejo aquilo e fico chocado. Lágrimas começam a escorrer dos meus olhos, vendo nossa prima, que era tão quieta, naquele estado. Clara não fazia mal a ninguém, não merecia nada daquilo.

- O que esse homem fez a ela?

- Ele violenta a própria filha a anos, mas Clara só contou disso a mim. Ela tem vergonha e não tinha coragem. Mas agora eu juntei todas as provas que precisava pra colocar esse desgraçado na cadeia.

Ouço aquelas palavras horríveis, mas sabe quando você não consegue acreditar no que seus próprios olhos denunciam? Eles pareciam uma família "perfeita". A tia era muito atenciosa com os filhos, principalmente com o mais novo, Dudu. Clara era uma menina quieta, calada, mas muito educada e inteligente. Olho em seus olhos e vejo o terror em seus olhos castanhos. Muitas vezes, onde menos se espera, é aonde tem mais coisa errada.

Mas eu confiava muito na capacidade de minha irmã, e sabia o quanto ela gostava da Clarinha. Tanto que ela foi a única que a menina confiou contar algo tão pesado assim. Olho pra Ana, e entrego as fotos.

- Os policiais amigos meus já estão na portaria do prédio pra uma prisão preventiva. Do jeito que ele é, vai tentar fugir por 48 horas pra não ser pego em flagrante. Mas eu preciso fazer com que ele confesse o crime.

- Eu confio em você, Ana. E estou aqui pra te proteger.

Ela saiu do quarto determinada, e eu saí atrás, fechando a porta com a Clarinha na cama. Ela precisava descansar, e seria traumático se ela visse o próprio pai sendo preso por sua causa.

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