Capitulo 45

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Nuvens pretas cobriam todo o céu e uma chuva forte não parava de cair. O tempo estava sombrio, assim como meu estado emocional. Ouvi a campainha no andar de baixo e corri para atender. Em vão, já que, assim que cheguei à escada da casa de Shawn, ouvi a voz da minha coordenadora.
— Boa tarde, eu vim buscar a Camila. — bati a mão na testa ao ouvir a frase da mulher.
— Como assim? — ouvi a voz de Shawn e rolei os olhos. O que eu mais queria era ir embora sem ver Shawn. Mas tudo já havia começado a dar errado.
— Boa tarde! — cumprimentei minha coordenadora depois de descer as escadas, dando de cara com Lucas ao seu lado. Eu havia pedido para que Lucas fosse até a casa de Shawn no mesmo horário que minha coordenadora para me ajudar com as malas. — Eu só vou pegar minhas coisas... — falei, forçando um sorriso para os dois na porta, que fizeram o mesmo.
— O que está acontecendo, Camila? — Shawn me olhou com um olhar confuso. Abri a boca para responder, em vão. Fui incapaz de dizer algo quando meus olhos encontraram o olhar perdido de Shawn. Senti minhas pernas tremerem e abaixei o olhar, em guarda, antes de dizer:
— Eu... vou embora, Shawn. — falei retraída, tentando não parecer vulnerável.
— O quê? Como assim? — a feição confusa e desesperada de Shawn era de entregar qualquer um. — Camila, você não pode ir embora. — ele falou, balançando a cabeça, tentando entender o que estava acontecendo. Tentei ignorar o que Shawn dizia, virando-me em direção às escadas. — O que aconteceu? Você não pode fazer isso comigo... — ele segurou em meu braço, impedindo que eu voltasse para o quarto.
— Pelo visto, eu perdi muita coisa do seu intercâmbio, não é, Camila? — a mulher falava, encarando a típica cena de filme. Eu não falei nada, apenas me soltei do braço de Shawn e fui em direção ao meu quarto. Minhas malas já estavam prontas. Depois de acordar na casa de Lucas , eu vim rapidamente para casa, agradecendo a Deus por Hailey ter saído e por Shawn ainda estar dormindo. Passei a manhã trancada em meu quarto, arrumando minhas coisas e me comunicando apenas com minha coordenadora. Apenas ela, Lucas e minha mãe sabiam que eu iria embora. E, agora, Shawn. Eu seria incapaz de me despedir das crianças. Sem dúvidas seria uma facada em meu coração e faria com que minha decisão ficasse estremecida. Sei que talvez pudesse ser egoísmo da minha parte, mas dar adeus para eles me faria sentir uma dor inexplicável.
— Camila, pelo amor de Deus... — Shawn falava com os olhos arregalados ao entrar no meu quarto e ver todas as minhas coisas arrumadas. — Por que você está fazendo isso? — ele perguntava em pé ao meu lado enquanto eu estava abaixada no chão, fechando uma das minhas malas.
— Por que você não pergunta para a Hailey? — perguntei, fazendo uma expressão fingindo estar confusa.
— Então você viu... — Shawn falou, passando sua mão por seus cabelos. Shawn estava angustiado, eu conseguia sentir seu nervosismo pelo tom da sua voz. — Camila, por favor, aquilo não significou nada...
— Shawn, eu não quero ouvir nenhum desculpa, sério... — falei, me levantando, colocando a mão no bolso do meu casaco.
— Mila, não faz isso... Me deixa explicar, por favor... — o homem juntava suas mãos como uma prece e levava até sua boca. — A Hailey me beijou, sim, mas eu não retribuí, eu fiquei parado, eu não fiz nada. Pelo contrário, eu saí de casa para ela não achar que era algo recíproco...
