Sexta-feira. Oito e vinte dois da noite. Eu estava elétrica. Surtada. Nervosa. Com fome. Já havia revisado minha bolsa umas cinco vezes se fosse possível, e eu só queria dormir para que o dia seguinte chegasse.
— Mila, a comida chegou. — North me chamava em meu quarto e eu desci imediatamente. Hailey não estava em casa, e Shawn tinha acabado de pedir comida japonesa para o nosso jantar. Nate já estava dormindo, éramos apenas eu, North e Shawn na sala de jantar.
— Isso tudo é fome? — Shawn me olhou rindo e eu tive vontade de dar o dedo do meio naquele momento. Será que eu estava comendo que nem uma louca?
— Quando eu fico ansiosa, eu fico com fome. — defendi-me, sem tirar os olhos da comida.
— Você tá falando dessa viagem a semana toda... — North terminava de beber seu suco. — Queria ir também. — ela fez uma carinha piedosa.
— Dessa vez não pode, mas eu prometo que vamos viajar antes do meu intercâmbio acabar, ok? — falei, encarando a menina, que assentiu animada. North contava seu dia na escola, fazendo com que eu e Shawn caíssemos na gargalhada, já que a mesma contava de uma professora que, segundo ela, era uma velhinha maluca e os colegas de classe só aprontavam com a coitada.
— Que horror! — eu falava abismada de uma traquinagem que North havia me contado que eles fizeram e Shawn pediu, pelo amor de Deus, que a filha nunca fizesse isso. Mas, no fundo, tinha achado a ideia genial.
— Que horas é seu voo, Mila? — Shawn perguntou, tirando a mesa e eu levantei na mesma hora para ajudá-lo.
— Conseguimos para às dez da manhã. — expliquei enquanto colocava a louça na pia.
— Vai deitar então, deixa que eu arrumo aqui. — ele falava, focando-se da bagunça.
— Não, Shawn, eu ajudo, sem...
— Vai descansar, Mila, você tem que estar bem disposta para conhecer a cidade. — ele dizia rindo.
— Shawn... — mas nada do que eu falasse adiantaria. Tentei insistir mais um pouco, o que foi em vão. E logo eu subi como ele mandou. Shawn era ótimo e, apesar de tudo, eu não podia ter tido pessoa melhor para me acolher. Se fosse uma outra host family qualquer, não queria nem saber quais eram os planos da au pair, ela teria que fazer suas obrigações. Porém, com Shawn, não. Ele se preocupava comigo, não me tratava apenas como uma babá. E isso me deixava feliz. Eu gostava de Shawn, gostava de tê-lo comigo, e não poderia ter escolhido host family melhor.Eu tinha certeza de que havia colocado meu celular para despertar apenas oito horas, mas quando olhei no relógio, eram sete da manhã e havia uma agitação imensa no andar de baixo. Era sábado. Apenas Hailey levantava cedo para dar aula, o que me fez ficar desconfiada. Levantei da cama e desci as escadas para ver o que estava acontecendo.
— Tem como você pensar nos seus filhos uma vez na vida, Hailey? — Shawn falava nervoso. Nate berrava no carrinho. Hailey gritava com Shawn, que tentava acalmar North, que chorava com a mão na barriga.
— O que houve? — perguntei nervosa com toda aquela agitação e peguei imediatamente Nate no colo, tentando acalmá-lo.
— North está sentindo muito dor, tenho que levá-la ao hospital. — Shawn se explicava enquanto a pequena chorava. Nunca tinha visto North daquele jeito, sem dúvidas estava sentindo muito dor. E meu coração estava apertado de vê-la naquele estado.
— Hailey, eu preciso que você fique com Nate ou leve a North. — Shawn falava enquanto a loira andava de um lado para o outro, arrumando suas coisas.
— Não sei se você esqueceu, mas eu tenho compromisso às oito e...
— HAILEY, SÃO SEUS FILHOS! — Shawn berrou, o que fez North chorar mais ainda.
— É só dar um remédio qualquer que melhora a dor, não é, filha? — ela disse, dando um beijo no topo da cabeça de North. — E como eu estava dizendo, já estou atrasada! — ela falava, pegando sua bolsa. — Eu já deixei de fazer tanta coisa na vida por causa dessas crianças, você acha que vou deixar de fazer o que eu amo por causa de um drama infantil? — ela colocou a mão na cintura e eu olhei cética para Hailey. Sem dúvidas não acreditava que uma pessoa podia ser tão sem coração como ela.— Dar aulas de artes é mais importante do que seus filhos,Hailey? — falei, colocando Nate novamente no carrinho, já que o mesmo havia se acalmado.
