all will pass

sixteen

Anna C. Evan, 24/02/2018. Brooklin Novo, distrito de Itaim Bibi - SP

"As aulas em dia de sábado estão me deixando doente" é o que penso assim que entro no vagão costumeiro, agora com as janelas totalmente embaçadas pelo sereno da madrugada fria que se fez hoje. Tudo passando essas janelas parece cinza pelas micro-goticulas de água acumulada, as únicas coisas com cor diferente são o Sol e a grama molhada e verdinha.

Uma coisa curiosa sobre o metrô é que qualquer pessoa, qualquer mesmo, pode entrar se pagar uma tarifa de R$ 3,20 (R$ 1,60 para estudantes, idosos e alguns trabalhadores). E hoje entrou um velhinho com a aparência totalmente desleixada e com uma corcunda acentuada.

Ele se sentou bem a minha frente, seu cheiro sugerindo o quanto ele já deve ter bebido e o quanto dessa bebida ele já pôs pra fora, mas o que realmente me incomodou foi a forma que algumas pessoas olharam para ele. Como se ele fosse alguma espécie de animal totalmente estranha e repulsiva. Eu apenas consigo ver alguém que provavelmente é um pai com um problemão com o alcoolismo que me lembra meu avô. Como ele desistiu da família para saciar sua sede de uma vida cheias de mulheres que apenas o queriam para ter uma vida fácil e do próprio álcool, que um tempo depois fez seu fígado desistir e desenvolver um câncer. Lembro de como a minha mãe chorou e de como as coisas ruins que ele havia feito pareceram se tornar nada. De como todas as lembranças dele sendo um ótimo avô que realmente me amava voltaram com tudo, me acertando no estômago com o que pareceram 100 socos consecutivos. Lembro de como chorei e de como a notícia da saída de um dos integrantes de minha banda favorita na época pareceu piorar tudo.

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Hoje meu primo mais velho foi para casa. Fomos levá-lo ao aeroporto. Nada de lágrimas ou despedidas dramáticas. Apenas abraços, a confirmação para a pergunta de minha mãe "Vai voltar nas férias?" e alguns acenos a distância. E tudo bem ele ter ido. Não me sentirei tão só em casa, já que conseguimos 3 gatinhos, sendo que temos que procurar casas para dois, o que provavelmente não vai acontecer.

Eu me sinto um pouco mal por não estar sentindo tanta a falta dele, mas nós não conversávamos muito e eu já estourei minha cota de choro desse mês. Claro que eu sinto a falta dele, mas não é algo insuportável.

Eu sei que ele está bem.