capítulo 30

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Enfim, o mês de março chegava ao fim, prenunciando a primavera. O primeiro dia de abril estava próximo. Dulce estava decidida a tentar, mais uma vez, con­versar com Christopher. Quem sabe conseguiria poupar-se da humilhação da desagradável audiência?

Tinha planejado ir até a mansão numa quinta-feira, enquanto seu marido se preparava para ir à ópera. Ao menos, dessa forma, não teria de suportar a presença de Karla e Belinda, que também estariam se arrumando.

A última quinta-feira antes da audiência havia ama­nhecido fria e úmida. Vestindo sua capa de lã preta, ela cobriu a cabeça com o capuz e pôs-se a caminhar.

Com mais de oito meses de gravidez, sentia-se otimista quanto à possibilidade de poder conversar com o marido.

Quando finalmente chegou à mansão, subiu pela escada da frente. Antes mesmo que batesse à porta, esta se abriu.

— Bem-vinda condessa — Pascoal saudou-a com um largo sorriso. — O senhor conde está lá em cima, prepa­rando-se para ir à ópera.

— Obrigada. — Ela entregou a capa ao mordomo, atra­vessou o hall de entrada e subiu as escadas com esforço.

Nunca mais estivera ali desde aquela terrível manhã de novembro. Ao chegar à porta do quarto de Christopher, hesitou. Num esforço para vencer seus receios, respirou fundo e abriu a porta sem bater. O conde estava em pé, de costas para ela, ajeitando a gravata. O coração de Dulce bateu acelerado.

Estava prestes a chamar por ele, quando a porta do quarto de vestir se abriu. A viúva Cossio entrava no quarto de Chris!

— Iremos ao baile dos Webster depois da ópera, queri­do? — Karla indagou, enquanto colocava o colar de dia­mantes de Dulce no pescoço.

Dulce sentiu o sangue gelar nas veias. Chris queria o divórcio por suspeitar de adultério, enquanto ele próprio tinha uma prostituta ocupando o quarto que deveria ser da esposa.

De repente, ele virou-se e viu Dulce de pé atrás dele. Seus olhos baixaram para o ventre protuberante da es­posa.

— Como ousa entrar aqui?! — Karla bradou colérica. Sem esperar nem mais um segundo, Dulce girou nos calcanhares e desceu as escadas, tão depressa quan­to sua condição permitia. Ouviu Chris chamar seu nome, mas não parou nem olhou para trás.

— Entregue isto a seu patrão. Ele que dê essas jóias àquela mulherzinha.

Dulce colocou seu anel de casamento na mão de Pascoal e saiu da mansão.

A chuva misturava-sê às suas lágrimas, enquanto re­tornava à casa dos tios.

Instantes mais tarde, Christopher descia as escadas apressadamente. No caminho até a porta, encontrou o mordomo, que segurava a capa de Dulce.

— Onde está minha esposa? — perguntou.

— A condessa já foi embora, senhor.

— Sem a capa?

— Sem a capa e a pé.

— Está me dizendo que minha esposa grávida cami­nhou até aqui na chuva?

— Assim parece.

—A ruivinha impertinente já foi embora? — Karla Cossio interpelou. — Talvez você nem precise se dar ao trabalho de entrar com uma ação de divórcio. Quem sabe ela não pega uma pneumonia e morre?

—Lady Dulce pediu que desse isto a Sra. Cossio. — Pascoal entregou a Christopher o anel de casamento. — Não tem consciência do mal que está fazendo à condessa? Não lhe resta um pingo de sentimento por ela, nem mesmo piedade? Estou me demitindo, senhor. Contrate outro mordomo, se quiser.

O primeiro dia de abril chegou, por fim. Por cinco me­ses, os minutos tinham parecido se arrastar por horas e os dias foram longos demais para Dulce.

— Onde está o Sr. Howell? — ela quis saber.

—  Ele irá nos encontrar no tribunal — informou Martin.

Minutos mais tarde, a carruagem estacionava diante do local da audiência. Uma multidão agitada e barulhen­ta se comprimia diante do prédio.

— Quem são essas pessoas? — O pânico tomou conta de Dulce, ao pensar que teria de passar por aquela gente.

— O povo está curioso para ver a condessa acusada de adultério — explicou Martin. — Os pecados dos ricos atraem o público e vendem jornais.

— Nós a protegeremos. — Christian segurou a mão de Dulce e beijou-a como faria a uma irmã.

O cocheiro abriu a porta da carruagem. Martin desceu primeiro, seguido por Alfonso. Por último desceu Christian, que ajudava Dulce a sair dali em segurança.

— É ela! — alguém gritou do meio da multidão.

— A condessa adúltera!

Dulce encolheu-se, assustada. Christian passou o bra­ço em torno dela e seguiram em frente. Uma pedra vinda da multidão atingiu o rosto de Dulce, que começou a sangrar. Christian tentava protegê-la, enquanto Martin e Alfonso abriam caminho em meio à multidão.

Dulce tremia quando, finalmente, chegaram ao in­terior do prédio.

— Você vai sobreviver. — Christian tentou acalmá-la, enquanto examinava o ferimento. — Vamos limpar esse sangue.

— Não, deixe que ela entre na sala de audiência antes — aconselhou o advogado. — Grávida e apedrejada por uma multidão selvagem, Dulce ganhará de imediato a simpatia dos juízes.

— Excelente idéia — Martin concordou.

Christian e Alfonso levaram Dulce até o local que ela ocuparia durante a audiência. Do outro lado do corredor, Christopher e seu advogado, Charles Burrows olhavam para ela. Belinda, Karla e Derick sentavam-se atrás do conde.

Dulce acomodou-se vagarosamente na cadeira. Umedecendo um lenço em água, Christian limpou o sangue do rosto da cunhada e pediu a ela que segurasse o lenço sobre o rosto por alguns instantes.

Adorável Condessa - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora