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Anna C. Evan, 06/02/2018. Brooklin Novo, distrito de Itaim Bibi - SP

   Eu decidi começar a escrever e não sei como isso aqui vai funcionar.

   Serão somente alguns devaneios e besteiras cotidianas que me fazem pensar.

   Aqui eu não quero mentir. Já estou cansada disso.

   Quero ser meu eu 100% transparente e escrever o que penso de maneira confusa, só pra ler isso daqui a uns anos e fazer meu “eu do futuro” pensar em como minha cabeça se organizou com o tempo, como assim, o meu “eu do presente” espera que aconteça.

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   Hoje eu fingi estar doente.

   Fingi tão bem que agora até mesmo eu estou acreditando no quão mal estou. A crise de vômito provocada por mim mesma foi tão convincente que eu estou realmente com o estômago embrulhado, mesmo ele estando vazio.

    E aqui, no vagão desse metrô – que no momento em que estou escrevendo isso está tão vazio quanto eu queria que minha cabeça estivesse –, eu penso em como as pessoas conseguem fingir tão bem, diariamente.

    É algo natural para o ser humano.

    Vamos ver... Aquele cara, bem alí, pode estar tendo um de seus piores dias e pela noite mal dormida a sonolência que ele sente é evidente. Aquela senhorinha com a tinta castanha nos cabelos disfarçando os fios grisalhos, pode muito bem estar escondendo o sentimento de luto por uma perda recente de uma amiga, parente distante ou, até mesmo, de um filho. Aquela moça com os óculos de armação retrô e bolsa vermelha pode ter sofrido recentemente com uma desilusão amorosa ou algum problema com um colega idiota no trabalho, ou talvez ela mesma possa ser a tal colega idiota. Também tem essa moça, sentada bem na minha frente, com os fios loirinhos, olhos azuis claríssimos e o all star branco encardido pelo tempo – ou (como eu gosto de imaginar) pelas aventuras que ela já pode ter vivido com esse mesmo tênis que pode nem ser tão velho –, quero pode estar indo se encontrar com o grande amor da sua vida, que ela pode já conhecer ou ainda esbarrará com ele ou ela enquanto pede um café com um croissant numa cafeteria, que pode ser a sua preferida e também a do rapaz ou moça que irá conhecer.

    Mas o que eu gosto de imaginar, sempre que entro no metrô ou quando ele passa por mim, é que cada uma dessas pessoas tem alguém esperando por elas numa casa quentinha.

    Que aquele menino que parece correr contra o tempo numa bicicleta rebaixada com a mochila vermelha no lado de fora desse vagão tem um pai e uma mãe, ou até mesmo dois pais ou duas mães, ou – me deixe imaginar – seus avós, e até mesmo um cachorro ou gato, esperando a sua chegada, com café ou o almoço no fogão para que eles comam juntos quando der o horário.

    Eu gosto de imaginar, mas ao mesmo tempo em que minha cabeça e imaginação são meu refúgio, são também os responsáveis por pensamentos bizarros que me fazem temer um futuro não tão distante. Não é pelo pensamento constante na morte e sei que seria mentira dizer que não a temo, mas ela não é, nem aqui, nem na China, o meu maior medo. Ela é um pensamento constante. Algo em que penso como um ponto final em todo o meu caos diário. O que eu mais temo é decepcionar. Temo não ser o suficiente. Temo ferir pessoas que amo por uma série de acasos que poderão se transforma em uma bola de neve e sair esmagando cada um dos que mais se importam com essa pessoa que não merece tal preocupação.

   Eu espero de todo o coração que isso passe.

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Essa obra é um relato de uma adolescente que foi inspirada em alguns aspectos da minha vida. Uma pessoa que viveu os mesmos ocorridos que eu em uma cidade e estado diferente, com um nome diferente e que ainda vai viver coisas diferentes. Sei que praticamente ninguém se interessaria pela minha monótona vida, mas a Anna é como se fosse meu lado “poético”, meu lado um tanto melancólico ou o que vocês pensarem que ela seja ao decorrer desse conto.

Espero que quem esteja lendo isso goste e consiga tirar algo a mais, ou até adicionar algo a mais.

all will passOnde histórias criam vida. Descubra agora