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Anna C. Evan 09/02/2018. Brooklin Novo, distrito de Itaim Bibi - SP

     O dia está bonito. As nuvens cinzentas contrastando com o céu azul e o amarelo no horizonte por conta do sol nascente. E eu não entendo como posso pensar apenas no final do dia. Quando eu geralmente chegaria em casa e iria mexer no celular até sentir meus dedos dormentes e então me deitaria na cama quentinha e pensaria em como seria bom nunca sair de lá. Só permanecer lá, já que o sono nunca vem. Permanecer embrenhada no cobertor grosso demais e ouvir música antiga. Sentir minha cabeça pesar no travesseiro que me parece incrivelmente duro quando não em meus braços quando estou carente.

     Mas como hoje não é um dia "comum", quando chegar em casa terei de bater meu recorde para arrumar a mochila. Iremos para um casa de praia, já que o carnaval está começando. Eu só queria permanecer em casa nesses 5 dias. Tentar colocar a matéria em dia, sabe? Mas como uma adolescente de 15 anos não pode ficar sozinha em casa, as 04:30 PM eu estarei em um carro parcialmente cheio demais para ir a um lugar onde a água resseca, a areia irrita, e o sol pode nos dar cancer de pele. Se minha pele não cair nessa viagem eu não sei quando ela irá cair.

     Mas até essa hora chegar, eu ainda terei pelo menos 7 horas no suposto pré-manicômio, com pré-loucos e pré-inspetores-para-loucos. Mas os pré-loucos não precisam se preocupar, os pais, já loucos por inteiro, irão pagar manicômios particulares melhores logo que eles estiverem totalmente loucos, caso não passem em um público. E eu tentarei estar louca o suficiente para passar num manicômio público, e tentarei me formar em algo para me deixar menos louca.

    Eu preciso pegar um pouco de sol.

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   Minha matemática falha em tentar prever o quanto fico esperando para rescrever uma redação sobre "Os desafios de escolha da profissão para os jovens", levando nada mais, nada menos que 10 horas para voltar para casa.

    O tema da redação que tinha que rescrever era algo que faria qualquer um com cérebro pensar na pressão exercida sobre nós, jovens que pensam em com podem decepcionar por escolher algo que não agrade a nossos progenitores. E eu tenho certeza que isso se tornará algo ainda maior para gerações futuras em, digamos, 40 anos?

    Espero estar errada e que os filhos do jovens atuais recebam o apoio que tantos de nós queríamos receber.

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    Como quase nada em minha vida sai como o planejado, eu só irei para a praia amanhã, o que não é de todo ruim. Voltei a conversar com minha prima mais velha o que realmente me faz bem.

    Conversamos sobre a banda que gostávamos em comum e esperávamos o retorno, o que geralmente me deixa emotiva, já que eu vi o começo daqueles jovens em uma boyband e acompanhei seu progresso e evolução, a nada mais nada menos que 7 anos. Uma criança de 10 anos se apaixona bem facilmente, mas o que sentia era real.

    Foi um bom dia, realmente.

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     Não conseguimos dormir. Já que nossa avó e prima mais nova não estão aqui eu e a Alex, minha prima mais velha, ficamos fazendo o que melhor fazemos juntas. Rimos. Rimos até o estômago doer e nossos pulmões implorárem por ar. Duas adolescentes com, respectivamente, 17 e 19 anos fazendo barulho pela casa enquanto vão ao banheiro. Que ficam nervosas por qualquer barulho e não conseguem não rir de nervosismo. E para completar, as clássicas fanfics engraçadas que usavam adjetivos idiotas. "Ogro solitário" repetiamos e caiamos na gargalhada. Atribuímos o adjetivo "solitário" para qualquer coisa. Até mesmo para o balão em forma de estrela que chamamos de "Coruja Solitária". O mesmo balão em forma de estrela que eu estourei minutos depois por estar um tanto quanto cansada, e até mesmo um tanto amedrontada com barulho irritante que ele produzia ao arrastar na parede

    Tudo ia bem, até o momento de ouvirmos uma porta se abrir e termos que fingir estar desmaiadas enquanto escondiamos o tablet dela em baixo do travesseiro. Ouvimos três batidinhas na porta do meu quarto e eu vejo com meu olhos serrados a silhueta de meu irmão. Ele murmura um "Normal" e um "Vão dormir"

all will passOnde histórias criam vida. Descubra agora