Anna C. Evan 08/02/2018. Brooklin Novo, distrito de Itaim Bibi - SP
Hoje eu finalmente abracei meu melhor amigo. Ele não é a pessoa mais doce do mundo, mas é sensível e carinhoso quando quer. Ele tem o meu abraço preferido, logo depois do da minha mãe, este último que faz bastante tempo de que não recebo uma dose.
Eu irei falar um pouco do André, aka meu melhor amigo. Ele é uma pessoa cabeça dura, míope e um pouco grosso, mas que, quando ele podia frequentar minha casa, estava sempre lá quando eu precisava dele. Do abraço que junta todos os meus pedacinhos em mim mesma quando é bem apertado. O que tinha gostos bem parecidos com os meus, tanto para bebidas e cigarros, quanto para músicas. Ele mesmo que me via chorar quando eu usava a desculpa de que era pela banda que eu esperava a tanto tempo que voltasse. Aquele que deixava que eu pintasse suas unhas com meu esmalte preferido sem dizer que era "coisa de menina". Pensando bem, acho que ele nunca achou que alguma coisa era, especificamente, de menina ou de menino.
Se você quer ter uma conversa sobre qualquer - QUALQUER - coisa, converse com o André. Ele nunca deixa o assunto morrer ou sempre puxa outro completamente aleatório para que possamos debater.
Eu realmente sinto falta dele, 100% do meu tempo.
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Quando chego na escola, só consigo pensar em como seria voar. Voar pra bem longe. Se eu soubesse voar eu subiria até o último andar e apenas me jogaria de lá, para assim ser lançada no vasto céu azul que às vezes está meio cinza pelas nuvens de chuva. Apenas levantaria vôo depois de uns segundos caindo, como se para causar o adorado suspense.
As vezes eu penso nisso sem a parte de voar.
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Os sinos da igreja de São Benedito, que fica exatamente no lado esquerdo da escola, começam a tocar e o som ecoa pelas paredes azuis, brancas e amarelas. Penso nas frases motivacionais postas nos quadros de aviso, que mais parecem frases de "Só faça isso". "Estude até cansar, e quando cansar, estude mais". "Você nunca será alguém na vida caso não estude aqui". "Tente, se não conseguir de primeira você é um inútil, mas tente mais".
Escolas deveriam ser chamadas de manicômios. Ou, mais especificamente, pré-manicômio, já que é pra lá que eu provavelmente vou caso fiquei aqui mais um dia.
Todas essas câmeras, nos observando. Esse "pátio", dividido pela hierarquia estudantil. As plantas que tentam nos passar algo natural, e que por estarem em vasos ou estão morrendo ou com certeza estão privadas de crescer. As salas especiais que me fazem sentir inútil por achar uma regular tão difícil.
Não vejo a hora disso acabar.
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É um saco ser a pessoa chata. Mas também é horrível ser a pessoa que tenta colocar todo mundo pra cima o tempo todo. Eu acho que eu também preciso do meu tempo. Um pouco de tempo pra entender porque eu me sinto do jeito que me sinto.
Odeio ter que fingir o tempo todo. Odeio tentar parecer forte, mesmo quando estou caindo aos pedaços. Odeio ver como parece que minhas primas acham que eu não posso ter um tempo "sendo um saco". Porque na cabeça de muitos famíliares a minha imagem foi plantada como se eu fosse a merda de uma adolescente perfeita, o que, de fato, não existe.
Mas eu espero que isso passe. Espero parar de sentir tanta raiva.
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all will pass
RandomAnna C. Evan, 06/02/2018. Brooklin Novo, distrito de Itaim Bibi - SP Eu decidi começar a escrever e não sei como isso aqui vai funcionar. Serão somente alguns devaneios e besteiras cotidianas que me fazem pensar. Aqui eu não quero mentir. J...