— Eu sei o que aconteceu, Shawn, eu vi tudo... — o interrompi. — Não precisa narrar algo que eu mesma assisti. — eu estava admirada pela minha tranquilidade e seriedade ao ter aquela conversa com Shawn. Por um momento, eu achei que, se caso encontrasse ele antes de ir embora, eu cairia no choro como a noite passada, mas não. Eu estava calma e serena. — Não é só por isso que eu estou indo embora... É por tudo o que vem acontecendo. — falei, puxando uma das minhas malas até a porta. — Eu cansei... cansei de você, cansei da Hailey, cansei dessa vida medíocre que eu estava levando por sua culpa. — minhas palavras saíam com uma facilidade que nem eu mesma estava acreditando.

— Mas... Eu te amo. — Shawn puxou meu braço, fazendo com que nossos corpos se encontrassem. — Eu te amo e você não pode me deixar, por favor... — Shawn implorava enquanto fechava os olhos e encostava sua testa na minha.
— Eu também te amo, Shawn, mas... — respirei fundo, tentando não me deixar levar pela aproximação de Shawn. Eu já podia sentir sua respiração pesada e só queria fechar os olhos para não deixar que a emoção tomasse conta de mim. — Olha o que aconteceu com a gente desde que a Hailey chegou...
— Para de falar na Hailey, Camila... Eu não sinto NADA por ela, entende isso... — Shawn me interrompia, aflito.
— Eu não estou dizendo que você voltou a gostar da Hailey ou algo do tipo, o que eu estou dizendo é que, desde que ela chegou, eu fiquei invisível para você. — falei, tirando as mãos de Shawn do meu rosto, fazendo com que ele abrisse os olhos. — Você faz tanta coisa ao mesmo tempo, mas parece que ao mesmo tempo não faz nada... — eu dizia, já sentindo a tristeza tomar conta de mim. — Eu fui babá, namorada, empregada, mãe, dona de casa... — Shawn ouvia tudo atentamente com um olhar perdido que nem eu mesma conseguia entender. —E você não deu valor, Shawn... Você não pensou em mim...
— Isso não é verdade... — o homem balançava a cabeça negativamente.
— Você nem imagina como foi difícil aturar a Hailey e ainda ter que cuidar dela só porque você pediu. — senti meus olhos arderem, lembrando-me das coisas que Hailey me disse na noite anterior. — Shawn, eu fiz tudo isso por você... Eu aguentei a Hailey me humilhando todo esse tempo, dizendo que ia tirar você de mim, dizendo que eu não sou nada dentro dessa casa...

— Mas isso não é verdade, Mila...
— MAS VOCÊ NÃO FEZ PORRA NENHUMA PARA QUE EU ACHASSE O CONTRÁRIO, Shawn! — senti a lágrima descendo pelo meu rosto novamente e levei minhas mãos até o rosto, tentando não deixar a raiva tomar conta de mim. — Você não fez nada! — eu passava a mão pelo meu rosto sem nenhuma delicadeza, como se me sentisse culpada por estar chorando.
— Camila, me perdoa, por favor... — ele se aproximava de mim novamente. — Eu não vou deixar isso acontecer mais...
— Ai, Shawn, quantas vezes você me disse que não ia deixar isso acontecer, que ia ficar tudo bem... E não ficou? — falei, um pouco impaciente. Nada do que Shawn estava falando era novo para mim. E aquilo só estava fazendo com que eu me atrasasse. — O que você mais fez foi pedir para eu acreditar em você... e eu acreditei com todo meu coração. — falei, secando meu rosto com a manga do meu casaco. — E não adiantou...
— Camila, me escuta, por favor. — Shawn segurou em minha mão e olhou em meus olhos. O homem parecia ter acabado de correr uma maratona, pois sua respiração estava descompassada. — Eu não sei o que eu posso dizer para você mudar de ideia... — ele falou, engolindo seco. Eu não sei se eu estava vendo coisas, mas jurava ver os olhos der Shawn cheios d'água. — Eu só quero que você saiba que eu sou completamente apaixonado por você e que se eu não fiz nada nesses últimos meses, foi porque eu estava sobrecarregado, confuso, cego por não ver o que estava acontecendo... — Shawn levou minha mão até seu peito para que eu sentisse seu coração acelerado. — Mas, Camila, meu amor por você é muito forte e eu não consigo imaginar você em outro país, eu não consigo me imaginar sem você! — ele falava desesperado.
