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Anna C. Evan, 19/02/2018. Brooklin Novo, distrito de Itaim Bibi - SP

"Nós podemos voltar no tempo?" foi a pergunta que a minha mãe me fez hoje, logo que acordei, e eu pensei em responder "Se pudéssemos eu já teria feito isso a muito tempo.", mas eu me calei. Imaginei como seria se eu pudesse viajar no tempo... as pessoas que poderia ter dito que amava, as pessoas que poderia ter beijado, os litros de vinho e de cachaça que podia ter evitado beber...

Eu acho que nunca falei exatamente o que eu fiz aqui então é o momento da explicação.

Ano passado eu comecei a beber. Uma adolescente com seus 16 anos recém completos. Me chamaram para uma festa de aniversário, que estava mais para uma social de pré-alcoólatras-profissionais. Foi uma das melhores festas que fui. Tinha piscina e para uma bêbada que não sabe nadar aquilo não era uma boa idéia. Tudo acabou bem e eu acabei dormindo na casa da aniversariante. Nessa época fiquei conhecida entre meus amigos como "quatro-copos", o que foi um tanto irritante, mas eu sabia o quanto eu tinha bebido, e com certeza não foram quatro copos. Disseram para mim que eu tinha ficado com um amigo, mas se eu fiquei eu não me lembrava e ele prometeu para mim que não.

Não teria sido o primeiro beijo dos sonhos.

Um mês depois dessa festa eu comecei a fumar. Era uma das melhores-piores coisas que eu já havia feito. A fumaça mentolada entrando em meus pulmões e a sensação de leveza eram incríveis. Eu fumava casualmente com uma amiga na parte de trás da escola e essa foi a época em que eu mais gastei pasta de dente. Até aí tudo certo. Minha mãe não descobriu nem nada. Eu apenas continuei com isso, e eu me odiava por não sentir o tal peso na consciência.

Eu dei meu primeiro beijo 5 meses depois do incidente da piscina, com um menino que tinha acabado de conhecer num estacionamento de shopping.

Eu continuei com essas práticas regularmente. Meu amigo me trazendo algo para beber de vez em quando, até que um dia nós fomos em uma festa de halloween.

Decidimos ir nessa festa com R$ 1,75 no bolso, uma bicicleta problemática e coragem.

Algumas entornadas de garrafas alheias, alguns tragos de cigarros compartilhados, bombons, chicletes, algumas borrifadas de um perfume de uma menina desconhecida, placas lidas para testar se estávamos sóbrios e a pergunta "moça, a senhora pode cheirar a gente um pouquinho?" para uma mulher desconhecida depois estávamos em casa um pouco tontos demais. O banho que eu tomei parecia quente mesmo as nove da noite com seus belíssimos 26°c.

Houve também o sarau de poesia em uma praça que tivemos dificuldade de encontrar, então fomos a um lugar que vendia bebida e cigarros para menores de idade e fomos beber. Mas ao voltar para onde estávamos nós achamos o sarau e alguns amigos. Começamos a brincar de "Eu Nunca" e nessa brincadeira eu nem tive tempo para raciocinar e a língua de um dos caras naquela rodinha já estava na minha garganta. Foi o pior segundo beijo da minha vida, mas eu não estava ligando. No final da noite eu fiquei com a minha primeira menina.

Passei um tempo apenas dividindo cigarros baratos com minha melhor amiga nos fundos da escola o que não era ruim. Mas aconteceu de eu querer brincar de desafio×desafio na biblioteca da escola o que resultou em mim ficando com 4 meninas e 2 meninos, que eram gays e irmãos.

Teria ficado tudo bem se eu não tivesse saído para beber numa noite de segunda-feira uma semana depois e se eu não tivesse bebido tanto ao ponto de ficar carente. O banho que me deram me deixou gripada já que saí daquela casa com os cabelos molhados. O cigarro que eu fumei impregnado na minha roupa assim como o cheiro do meu próprio vômito. Claro que minha mãe sentiu, ela é um pouco míope e astigmata, mas o seu olfato funciona muito, muito bem.

E foi aí que começou o meu inferno particular, mas talvez eu já estivesse vivendo nele, só não havia percebido antes.

all will passOnde histórias criam vida. Descubra agora