Capítulo X

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Capitulo X

FABRICIO

A recuperação do Luiz foi lenta e dolorosa, e não tô falando dos machucados, isso o remédio curava, eu já tinha apanhado muito e sabia.

A dor por dentro era o pior, e isso eu entendia, a gente se sente abandonado e desprezado, parece que a gente não é nada, fica como um barquinho de papel no meio de um aguaceiro, tu sente que no final vai desmanchar e desaparecer, e ninguém vai se importar.

E o pior de tudo é tu não saber o que tinha feito pra merecer isso.

Por que a gente tem que se esconder??

Tanto as meninas como os meninos e até o Fabricio escondiam quem realmente eram, suas famílias também não sabiam sobre eles, sempre fiquei pensando sobre isso, que tristeza para os pais não saberem quem realmente são seus filhos.

As duas meninas era maravilhosas, determinadas, fortes e mesmo assim tinham medo dos pais, num momento como esse, momentos pelo qual todos passamos, em que precisávamos de apoio e conselhos as pessoas que deveriam ser as mais importantes na nossa vida, simplesmente nos viravam as costas.

Os meninos era uns queridos estudiosos, honestos, loucos para serem alguém na vida, tudo que uma família deveria querer. Com quem eles deitam, ou com quem namoram deveria importar para alguém? Se tu é uma pessoa boa isso deveria bastar pra todo mundo.

O Fabrício para mim era um exemplo, teve um filho e em nenhum momento pensou em abortar o menino como tantos fazem, criou da maneiro que pode, estava do lado sempre que deu, quando não deu mais ele saiu pelo mundo pra tentar arranjar algo melhor pro filho dele, fez o que fez, e eu me orgulho disso, em nenhum momento ele pensou em desistir como muitos fazem e dizem deixa que a " Familia resolve", viram as costas pros filhos e deixam serem criados por ai, o cara era batalhador trabalhava que nem um animalzinho pra juntar o dinheiro que o filho precisava, vendeu o corpo quando viu que nada mais ia adiantar. Ele deveria se envergonhar disso, não, nunca.

As famílias deveriam entender que esse era o momento em que deveriam ficar do lado dos filhos, esse era o momento de dizer estamos aqui filho, temos orgulho da pessoa que tu estas te tornando, o que importa quem tu ame, se tu é uma pessoa integra.

Nós todos eramos jovens, de uma certa maneira não tivemos infância, mas estávamos ali em pé seguindo como dava, da forma com que as nossas famílias queriam.

Eles sabiam como todos nós sabemos dentro da gente, que nossos pais não iriam aceitar, nós sempre sabemos isso, quantos grupos como o nosso existem espalhados por ai, pessoas que se juntam para ter uma família, uma família que nos é negada simplesmente por que não seguimos o padrão, somos diferentes, não sei quem inventou que ser igual é bom, não existe crescimento na igualdade, a diferença é que nos faz humanos.

Merda, eu nunca ia entender isso, fiquei olhando para meus amigos, tava impressionado com as meninas, uma das duas sempre estava do lado do Luiz, cuidavam com carinho, davam os remédios no horário certo, consolavam, amavam, eram incríveis, ele alternava momentos de tristeza com um total desespero, o Afonso estava sempre junto nesses momentos, e mesmo assim ninguém sabia o que o Afonso falava em casa mas não largava o Luiz.

Com a ajuda de todos as coisas foram se arrumando, eu e o Fabrício ajudávamos na comida e Livros, as meninas com abrigo e amor, e o Afonso com o que mais ele precisasse. Isso não era o que nossa família deveria estar fazendo por nós?

Pois bem, nós criamos a nossa família.

Foi nesse período da minha vida que eu vi a importância de amigos verdadeiros, eu devo a eles não ter ido por outros caminhos que seriam mais fáceis para uma pessoa como eu, ainda tinha muita raiva dentro de mim, eles me ensinaram a canalizar tudo isso e seguir em frente, eu ainda me corroía por dentro queria achar o pai dele, o Fabrício tava tentando me fazer esquecer.

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