— Seu amor é forte, mas seu corpo é fraco. — falei, tirando minha mão de Shawn e me virando de costas para não encarar o olhar decepcionado do homem. — Você foi covarde de deixar tudo passar por debaixo dos seus olhos e não fazer nada... Eu também estava sobrecarregada, confusa, mas nem por isso eu deixei de lutar por você. — falei, fungando e respirando fundo.
— Mila, não faz isso, por favor... Vamos recomeçar. — fechei os olhos com a voz desesperada de Shawn.
— Eu estou sem forçar para recomeçar, Shawn... — falei, indo em direção à minha última mala que estava no quarto. — Não significa que eu não te ame ou que eu não te perdoe... — disse, fechando meus olhos. — Mas eu estou desgastada, eu preciso da minha família, eu preciso ficar longe de você...
— EU ESTOU TE IMPLORANDO! — ele gritou, me encarando com os olhos assustados.
— Você não disse que se eu escolhesse ir embora, a única coisa que você faria era assistir? — perguntei, olhando para Shawn. Eu estava decidida e, infelizmente, não era o amor da minha vida implorando que me faria desistir. — Então, por favor, Shawn, me deixa ir... — falei, puxando a mala para fora do quarto e pegando a outra, que já estava ali à minha espera. Apenas desci as escadas, indo de encontro à minha coordenadora, entregando as malas para Lucas.
— Lucas, me ajuda, cara... — ouvi a voz de Shawn depois de seus passos desesperados descendo as escadas atrás de mim. — Por favor! — escutei o pedido de Shawn e suspirei mais uma vez, já com meu guarda-chuva aberto no quintal da casa. Respirei fundo e continuei andando, indo em direção ao carro. Nem olhei para trás. Abri a porta do carro e me enfiei lá dentro, à espera de Lucas e minha coordenadora. Eu só queria ir embora. Eu precisava ir embora.
O caminho até o aeroporto não poderia ter sido mais longo. Para minha infelicidade, o meu voo de ida era no mesmo aeroporto que eu desembarquei quando cheguei a San Diego, no início do intercâmbio. Foi impossível não chorar, lembrando-me de quando coloquei meus pés pela primeira vez nesse lugar. De quando senti vontade de beijar o chão por estar no país que eu sempre amei. Enquanto eu estava na fila para fazer o check-in, lembrei-me da minha primeira visão de Shawn e North, à minha espera aqui nesse aeroporto. Eu nunca iria imaginar que eles realmente seriam como uma família para mim. Lembrei-me também de que quando eu pisei aqui pela primeira vez as pessoas me olhavam de um jeito estranho por causa do tamanho do meu sorriso, e agora elas me olhavam estranho por causa do meu choro desesperado.
— Mila, fica calma, por favor. — Lucas pedia, me abraçando de lado, e eu me escondi em seu abraço.
— Lucas... — eu dizia, soluçando, tentando me controlar. — Minha vida, Lucas... Meus amigos, as crianças... — eu falava, olhando com os olhos arregalados, percebendo o que eu estava fazendo. — O Shawn... — falei, deixando o choro tomar conta de mim novamente. A ficha finalmente tinha caído e só agora eu conseguia entender o que estava acontecendo. Foram longos quinze minutos de espera naquele aeroporto. Quando ouvi a última chamada, levantei-me para me despedir de Lucas. Foi literalmente desesperador. Se eu estava naquele estado despedindo-me de Lucas, não imaginava como seria me despedir das minhas amigas ou das crianças.
Enquanto eu andava até o local do embarque, eu olhava ao redor de todo o aeroporto. No fundo, eu estava torcendo para que Shawn
aparecesse do nada, me impedindo de ir, como uma cena de filme. Mas eu entrei no avião, ajeite-me em minha poltrona e aquilo não aconteceu. O avião havia decolado. Não tinha mais jeito. Era o fim.

Au Pair • shawmila << adaptada >>Onde histórias criam vida. Descubra agora