Gustavo
A venda foi tirada de meus olhos, e ao ver onde estávamos, suspirei um pouco triste. Eu esperava um encontro realmente romântico. Talvez um jantar, ou até mesmo um passeio pelo parque. Ou qualquer oportunidade que demonstrasse que Miguel queria me conhecer melhor. Mas no fim, ele me traz a um motel de luxo. O lugar era lindo, mas nada propício a uma conversa. Queria não demonstrar minha decepção, afinal ele pagou caro por isso, e independente de minhas expectativas, eu ainda estava com Miguel. De toda forma seria bom.
Depois de trocarmos carícias excitantes, ele me oferece as pílulas. Eu tinha fumado maconha uma vez, por curiosidade, mas odiei o gosto que deixava em minha boca. Mas drogas sintéticas? Nunca. Nem sequer me ofereceram. Nem nunca tinha visto uma na vida. Meus pais sempre me ensinaram a não aceitar drogas. Mas quando criança, você sempre espera que a pessoa que vai te oferecer vai ser um velho mal encarado saindo das sombras, todo sujo e fedorento, e não o homem por quem você está loucamente apaixonado.
Ao tocar naquela droga, eu lembrei dos meus pais. O maior medo deles era que eu me envolvesse com drogas. Eu também tinha medo de me viciar. Mas Miguel não era um velho mal encarado. Ele era um homem maravilhoso, que queria me dar uma noite maravilhosa.
Então naquela noite, com o amor da minha vida, em um quarto de motel, eu experimentei ecstasy pela primeira vez. E foi maravilhoso, excitante e completamente louco. A droga tomava de conta do meu corpo de forma que um simples toque podia ser sentido com a intensidade de um tapa. Cada gemido entrava no meu ouvido e fazia eco. O cheiro de Miguel infestava minhas narinas como o cheiro de uma comida, quando você está com muita fome. Seus lábios estavam tão vermelhos, que eu podia jurar que ele estava de batom. Mas não estava.
Nada daquilo era real. Mas era uma fantasia envolvente e embriagante. Estávamos com um fogo tão grande, que gozamos três vezes. Mas desejo não é o mesmo que desempenho. O orgasmo vinha rápido. Não aguentávamos muito. Mas ao mesmo tempo, não nos saciávamos. Bastava que eu olhasse pro rosto de Miguel cheio de desejo, que eu sentia o tesão voltar a tomar de conta de mim.
Sinceramente, só paramos porque eu percebi que se continuasse, iria machucar Miguel. Ele já estava sensível, pela intensidade e selvageria da transa. Me sentia mal por talvez ter passado dos limites e deixado muitas marcas em seu corpo. Mas ele parecia imensamente satisfeito. Apesar de termos parado, meu coração ainda palpitava, e a droga permanecia em meu corpo.
- Espera um segundo... Você está vendo o que eu tô vendo?
Digo com meu corpo trêmulo e suando frio. Eu podia jurar estar vendo uma arara azul, com as penas brilhantes e de uma cor viva, que quase agredia os olhos. Mas era linda.
- Depende do que está falando...
Percebo que Miguel estava com sono. Talvez o efeito da substância passou primeiro pra ele, vindo o declínio de energia que deixou seu corpo inútil. Mas ele precisava de um banho. E meu coração ainda estava a mil. Resolvi usar essa energia para carregá-lo até a banheira e lhe dar um banho. Passava a mão em seu corpo, e aproveito para admirá-lo.
A intenção de Miguel podia ser boa. Mas aquela pílula não era tão inofensiva pro meu organismo. Terminei de dar banho nele, e tomei um banho também. Deitei na cama ao seu lado, e tive que passar a noite inteira acordado, com o rápido som das batidas do meu coração no meu ouvido, enquanto Miguel dormia como uma pedra. O ecstasy permanecia em meu corpo, e passei a noite inteira vendo alucinações.
Pela manhã acordei completamente destruído. Não conseguia mover um músculo, como se tivesse trabalhado a noite toda. Miguel acorda disposto, e tenta me levantar, mas é impossível. Olho pra ele um pouco magoado. Mas não podia culpá-lo. Eu tinha 22 anos. Sabia exatamente o que estava fazendo quando aceitei tomar aquela maldita pílula.
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Seesaw
RomanceSeesaw é um romance gay, com uma pegada mais realista, cheio de desejo e muito drama também, porque a vida não é feita só de alegrias, né? Uma história focada no equilíbrio para que uma relação seja satisfatória para ambas as partes. E como a falta...