all will pass

ten

Anna C. Evan, 16/02/2018. Brooklin Novo, distrito de Itaim Bibi - SP

Hoje é, oficialmente, o último dia das minhas primas aqui no Ceará. A prova de inglês nunca pareceu tão idiota. Eu apenas consigo pensar em como eu sou uma péssima prima e uma pessoa pior ainda. Parece que eu nunca estou lá.

Aqui e agora, sentada no chão desse metrô, olhando para as dezenas de pés com sandálias e às vezes sapatilha ou tênis, eu penso sobre os 29 dias que estive com minhas primas, estou pensando em como a cama vai parecer grande demais e as músicas terão mais significado. Estou escutando música e nas pausas que algumas tem, consigo ouvir a voz feminina robótica que avisa a próxima estação. Só quero que o dia acabe logo, com as músicas antigas sempre tocando em meus fones. "And girls, they want to have fun", a voz animada de Cyndi Lauper canta enquanto eu penso no quanto minha prima mais velha gosta desse estilo de música e da própria Cyndi. "Nós só queríamos ter nascido nos anos 80" é uma das frases que dizíamos constantemente, ainda mais quando liamos as fanfics incríveis de uma autora incrível que escrevia perfeitamente e incrivelmente bem sobre os anos 80.

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Eu tentei não pensar muito nisso. Tentei não pensar em como eu ficaria quando elas fossem embora. Mas aqui, nessa rodoviária com um cheiro estranho, eu vejo o quão comum é isso. Pessoas vão embora todo dia, assim como minha cachorrinha se foi, hoje pela manhã. As pessoas convivem com isso, com a despedida, com a perda em si. Todo o santo dia alguém vai embora, de alguma forma e o ser humano precisa aprender a lidar com isso.

E eu nunca percebi o quanto penso nisso, até o momento. Sempre me peguei observando as pessoas ao meu redor. Sempre me peguei pensando em como elas podem estar destruídas, mas continuam lá, continuam vivendo. Continuam sendo fortes. E eu tento, tento muito mesmo ser forte. Me manter de pé a cada soco que a vida parece desferir no meu estômago.

Penso, penso e penso. Sempre pensei demais, e as vezes isso é muito, muito ruim mesmo.

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"We can be heroes just for one day", é o que David Bowie diz e minha visão está embaçada demais para pensar em coisas coerentes. Penso na minha cadelinha de estimação que se foi. Penso em como vou sentir falta dos arranhões que ficavam em minhas pernas depois de uma recepção calorosa. Penso em minha cama fria, que me espera naquele quarto vazio. Penso em como comer tapioca vai me lembrar a Alex e em como comer coisas gostosas vai me lembrar a Maria. Minhas "Elas". Elas, que escreveram uma carta de duas páginas, sendo uma frente e verso. Elas que me deixaram a concha preferida da Maria junto com a carta. Elas que me amam tanto e eu as amo tanto...

Eu só preciso ir dormir.