Capítulo 15

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Gustavo

Acordo um pouquinho mais cedo que Miguel, e o observo dormir. Estava abraçado a ele, com a cabeça apoiada em seu peito. Acariciava seu tronco bem levemente, tomando cuidado para não acordá-lo. Sua respiração estava leve, estufando e esvaziando seu peito em um ritmo quase inerte, seus lábios levemente abertos mantinham o ar vindo e voltando. Ele parecia cansado. Meu ouvido próximo ao seu peito podia captar o som das batidas do seu coração. Ouvia aquilo sentindo seu cheiro, que eram como soníferos pra mim, que não conseguia sair da cama. Poderia perpetuar esse momento para sempre.

Toda a espera que tive, todo o medo de nunca encontrá-lo, de nunca ter essa experiência com ele, tinha sanado. Meu coração estava tranquilo e feliz. Naquele momento estava pensando que aquela fora a melhor noite da minha vida desde então, porque tudo parecera perfeito. Abraço Miguel com um pouco mais de força, me aconchegando em seu corpo quente. Pouco tempo depois, ouço sua respiração mudar de ritmo e observo seus olhos abrirem lentamente.

- Bom dia, Guto...

- Bom dia, Miguel...

Mas logo esse sonho bom tinha que acabar. Miguel ficou muito zangado comigo por não tê-lo acordado. Pensei que ele ficaria feliz em passar a manhã comigo, já que dormimos muito tarde na noite passada. Mas ele começou a gritar e me tratar muito mal, como se eu realmente fosse um lixo. Como se tivesse apenas me usado pra se satisfazer. No fim das contas, creio que foi exatamente isso mesmo que tinha acontecido.

Ouvia a voz grossa e irritadiça de Miguel gritando comigo, mas não conseguia raciocinar direito. Não precisava isso tudo. Me sento na cama enquanto ele procura incessantemente suas roupas. O observo pelado, e abaixado juntando as roupas no chão, praguejando o mundo inteiro. Ele estava com tanta raiva. Queria que estivesse com o coração tranquilo como eu, depois da noite tão boa que tivemos. Infelizmente não foi isso que aconteceu.

Sentia meus olhos lacrimejarem um pouco. Não podia evitar de me sentir magoado com Miguel. E triste também por ele não poder ficar mais um pouquinho comigo. Logo ele sairia e eu ficaria sozinho novamente. Sinto seu beijo tão rápido em meus lábios, e fico com vontade de beijá-lo mais. Seus lábios eram tão macios, e sua respiração os mantinham sempre quentes, causando uma sensação deliciosa ao simples toque.

O vejo sair naquele carro, e observo que algumas senhoras sentadas na porta da rua nos observam e me olham com o olhar de julgamento. Fico com vergonha e fecho logo a porta. Malditos vizinhos bisbilhoteiros.

Deito na cama novamente e suspiro fundo. Fecho meus olhos me lembrando do corpo de Miguel coladinho ao meu. Abraço ao meu próprio tronco, e não consigo evitar um sorrisinho que brota em meus lábios naturalmente.

Resolvi levantar e tomar um banho. Afinal, já que não tinha nada pra fazer nem um certo garoto pra mimar o dia inteiro, iria pro trabalho na parte da tarde. Talvez a chefe não ficasse tão brava comigo. Me arrumei rapidamente e saí, pegando o ônibus até o trabalho.

Chegando lá, vi que Sarah estava ajudando uma senhora a escolher um casaco de frio em frente ao provador. Assim que me viu, ela sorriu com aquele sorriso lindo que ela tinha. Sabia que provavelmente estava preocupada e aliviada por me ver ali. Sarah às vezes parecia minha mãe.

- Aconteceu alguma coisa, Guto? Eu tava preocupada com você.

Olhei pra cima e dei um sorrisinho de lado passando a mão na nuca, o que foi suficiente para minha amiga entender o que tinha acontecido ali.

- Ai, Gustavo. Vocês dormiram juntos?

- Sim. Foi maravilhoso, Sarah.

- Ah, pois você vai me contar tudo!

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