— Por que você está se metendo? — ela encheu o peito e me encarou. — Se toca, Camila, eu acho que você está se metendo demais para quem é apenas uma babá! — ela falou, olhando-me séria e eu tive uma vontade imensa de voar no pescoço de Hailey.
— Olha o estado da sua família... — eu disse nervosa e senti meu sangue subir. — Ou melhor, olha o seu estado... Uma pessoa sã jamais faria as coisas que você faz.
— CALA A BOCA! — a bolsa de Hailey voou em cima de mim e, na mesma hora, Shawn se pôs a minha frente, segurando os braços de Hailey.
— Nem ouse! — ele falou calmo, segurando os pulsos da loira e eu mal pude acreditar no que estava acontecendo. Hailey abriu a boca intrigada.
— Você vai defender essa qualquer? — o clima estava tão pesado que eu quase me esqueci de North, que chorava encolhida no sofá. Coitada. Nem ela, nem Nate, nem criança nenhuma merecia presenciar aquilo.
— Essa qualquer, como você diz, deu mais carinho a essas crianças em três meses do que você deu a vida toda. — falou por fim, soltando a mão dela bruscamente e virou-se para mim, a ignorando.
— Shawn... — falei com o tom de voz calmo. — Leva a North que eu fico com o Nate. — falei decidida e, na mesma hora, o mesmo pegou a menina no colo e saiu de casa, correndo com o carro para o hospital. Hailey não esperou nem mais um segundo e saiu. Taquei-me no sofá, sem acreditar no que tinha acabado de acontecer. Sem dúvidas, Hailey não estava bem. Nenhuma mãe jamais faria o que ela fez. Nenhuma mulher agiria como ela. Hailey tinha sérios problemas e isso me apavorava.Já fazia mais de duas horas que Shawn havia saído com North. Nate já tinha dormido novamente e eu estava na sala, preocupada. Andando de um lado para o outro, trocando os canais freneticamente. Ouvi o telefone de casa tocar e corri para atendê-lo.
— Mila? — ouvi a voz de Shawn do outro lado. Ele disse que já estava indo para casa e que eu não precisava me preocupar, porém, North iria ter que operar.
— Operar? Mas o que ela tem? — perguntei desesperada, apertando o telefone.
— É apendicite. — ele me explicou. Logo Shawn disse que sua mãe iria para o hospital e ele voltaria em casa para pegar as coisas necessárias para que a pequena ficasse dois dias internada. — E não se preocupa que eu te dou o dinheiro e você pega o próximo voo para Nova Iorque e encontra suas amigas lá. — ele disse e eu balancei a cabeça.
— Nem em outra vida que eu vou viajar com a North internada, Shawn. — falei e fui recebida de inúmeros questionamentos de Shawn. Ele sabia que eu estava louca para fazer essa viagem, e eu realmente estava, mas como eu me divertiria preocupada com North? Eu já havia ligado para as meninas assim que Shawn saiu de casa, eu não iria mais. Não tinha problema algum. Eu teria muito tempo para viajar para Nova Iorque, disso eu não tinha dúvidas.Se minha coluna já estava doendo antes, depois de dormir quase o dia inteiro no sofá, ela só pioraria. Acordei no susto com o barulho da porta e, quando vi, era Shawn chegando, com a aparência visivelmente cansada.
— Ei. — me levantei imediatamente. — Como ela está? — perguntei sobre North. Acompanhei Shawn com o olhar, que se tacou no sofá.
— Dormiu quase o dia inteiro... — ele explicava enquanto eu o encarava. — Ela só vai poder operar amanhã, então os médicos deram vários remédios o que a fez ficar toda mole, coitadinha... — ele dizia, rindo fraco.
— Você tá acabado! — falei o olhando e Shawn agradeceu irônico. Ele se ajeitou no sofá e ligou a televisão.
— Ficar o dia inteiro no hospital não é fácil não. — falou, espreguiçando-se.
— Você quer que eu faça algo para você comer? Ou quer um café? — perguntei preocupada com o bem-estar de Shawn, que negou. Virei-me para imediatamente tomar um banho, já que agora eu sabia como North estava.— Mila,obrigada por tudo que tem feito para minha família
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Au Pair • shawmila << adaptada >>
Teen Fiction" ela era só pra ser mais uma au pair que cuidaria de sua filha,mas parece que tudo mudou"