Meu Mais ou Menos Inimigo (Degustação)

Capítulo 1

Quando em 2007

Eu, Lucas e ele, Igor. Estudamos juntos todo o Ensino Médio, três longos anos, isso em meados dos anos 2000. Tempos curiosos. Por algum motivo sempre caímos na mesma turma, ainda que todos os demais colegas fossem para outras salas, nós sempre tivemos o azar ­— ou talvez a sorte — de estarmos na mesma.

Eu era estudioso. Ele também. Eu era caxias e pontual. Ele nem se fala. Eu gostava de ser o primeiro em tudo. Ele muito mais. Logo nos primeiros tempos naquela escola estadual onde nem todos eram tão aplicados quanto nós, ficou claro que seríamos rivais. O resultado: dois anos de disputas idiotas sobre quem era o melhor, o mais foda, o mais inteligente. A gente não disputava realmente, nossos amigos disputavam por nós, ouvi dizer que chegavam a fazer apostas, se é verdade eu não sei. A gente mal se falava, andava em grupinhos diferentes, frequentava lugares diferentes, não tínhamos quase nada em comum, mas na escola éramos antagonistas. Nem sei como direito começou isso.

Eu nunca tinha reparado nele, para mim era só um moleque alto de óculos e aparelho, que gaguejava e ficava vermelho ao falar em público. Não fazia o meu tipo e olha que normalmente eu gostava de moleques altos e de aparelho (o que era segredo só meu e eu estava muito bem com isso), talvez o fato de ele ser um carinha muito chato vinha em primeiro lugar na minha cabeça e me fazia ignorar o resto.

Mas eis que no último ano do Ensino Médio eu resolvi fazer uma coisa que não fazia com frequência: me divertir. De repente eu decidi que não queria mais ser o melhor da turma, nem mesmo o segundo melhor, deixei de ser "o preocupado" com o andamento dos trabalhos para ser "o carregado" pelos colegas. E se tinha uma coisa que o Igor não aceitava de jeito nenhum era "carregar" alguém com seu esforço, por isso, quando teve a Feira de Ciências e nós dois ficamos na mesma equipe, aconteceu a nossa primeira briga de fato. Eu saí com uma galerinha e o deixei sozinho na preparação do trabalho, cheguei atrasado, não fui bem na apresentação e assim nós ficamos apenas em terceiro lugar na categoria. Eu já previa um resultado ruim, e assim, quando ouvi terceiro, eu comemorei, mas o Igor não. Ele ficou bravo, me xingou na frente de um monte de gente, disse que eu era irresponsável, preguiçoso e idiota. Saímos do meio da multidão, eu fui em direção ao pátio e ele foi atrás, repetindo os xingamentos, até que eu parei. Sendo bem mais baixo e menos forte que ele, mas invocado e corajoso, eu o encarei.

— Idiota é tu! E daí que a gente ficou em terceiro, mano? Até parece que se a gente tivesse ficado em primeiro ou em segundo isso seria grande coisa! Bora aproveitar, otário. A gente não ia ganhar nada ficando em primeiro.

— Você que é preguiçoso e furão, eu trabalhei pelo primeiro lugar e você estragou tudo. Eu sabia que você no grupo ia dar merda!

— Ah, deixa de ser babaca, se você fosse tão bom teria levado o troféu sem a minha ajuda. Admita que você não é o fodão, idiota.

— Você fez de propósito, eu aposto, só pra me tirar. É mais otário do que eu pensava.

Arregacei as mangas e fui pra cima dele, que não se esquivou. Acertei um soco na barriga, mas ele revidou e me socou a cara, levei dois ou três no rosto e caí no chão. Levantei, mas uns colegas de outra turma me seguraram. A raiva me cegava. Ele também só desistiu de me xingar depois que juntou muita gente. Pra não complicar pro nosso lado, o pessoal que presenciou o acontecimento não participou aos responsáveis da escola, e só levamos broncas de umas meninas lá. Quando me acalmei, concordei que não devia ter batido nele, até porque eu levei a pior, mas na festinha que rolou no dia seguinte, eu fiz questão de apresentar a menina que ele paquerava para um playboybozinho que eu conhecia e dei um jeito de ficar com a segunda opção, deixando-o completamente liso. Ele percebeu a armação e apenas me olhou de longe, por cima dos óculos, mostrando os dentes. Ele era mó lerdão quando o assunto era chegar nas garotas, quando pegava alguma era porque elas pegavam ele (que era bem pegável, por sinal).