Capitulo 2

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Acordar em uma casa estranha pode não ser fácil. Porém, menos fácil ainda é acostumar com o fuso horário. Meu corpo e minha mente estavam completamente perdidos de o porquê eu acordar aquela hora, se onde eu costumava acordar era outro horário. Confuso demais para falar sobre isso. Pude olhar pela janela do meu quarto como o dia tinha amanhecido lindo e favorável para o meu bem-estar. O céu não tinha uma nuvem sequer para contar história. Coloquei um short jeans e uma camiseta qualquer. Ao sair do meu quarto em direção a cozinha, pude lembrar da tour pela casa que North havia feito comigo no dia anterior. Era uma casa grande, não enorme. De dois andares, com três quartos. No momento, um para o casal; um para as crianças, mas para North, já que o bebê, muitas das vezes, ainda dormia no quarto dos pais; e um para mim. Havia uma sala de estar, e uma sala de jantar. E a cozinha era no estilo americana de ser. Além do jardim, à frente da casa, havia um espaço de lazer, nos fundos. Com uma piscina, que, como a pequena menina havia dito, eu amei. Uma mesa de madeira e até um pequeno balanço. Entrei na cozinha e não encontrei ninguém. Resolvi aguardar ali mesmo até que alguém acordasse para que eu pudesse começar meu dia. Puxei a cadeira da pequena mesa redonda do canto da cozinha e apoiei meu corpo na mesa, para girar e sentar, quando deparei com uma cena que me deixou cega por um momento.

— Bom dia! — a voz rouca e matinal de Shawn completou meu estado de hipnose e, em um piscar de olhos, meu braço, que apoiava todo meu corpo sobre a mesa, falhou e eu fui de encontro ao chão. — Camila? — o homem, que se encontrava apenas de boxer preta com uma cara visivelmente amassada pelo travesseiro, falou.

— Bom dia. — respondi suas palavras, levantando-me sem graça e me recompus imediatamente. Ele apenas deu uma risadinha pelo nariz e falou:
— Você não se importa, não é? Melhor se acostumar com isso. — brincou, se espreguiçando em seguida, fazendo com que todos os seus músculos se contraíssem. Definitivamente, eu podia me acostumar com aquilo. Depois do momento constrangedor, a cozinha foi tomada pela voz doce de North, que carregava o pequeno Nate com dificuldade. Fui imediatamente ao seu encontro, ajudando-a e colocando o bebê na cadeirinha para que todos pudessem se alimentar.

— Por que você não leva a Mila para conhecer a rua, filha? — Shawn falou e a garotinha atendeu prontamente, levantando-se da mesa. Arrumei Nate no carrinho e logo me vi caminhando pela minha mais nova rua. North andava saltitando e me apresentava a cada morador que aparecia.

— É minha nova babá, ela veio lá de longe do Brasil e vai morar aqui. — ela repetia as palavras sorrindo. North era uma menina muito esperta e muito simpática.

— O que você faz em casa, North? — perguntei a pequena, que andava agora balançando seu vestido. Nada melhor do que conhecer a rotina das crianças pela própria. Ela tirou a franja que caía em seus olhos e me respondeu.

— Eu sempre brinco com o papai, e ele também me ajuda com os deveres de casa. — ela falava mexendo novamente no cabelo. — O papai sempre leva o Nate e eu no parquinho... Ah, e ele também leva a gente pra comer sorvete! — ela falou com os olhinhos brilhando e eu ri.
— E a mamãe? — perguntei curiosa.
— Ah... — seu tom de voz mudou imediatamente. — Ela fica sempre fora e quando fica em casa com a gente briga muito. — ela fez bico e eu me segurei para não apertar suas bochechas. — Às vezes, ela e o papai brigam e eu tenho que tomar conta do Nate. — ela falou olhando para seus próprios pés. — Mas agora a gente tem você para cuidar da gente, não é, Nate? — ela dizia inocente, encarando o irmão que balançava seu chocalho. Sorri com o final da conversa, mas fiquei com o pé atrás. Algo me dizia que algo acontecia naquela família, e eu ainda não tinha percebido. Depois de andar por toda a rua e quase ter que brigar pela primeira vez com North, já que a mesma havia encontrado um gatinho e queria de todo jeito levá-lo para casa, nós finalmente chegamos. A pequena correu para os braços da mãe, que logo a obrigou a ir tomar banho para que pudesse ir para a escola. Hoje era o dia de folga de Hailey,ela era professora em uma escola de artes. E, pela pouca conversa que tive, dava aula em todos os turnos. O que fazia com que a mesma mal ficasse em casa. Shawn trabalhava em um banco. Segundo ela, não era um cargo muito alto, porém, um cargo suficiente para receber bem e chegar antes de anoitecer em casa. Passei a tarde inteira conversando com Hailey. Ela havia me passado todas as informações que eu precisaria para ficar com as crianças. Ambas acordavam sempre depois na nove. North pegava na escola ao meio dia, e saía as três. Às terças e quinta, a pequena tinha balé. E na quarta-feira, natação. Era Chão que a pegava esses dias, e eu só a buscaria na escola às segundas e sextas. Eu passaria mais tempo com o pequeno Nate, que, graças ao bom Deus, era um bebê tranquilo. O curso de inglês que eu faria não era todos os dias, apenas três dias na semana, e após às seis. Hailey disponibilizou o carro antigo da família para mim. Como quase toda host family faz. Muitas das famílias não deixam que a au pair use o carro dado nas horas vagas, mas esse não foi o caso. Hailey disse que eu tinha total liberdade de usar o carro. Ela era uma boa mulher, apenas reservada. Hailey era somente um pouco mais velha do que eu, o que a fez sentir que não era minha patroa. Segundo ela, eu seria como uma amiga que estava ajudando a família. E isso era ótimo para mim. Definitivamente, eu estava me sentindo bem e querida. Pelo menos, até agora.

Um filme qualquer infantil passava na televisão e distraía Nate enquanto North e eu tentávamos montar o enorme quebra-cabeça de quase cem peças.
— Quem quer pipoca? — Shawn apareceu na sala com dois potes de pipoca. Deixando um sobre o tapete para mim e a pequena menina, e outro para ele, que se jogava na enorme poltrona branca.
— Não é assim, Mila. — North falava mandona quando eu cismava em colocar as peças de cabeça para baixo. Não sei por quanto tempo ficamos ali, sei que com certeza eu sonharia com a imagem dos três ursinhos em um piquenique no parque, que não sei por qual motivo, eu não consegui montar de maneira alguma. Depois das crianças se despedirem do pai, subi com os dois para o quarto para os colocar na cama. Ambos já estavam de banho tomado e alimentados e eu estava orgulhosa do meu primeiro dia. Pelo menos, eu e as crianças estávamos vivos.
— Já tá com saudade da família do Brasil? — North perguntava abraçada com sua boneca de pano.
— Ainda não. — falei sincera. Era muito cedo, e eu estava feliz demais para sentir saudades. Pelo menos por enquanto.
— E o seu namorado, Mila? Você já é velha, tem namorado? — ela perguntou inocente.
— Como você ousa me chamar de velha? — falei boquiaberta, fingindo estar ofendida, enchendo-a de cócegas e a menina se encolhia toda rindo sem parar. — Não sou velha, poxa. — disse cruzando os braços. — E também não tenho namorado. — falei, arrumando meu cabelo.
— História! Conta uma história. — North repetia as palavras e não parou enquanto eu não peguei seu livrinho de histórias e contei até que a mesma pegasse no sono. Nate, com certeza, não havia prestado atenção na história, mas também já estava dormindo. Vi-os deitados, respirando tranquilamente e sorri com a cena. Eram crianças adoráveis e agora, de certa forma, eram minha família. Prendi meu cabelo em um coque frouxo e desci de volta para sala, terminando de arrumar a bagunça que eu e North havíamos feito.
— Quer ajuda? — Shawn apareceu de supetão na sala.
— Não, obrigada. — sorri em agradecimento. — E você precisa de algo? — o encarei e ele apenas sorriu, sentando-se novamente na poltrona. Shawn puxou assunto sobre minha vida em meu país. Havia uma curiosidade cultural enorme de ambas as partes. Falei de praticamente toda minha vida. Falei da minha família. Falei sobre meus estudos, disse, inclusive, que havia deixado a faculdade de arquitetura de lado para poder fazer o intercâmbio e Shawn achou um absurdo, e lá se foram quase duas horas tentando o convencer que aquilo ali era meu sonho, e eu abriria mão de qualquer coisa se fosse preciso.
— Chopp metro, como assim? — ele perguntava animado quando o assunto da vez foi bebida.
— É como se fosse um enorme tubo com a medida de um metro. — eu explicava e Shawn me olhava atento. — E o desafio é a pessoa beber o mais rápido possível de chopp que conseguir. — falei rindo lembrando as vezes que eu tentei participar.
— E você já conseguiu? — perguntou esticando o braço, coçando a nuca inocentemente.
— Não... — falei me focando. — Todas as vezes ou eu desistia, ou eu ficava tão ruim que derrubava tudo. — finalizei gargalhando, acompanhada de Shawn quando contei que um amigo meu havia entrado em coma alcoólico depois de participar.
— Isso é loucura. — ele sorriu e eu sorri involuntariamente. Shawn era um homem admirável. E, como desde que eu cheguei o único homem com que eu tive algum tipo de contato foi o segurança do aeroporto, Shawn era o único que eu podia tirar minhas dúvidas se americano era realmente o homem dos sonhos. E, até agora, eu não tinha mais dúvidas. Shawn era inteligente, charmoso, carinhoso ao extremo com seus filhos, estava sempre pronto para ajudar se fosse preciso. E eu não preciso falar do corpo do mesmo, não é? Pela rápida visão que eu tive naquela manhã, eu podia ter certeza de que o pai da minha host family era o pai mais gostoso que eu já havia conhecido.

Au Pair • shawmila << adaptada >>Onde histórias criam vida. Descubra agora