Capítulo 26

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— Chega, gente, chega! — falei, gargalhando. Minha barriga já doía de tanto rir. Eu estava no estágio, na empresa da família de Lucas, e ele e seu primo, mais um funcionário, discutiam por um jogo de basquete qualquer. Mas era tanta bobagem que até eu comecei a discutir pelo tal jogo. A diferença é que eu não entendo nada de basquete, o que fez com que eu só falasse coisas absurdas.
— Eu vou é sair daqui, senão serei demitido... — o primo de Lucas falou, saindo da sala em que estávamos.
— Vocês são ridículos. — brinquei, enquanto guardava a papelada que estava espalhada na mesa em que eu estava. Lucas apenas riu, coçando a nuca.
— Sabe... — ele se pronunciou. — Trabalhar aqui ficou bem mais fácil depois que você veio para cá. — disse, se sentando na cadeira em frente à mesa.
— Como assim? — falei, rindo sem entender e sem tirar a atenção dos meus papéis.
— Quando você vai jantar comigo? — ele desconversou. Lucas me chamava para jantar literalmente desde o dia em que eu entrei na empresa, e cada dia que passava eu inventava uma desculpa diferente, já estava ficando chato.
— Tudo bem... — falei, apoiando no encosto da cadeira. — Só marcar. — respondi.
— Sério? Vai finalmente parar de me enrolar? — ele disse, surpreso.
— Lucas, vai trabalhar, vai. — falei, rindo, levantando da mesa e ele gargalhou.
— Hoje à noite, então. — disse, indo em direção à porta da sala. — Sem desculpas. — e, por fim, piscou o olho. Rolei os olhos, porém rindo em seguida. Lucas era um ótimo amigo, não tinha por que eu negar um jantar com o mesmo.

Depois do estágio, busquei North na escola e fomos para casa rapidamente. Hoje a pequena iria a uma festa do pijama na casa de uma de suas amiguinhas, e não havia nada que tirasse o sorriso no rosto dela.
— Eu vou tomar banho, e quando eu terminar venho te ajudar com a bolsa, ok? — falei da porta do quarto da menina que confirmou com a cabeça. Virei meu corpo e imediatamente bati no corpo de Shawn. — Desculpa. — falei assim que voltei ao lugar que estava.
— Pelo visto todos vão sair essa noite... — ele falou entrando no quarto da filha.
— Aonde você vai, papai? — ela perguntou e eu prestei atenção silenciosamente.
— Vou sair com uns amigos. — ele disse. — E já que você não vai dormir em casa, vou chegar bem tarde. — ele disse brincando com a pequena.
— Ah não! — ela colocou a mão na cintura. — Mila, não o deixe chegar tarde em casa. — pediu, fazendo bico, e eu sorri com a cena.
— Eu também vou sair, North... — falei, me desencostando do batente da porta. — E não tenho hora para chegar. — respondi, virando e indo diretamente ao banheiro. Tomei um banho rápido e, em meia hora, eu estava pronta. Levei mais tempo mesmo para arrumar as coisas de North, que cismava em querer levar quase todas suas bonecas. Olhei na tela do meu celular e vi a mensagem de Lucas, dizendo que estava a minha espera em frente à casa. Despedi-me de North e saí sem nem ver Shawn.
— Boa noite. — sorri ao entrar no carro de Lucas.
— Preparada para o melhor jantar da sua vida? — ele perguntou, já dando partida no carro.
— Menos, por favor. — disse, rolando os olhos. Após quase vinte minutos dentro do carro, eu finalmente reparei onde estávamos e logo falei:
— Esqueceu algo em casa? — perguntei, encarando Lucas, já que estávamos exatamente na rua onde ele morava.
— Não. — falou, estacionando em frente ao seu apartamento.
— Então... Por que estamos aqui? — perguntei, sem entender, vendo Lucas desligar o carro.
— Porque vamos jantar aqui... — ele me olhou.
— Fala sério. — rolei os olhos, um pouco irritada com a intenção de Lucas.
— O que foi, Mila? — ele puxou meu rosto. — Eu vou cozinhar! Você tem noção do que é isso? — ele disse, rindo, saindo do carro. Fiz o mesmo e o olhei sem entender. — Eu realmente quero que você prove minha comida. — falou, entrando, e eu o segui.
— Sério que você cozinha? — perguntei, rindo.
— Mila, eu sou praticamente um chefe de cozinha! — ele encheu o peito e eu gargalhei. Entrei no apartamento de Lucas, já conhecido por mim, e logo me senti em casa. Ele colocou uma música tranquila, e, enquanto cozinhava, nós tomávamos um ótimo vinho. Eu já estava descalça e ria de uma bobeira qualquer que ele falava.
— Posso te perguntar uma coisa? — falei, mordendo meu lábio inferior, o vendo cozinhar. Lucas apenas concordou com a cabeça e eu respirei fundo antes de tocar no assunto. — Não te deu vontade nenhuma de se aproximar do Nate depois que você descobriu que é o pai dele? — perguntei, sem graça. A expressão divertida de Lucas rapidamente se fechou e eu me arrependi de ter perguntado.
— Você fala isso como se eu realmente não tivesse nem aí... — ele falou um pouco triste.
— Claro que não... — coloquei minha taça em cima da mesa.
— É óbvio que eu tenho vontade de me aproximar dele, de conhecê-lo melhor... — ele falou sem tirar os olhos do jantar que estava preparando. — Mas, Mila, eu não sei nem por onde começar. — falou com um olhar derrotado. — Eu tenho um filho, você tem noção disso? — ele me encarou e eu senti um aperto no peito. — Se eu for parar para pensar, eu não tenho maturidade nenhuma para ser pai, Mila. Por isso não sei o que fazer. — ele finalizou. Aproximei-me de Lucas e coloquei uma mão em seu ombro.
— Ei, relaxa. — sorri, o tranquilizando. — Se você realmente quiser conhecer o seu filho, como você diz, eu te ajudo! — falei, o encarando de perto.
— Eu quero. — ele disse, confiante, e eu sorri. Isso era um assunto delicado para Lucas, e eu queria ajudá-lo. Depois de um tempo, o jantar finalmente ficou pronto. O ajudei a arrumar a mesa e sem mais esperar começamos a comer. Preciso admitir que Lucas era um cozinheiro de mão cheia. Estava tudo perfeito e delicioso. Atrevo-me a dizer que foi uma das melhores comidas que eu já havia provado.

