capítulo 11

368 29 0
                                    


— Vejo que se sente bem melhor, querida. —A voz era de Alma, que olhava para Dulce com um sorriso irô­nico, para em seguida retirar-se sem mais uma palavra, fechando a porta atrás de si.

— Não se preocupe. — Christopher tentou acalmá-la. — Sua tia gosta de mim.

Pouco depois, os dois retomavam o que havia sido in­terrompido, deixando-se envolver novamente pelas delí­cias da paixão. Em meio a tantas sensações, Dulce nem sequer podia lembrar-se que tinha uma tia.

Duas horas mais tarde, ela acompanhava seu futuro marido até a carruagem.

— Vou sentir saudades — confessou.

— Esteja pronta para ir comigo à ópera na próxima quinta-feira, às sete horas da noite. —Christopher beijou-lhe as mãos, mas não disse que também sentiria saudades.

Dulce acenou para ele e permaneceu ali, em pé, olhando até que a carruagem desaparecesse na distância.

— Estou ansiosa para aprender — Dulce declarou suplicante, ao chegar à sala de trabalho na casa dos irmãos Phineas e Barnaby Philbin, tutores de seus sobrinhos.

Um pouco acima do peso, Phineas aparentava ter por volta de quarenta e cinco anos de idade, enquanto Barnaby parecia ainda não ter chegado aos quarenta. Ambos eram baixos e não havia nada de especial na apa­rência deles. No entanto, podia-se ver a bondade e a ge­nerosidade estampada em seus semblantes.

— Diga-me, qual é exatamente o seu problema, lady Dulce? — Phineas era todo ouvido.

—  Eu não domino bem as letras e os números. Confundo o "b" com o "d" e não consigo distinguir entre o "6" e o "9".

— Bem, a única tarde que ambos temos livre na sema­na é a de quinta-feira — disse Phineas.

— Está ótimo para mim. — Dulce suspirou aliviada. — Mesmo que às vezes as circunstâncias me impeçam de comparecer à aula, farei questão de pagar por todas as quintas-feiras reservadas para a minha alfabetização.

— Muito gentil de sua parte, senhorita — Barnaby agradeceu.

Phineas caminhou até a escrivaninha próxima à ja­nela, pegou uma pena e uma folha de papel e escreveu algumas palavras.

— Sente-se aqui, lady Dulce, e leia o que está escrito neste papel. Precisamos avaliar sua atual capacidade para sabermos qual a melhor maneira de conduzirmos nosso trabalho.

Ela segurou o papel e leu para si mesma, a princípio, teme­rosa de cometer erros. Então se sentou, colocou o papel sobre a escrivaninha e, apontando cada sílaba com o dedo indicador, leu palavra por palavra da frase. Assim que terminou, os tuto­res se afastaram para confabular por alguns minutos.

— A senhorita não tem nenhuma deficiência, lady Dulce — Phineas declarou.

— Não?

— Seu problema chama-se "cegueira de leitura". Os cientistas ainda estão na fase de investigação sobre esse problema, e não chegaram a uma conclusão definitiva so­bre o que causa a dificuldade, nem de como superá-la, mas com certeza não tem a ver com nenhuma deficiência intelectual. É isto que faz com que seja difícil para a se­nhorita aprender. E como se não enxergasse bem o que está à sua frente — Barnaby esclareceu.

— Certas letras e números se misturam em sua cabe­ça — acrescentou Phineas.

— Foi o que eu disse a vocês.

— Infelizmente, como dissemos, ainda não há cura para esse problema — Barnaby informou. — Mas não se deixe perturbar. Meu irmão e eu conhecemos estratégias que podem ajudá-la a ler frases simples.

— Será que um dia vou ser capaz de ler histórias para meus filhos antes de pô-los para dormir? — O coração de Dulce se enchia de esperança.

— Nós a ajudaremos a conviver com seu problema — pro­meteu Barnaby.— Além disso, senhorita, devo dizer-lhe que cavalheiros como seu futuro marido, o conde de Uckermann, preferem uma mulher que não pense demais. Os homens, em geral, gostam de saber mais do que as esposas.

— Obrigada. Não imagina o quanto suas palavras me animam! —Dulce estava exultante. — Prometo ser a aluna mais aplicada que já tiveram. Não vão se arre­pender. — Ela beijou os dois solteirões no rosto, deixando-os encabulados. — Começamos na quinta-feira, então?

— Estaremos esperando — disse Phineas.

— Mal posso esperar — ela confessou, antes de cami­nhar até a porta. — Vou ficar contando os dias.

— Park Lane fica naquela direção. — Barnaby apontou com o dedo, mostrando a Dulce para que lado ela devia seguir.

— Como sou tola! — exclamou ela, que já caminhava na direção contrária.

— Pessoas com seu tipo de problema acabam se per­dendo com facilidade devido à falta de senso de direção — explicou Phineas.

— Não sabemos distinguir direita de esquerda, é isso?

— Exatamente. Bem, até quinta. Vá com cuidado, senhorita.

Dulce chegou em casa na hora do chá. Tinha deci­dido que não contaria a ninguém sobre as aulas. Queria surpreender a todos assim que estivesse preparada.

— Onde esteve? — A pergunta de Alma arrancou-a de seus devaneios.

— Fui visitar Maite e não vi o tempo passar — ela mentiu.

— Venha cá. Vamos até seu quarto. Christopher enviou um recado: estará aqui em algumas horas. Ele quer que você vista azul. Escolhi seu vestido de seda azul-safira.

— Agora é ele quem decide o que devo vestir? — Dulce indagou, contrariada.

— Chris deve ter um bom motivo para ter feito esse pedido. O banho já foi preparado e o chá será servido em alguns minutos. — Alma parou bruscamente à porta.

— A propósito, tem sentido enjôo, querida?

— Não, por quê?

— Tolice minha.

Adorável Condessa - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora