Capitulo 8

432 52 0
                                    

Meus olhos demoraram a abrir e o despertador não parava de tocar. Eu estava acabada. Sentia dores na coluna e nas pernas. Sem dúvidas, cuidar de criança não era nada fácil. Meu relógio marcava oito horas e eu tinha exatamente uma hora para arrumar meu quarto, tomar banho, me arrumar e começar mais um dia com as crianças.

— Minha barriga tá doendo muito. — North dizia com lágrima nos olhos enquanto tomava seu café. Eu estava ficando preocupada. Já fazia três dias que a pequena reclamava de dores, e, se fosse uma simples dor de barriga, já teria acabado.

— Onde exatamente dói? — perguntei, abaixando perto da cadeira onde a menina estava. Ela colocou a mão no lado direito da barriga e fez careta. Dei mais um remédio para amenizar sua dor, porém, avisaria aos seus pais para que pudessem levá-la ao médico. Shawn apareceu na cozinha, fazendo gracinhas com seus filhos e rapidamente North esqueceu a dor. Shawn dançava algo que ele chamava de dança do café da manhã e estava simplesmente ridículo. Eu gargalhava com as crianças, talvez até mais que elas.

— Até, Mila. — ele se despediu de mim e de Nate, saindo com a filha para levá-la a escola e ir para o trabalho. O clima entre mim e Shawn estava ótimo. Nós dois realmente deletamos da memória o acontecido. Foi, sem dúvidas, o melhor a ser feito. Shawn estava vivendo uma crise no casamento, e não tinha outra explicação melhor do que uma confusão mental para ele ter me beijado. Aguentar uma crise no casamento era muita pressão, e eu entendia isso.
Faltavam apenas dois dias para minha viagem para Nova Iorque e meu problema de ansiedade estava insano. Desde meus treze anos, eu tinha problema com ansiedade, já cheguei até a tomar medicamentos por isso. E era só eu ter um compromisso muito esperado por mim, que eu surtava. Ficava elétrica e comia que nem uma louca. E foi essa eletricidade que fez o professor do meu curso de inglês me chamar atenção, já que eu não parava de cochichar com o rapaz ao meu lado, em vez de prestar atenção na aula. Eu estava jogada na macia cadeira daquela sala quando senti meu celular vibrar e havia uma mensagem de Matthew. Eu mal me lembrava de que havia comentado com ele que eu tinha cursos às quartas-feiras, e ele estava me chamando para sair após o curso. Como não tinha nada para fazer, aceitei. De certo, faria-o me levar em um lugar qualquer para comer. Eu estava morta de fome.

— Olá! — disse, sorrindo, segurando minha bolsa pendurada no ombro e Matthew me recebeu com um delicado beijo na bochecha.
— Não é possível que você não esteja sentindo frio? — ele perguntou, referindo-se ao fato de que eu estava de camiseta, e a noite já tinha caído. Era cerca de oito horas.
— Na verdade, estou. — falei rindo. — Mas eu saí cedo, e estava calor. — realmente estava, eu não esperava cair uma noite tão fria assim. Na mesma hora, Matthew se desfez de seu casaco, colocando-o em volta do meu corpo. Cavalheiro.
— Aonde vamos? — ele perguntou, abrindo a porta de seu carro e eu imediatamente disse que queria ir comer em algum lugar. Não tinha vergonha nenhuma em dizer que parecia ter um monstro em meu estômago naquele momento. Rodamos tanto a cidade tentando escolher um local, que, quando decidimos ir a um restaurante mexicano, já eram quase dez horas. Matthew tinha uma facilidade imensa em puxar assunto e isso era ótimo. Fora o fato de que sua companhia era espetacular. Eu me sentia muito bem com ele. Enchi minha barriga com muitos nachos de carne, e não pude deixar de comer como sobremesa uma torttila mexicana de maça com chocolate. Algo de outro mundo que, se eu pudesse, comeria todos os dias da minha vida. O tempo passou voando e, antes de ir para casa, Matthew me levou a um parque. Seria um ótimo passeio, se não fosse pelo fato de que lá havia um lago, o que vazia com que o ambiente ficasse úmido, e eu com mais frio ainda. Matthew encostou em seu carro e eu estava de frente, encarando o enorme lago. Se não fosse pelo meu pouco grau de miopia, eu podia dar certeza de que havia alguns cisnes ali.
— Esse lugar seria perfeito se não tivesse tanto frio. — falei, rindo, encarando o loiro com os olhos claros.
— Vem aqui que eu te esquento. — e foi com a cantada mais podre do mundo que Matthew me puxou pela cintura e grudou sua boca na minha. Sentir o beijo de Matthew não me fez bem, porque, no mesmo instante, apenas uma pessoa me veio a cabeça, e não era Matthew. E eu não sabia exatamente o porquê. Ele apertava minha cintura com tanta força e esfregava tanto seu corpo no meu, que frio era a última coisa que eu estava sentindo naquele momento. Sentir Matthew morder meu lábio delicadamente me fez arrepiar da cabeça aos pés. E, ao me afastar, reparei um sorriso com quintas intenções no rosto de Matthew, se fosse possível. — A gente pode ir para um lugar mais reservado... — ele falou, puxando-me pela cintura novamente e eu apenas ri.

— Acho melhor não. — disse, segura de mim. Algo me dizia que Matthew só tinha uma intenção comigo, o que me deixou um pouco chateada, já que ele era realmente um ótimo rapaz. Ele insistiu mais um pouco, porém, eu insisti mais, e logo venci. Matthew estacionou em frente à casa da família Mendes e eu agradeci pela agradável noite.

— Vou te ligar. — ele falou, sorrindo, e piscou o olho. Algo me dizia que ele podia ligar, mas talvez eu não atenderia. Entrei em casa rapidamente e só então reparei que ainda estava com o casaco de Matthew, e, querendo ou não, eu iria ter que encontrá-lo depois para devolver. Tirei meus sapatos, segurando-os na mão e subi as escadas a caminho do meu quarto.

— Camila? — ouvi a voz de Shawn e dei meia volta, encontrando-o vindo dos fundos. — Onde você estava? Liguei várias vezes para você. — ele dizia, encarando-me.
— Eu... — disse, mexendo meus cabelos, sem entender. — Eu fui ao curso e depois fui jantar com um amigo, aconteceu alguma coisa? — desci as escadas e me pus de frente para Shawn.
— Tive que levar North para o hospital, e não tinha ninguém para ficar com Nate. — ele falou e senti uma pontada no coração imediatamente.
— North? O que houve com ela? Onde ela...
— Calma, Mila. — Shawn falou, aproximando-se e colocando sua mão em meu braço. — Ela já está em casa, nada grave... Foi só por causa das dores, mas o médico acha que não é nada demais. — disse, acalmando-me.
— Desculpa, Shawn... — falei, levando minha mão até a testa.
— Tudo bem! — ele sorriu de lado. — Só fica atenta no celular, às vezes pode ser emergência. — pediu e eu assenti meio sem graça. Tinha vacilado e a última coisa que eu queria era que Shawn e Hailey pensassem que eu não era responsável o suficiente para ser sua au pair. — Casaco novo? — Shawn perguntou, irônico, dando as costas para mim sem nem deixar eu responder. Um casaco visivelmente masculino, e um Shawn visivelmente incomodado.

Au Pair • shawmila << adaptada >>Onde histórias criam vida. Descubra agora