— Olha a sua cara! — disse, gargalhando de uma foto que Lucas havia me mostrado. Já era bem tarde e estávamos ambos sentados no chão de sua sala, apoiados no sofá, com uma caixa de fotografias nas mãos. — O que é isso na sua boca? — perguntei, olhando a foto, e Lucas quanto mais se explicava, mais se enrolava. Nossa noite foi. sem dúvidas. baseada em gargalhadas.
— Viu, foi uma noite agradável, não foi? — Lucas perguntou, me encarando.
— Demais. — respondi, pegando minha taça de vinho em cima da mesinha de centro.
— Não tinha porque me enrolar tanto... — ele falou e eu apenas ri, colocando uma mecha do meu cabelo para trás. — Vamos ter mais noites assim? — ele perguntou e eu olhei para cima, fazendo uma cara engraçada, como se tivesse pensando.
— Hm, deixa eu pensar... — brinquei. — Sim. — ri em seguida.
— É muito bom ficar contigo. — Lucas colocou uma de suas mãos em meu rosto e acariciou. — E eu não falo isso só porque você é linda. — disse, aproximando seu rosto.
— Obrigada... — falei, encarando seus olhos. — Você também é... Muito, por sinal. — falei, rindo, já que não estava acostumada a elogiar homens assim.
— Só falta uma coisa para nossa noite ficar perfeita... — eu já sentia o hálito quente de Lucas, e a mão forte dele apertando a minha nuca não estava me ajudando a evitá-lo.
— Eu acho que sei o que é, mas...
— Mas nada, Mila... — Lucas levou sua boca até minha orelha, dando uma leve mordida, fazendo com que eu prendesse minha respiração. — Nem tenta se fazer de difícil pra mim, por favor... — ele falava enquanto continuava a me provocar.
— Eu não me faço de difícil, eu sou... — falei, dando uma risadinha de leve, já um pouco arrepiada.
— Mesmo com quem é louco por você desde que te conheceu? — ele falou, voltando o seu olhar no meu. Lucas não deixou que eu respondesse, e logo levou sua boca na minha. Pela primeira vez, eu fiquei sem reação com um homem. E só acordei do meu transe quando a língua de Lucas tocou a minha. Não me afastei, não evitei. Lucas era um cara muito atraente, e nada me impedia de fazer aquilo. As mãos grandes de Lucas apertavam minha cintura e sua barba roçava em todo meu pescoço. Aquilo, sim, era insano. Eu estava gostando, preciso admitir. No Brasil, era raro eu ficar com homens mais velhos, e ter essa experiência aqui, ainda mais com americanos, era bom demais. Em um ato incrivelmente rápido, Lucas me puxou pela cintura, fazendo com que eu sentasse em seu colo, em uma posição, digamos... Bem digna de deixar com que nossos pensamentos se divertissem. Lucas estava sentado no chão com as costas no sofá, enquanto eu estava sentada em seu colo, com uma perna em cada lado. Seu beijo era bom, bom demais. Mas nada que comparasse ao único beijo que eu queria naquele momento.
— O que foi? — ele falou assim que eu cortei o beijo.
— Er... — falei um pouco desnorteada. — Nada. — disse, saindo de seu colo.
— Mila, relaxa... — ele riu e eu escondi meu rosto, como uma menina. Eu poderia ficar por horas conversando com Lucas. Porém, meus olhos já se fechavam de tanto sono, e, assim que eu pedi, Lucas me levou até em casa.
Arrastei-me até o andar de cima, torcendo para não ter muitas roupas jogadas em cima da minha cama, porque eu só queria dormir, sem dúvidas. Nem banho eu tomaria. Passei lentamente pela porta fechada do quarto de Shawn e apoiei minha cabeça na parede suspirando. Às vezes eu paro e penso que eu e Shawn nunca deveríamos ter nos envolvido. Eu não sei o que se passa na cabeça dele, não sei o que ele sente. Mas eu sei que eu sinto. E estava muito difícil aguentar a ausência de Shawn, e por um momento passou pela minha cabeça rezar para o intercâmbio acabar.

Au Pair • shawmila << adaptada >>Onde histórias criam vida. Descubra agora