A manhã daquela segunda-feira não havia começado nada bem. O aniversário de North estava chegando e Shawn e Hailey resolveram sentar para conversar e resolver se fariam algo. Claro que resultou em discussão. Não havia mais possibilidade do casal ter um diálogo normal, eles sempre brigavam. Eu não era médica para ressaltar o estado de alguém, mas era claro que Hailey não estava bem. Para mim, ela deveria sofrer de transtorno bipolar, e não só isso. Ela não estava bem psicologicamente e isso era um fato.
Já fazia um pouco mais de cinco meses que estava nos Estados Unidos. A saudade de casa estava triturando meu peito. Não que eu estivesse com vontade de voltar, mas talvez ter minha família e amigos aqui seria bem mais fácil. Naquele fim de semana, eu havia saído com Matthew. Todo o encantamento que eu tinha sentindo quando o conheci havia passado. Matthew agora era como um amigo. Segundo ele, uma amizade com benefícios. Era engraçado o laço que tínhamos criado, havia uma intimidade, uma liberdade, que ele falava bem na minha cara o quanto queria uma noite comigo. Apesar de vez ou outra eu e Matthew ficarmos, nunca tinha rolado nada mais do que isso. E não ia rolar. Eu não tinha coragem e, no momento, nem vontade. Eu tinha acabado de chegar em casa e estava louca por uma ducha. As crianças não estavam em casa mais uma vez. Essa semana nós recebemos uma visita da mãe de Shawn, avó de North e Nate. Ela era realmente um amor de pessoa. Conversou muito comigo e me deu vários conselhos. Mas o motivo da visita tinha sido as crianças, e ela deixou claro que sempre que pudesse, levaria seus netos para sua casa. Ela sabia da crise no casamento do filho, e sabia de tudo o que acontecia dentro de casa, e, segundo a mesma, não queria que as crianças presenciassem aquilo. Estava mais do que certa. Isso fazia com que eu ficasse mais tempo livre, porém, recebia menos. Mas dinheiro no momento não era problema. Eu não conseguia chegar perto de Shawn. A cada palavra que ele dizia, a cada esbarrão que o corpo dele dava no meu, aquela noite vinha na minha mente. Estava sendo quase impossível conviver com ele sem ter vontade de reviver aquilo. Não sei o que se passava na cabeça de Shawn. Depois da nossa primeira vez, nunca mais falamos sobre o assunto, e nunca mais rolou nada. Vez ou outra, me pego olhando Shawn, reparando em seu corpo e querendo fazer tudo de novo. E não sou só seu. Já peguei Shawn várias vezes me olhando com o pior tipo de olhar possível. Mas isso não fazia com que o clima entre nós ficasse estranho. Pelo contrário, melhorou, e muito. Porém, eu evitava Shawn. Eu não aguentava ficar perto dele sem poder sentir suas mãos percorrendo meu corpo novamente. Estava sendo mais forte do que eu e eu tinha muito medo do que podia acontecer. Entrei na cozinha para ver se estava tudo arrumado. As crianças não estavam em casa, então o mínimo que eu podia fazer era deixar tudo arrumado. Escutei um barulho e achei que alguém estava ali. Fui até a pia e vi que algumas louças sujas ali estavam. Escutei novamente um barulho e pude ter certeza de que alguém estava ali. Era, sem dúvidas, uma pessoa chorando. Dei a volta na cozinha e dei de cara com Hailey sentada no chão, abraçada em suas pernas, chorando, com os olhos fechados.
— Hailey? — me aproximei da loira, que balançava para frente e para trás, sem parar de chorar. Estava como uma criança indefesa, vulnerável e amedrontada. Toquei em seu braço e pude ver que ela tinha uma faca nas mãos, e seus pulsos começavam a sangrar. — Hailey, o que é isso? — perguntei, assustada, rapidamente tirando a faca da mão da minha host mom. Ela não me respondia. Seu choro só aumentava e eu estava entrando em desespero.
— Camila... — ela soluçou e eu a encarei. — Eu não sei mais o que fazer. — falava com dificuldade chorando, agora passando a mão em seu rosto. Olhei para seus pulsos e não tinha sido nada sério, provavelmente não conseguiu concretizar tamanha covardice.
— Hailey... — era a única coisa que eu conseguia falar. Meu olhar, infelizmente, era de pena.
— Não dá mais... — ela continuava a chorar. — Meu casamento acabou, eu não estou feliz, eu quero fugir... Me ajuda! Eu quero ir embora! — engoli seco ao vê-la naquele estado. Hailey era uma mulher linda, que tinha uma família maravilhosa, tinha tudo para ser feliz.
— Você não pode fazer isso... Você tem seus filhos. — falei, passando a mão em seu rosto e secando suas lágrimas. Nessa hora, eu já estava sentada a seu lado, e meu olho já enchia de lágrimas.
— Eles não precisam de mim... Eles têm os pais. — ela falou, tocando em seus pulsos.
— Pai, você quer dizer... — lembrei-me de Shawn, que nem imaginava que sua esposa estava daquele jeito. Hailey me olhou com os olhos um pouco arregalados e voltou a soluçar de tanto chorar. Ela repetia meu nome e pedia ajuda. Repetia que queria fugir e falava que não aguentava mais a vida que tinha. Hailey começou a falar de Shawn, a culpar Shawn. Dizendo que o mesmo nunca a amou. Disse que ele sempre esteve com ela somente pelas crianças, que nunca teve um romance na vida dela, e que odiava Shawn por isso. Por ter acabado com sua juventude, por ter a privado de conhecer alguém que realmente a amasse.
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Au Pair • shawmila << adaptada >>
Teen Fiction" ela era só pra ser mais uma au pair que cuidaria de sua filha,mas parece que tudo mudou"