II
Minha mãe estranhou o fato de eu estar em casa, todo arrumado, às dez da noite, pois normalmente eu saía mais cedo para as baladinhas da época. Por isso, achei melhor sair logo e esperar na rua antes que ela começasse a fazer perguntas, estava ansioso demais e poderia dar a resposta errada e me complicar. Me despedi dos meus pais e saí, andei até a esquina e fiquei esperando, eu não sabia como o Igor viria, se era a pé, se era de carro, mas como ele pediu que eu o esperasse, assim o fiz. Próximo ao horário marcado eu não atendi mais ao celular, mas deixei ele ligado caso o Igor ligasse novamente.
Deu onze horas e eu estava conformado que ele poderia demorar, afinal, somos brasileiros, mas poucos minutos depois um carro passou por mim devagar e parou logo a frente, deu ré e voltou até onde eu estava. Olhei e era o Igor ao volante, sem os óculos, o que achei curioso. O carro era azul escuro, modelo popular, ficava engraçado porque o Igor era muito grande para ele. Ao invés de nos abraçarmos para matar a saudade, caso ela existisse, o que fizemos foi sorrir um para o outro, acanhados e calados, ouso dizer que nos sentíamos desconfortáveis com a situação, embora ele parecesse seguro de si e eu tentasse conter meu nervosismo. Ele fez um gesto me convidando para entrar e saímos dali sem dizer palavra.
Paramos num sinal e a luz da rua iluminou dentro do carro, então nos olhamos por alguns segundos e trocamos sorrisos, depois ele acelerou, olhando para frente, mas ainda com o sorriso na boca, eu olhando-o como se fosse a primeira vez que o visse, e olha que já tínhamos experimentado muito mais do que aquilo. Acho que o fato de não termos brigado antes destoava do que estávamos acostumados.
— Tá nervoso? — ele perguntou, pegando a estrada saindo da cidade.
— Bastante — confessei, mas estava animado. — Onde estamos indo?
— Ficar à vontade.
— Eu sei, só perguntei onde.
— Num lugar onde ninguém vai reparar quem entra e quem sai.
— Tudo bem. E esse carro é seu?
Ele riu como se eu tivesse contado a piada do ano.
— Quem me dera se eu tivesse alguma coisa motorizada para me locomover por lá. Esse aqui é da minha avó.
— Legal.
Pus minha mão sobre a coxa e ele a pegou, pondo-a na coxa dele. Apertei e ele sorriu ainda mais, pegando-a e colocando sobre o zíper da bermuda, o que eu apenas deixei. Me encostei ao banco e fiquei olhando a estrada, sentindo o vento (ar condicionado era só um sonho) que me impedia de sentir o perfume dele, que parecia ser bom. Até que chegamos a um posto de gasolina à beira da rodovia e antes de eu pensar se ele tinha parado para abastecer, ele deu à volta por trás do posto onde havia uma grande construção de três andares que funcionava como hotel. Eu já tinha visto o local ao passar por ali, mas nunca imaginei que poderia servir para "ficar" com alguém. Havia motel nas imediações, mas pelo que eu sabia, ele era mais manjado e mais caro, além disso, foi o Igor quem escolheu — e pagou — pelo hotel, então eu só podia ficar feliz.
Ele foi à recepção e eu esperei no carro olhando para os lados como se estivesse fugindo após um assalto a banco, porque ali, apesar da fama de local mal frequentado, era preciso preencher um formulário e olhar para a cara do atendente, e você podia encontra-lo na cidade qualquer dia, porque a cidade era pequena e a verdade é que o mundo é pequeno quando você pretende esconder alguma coisa. Ele voltou com uma chave e um sorriso suspeito, estacionou o carro em outro local e apenas com gestos de cabeça, me pediu que o acompanhasse.
Subimos dois lances de uma escada apertada e mal iluminada, o que era bom, e entramos no quarto, ele abriu e fechou a porta enquanto eu olhava o ambiente. Não sei o que o Igor pediu na hora de escolher aquele quarto, ou se era o que estava disponível, porque tinha uma cama de casal e outra de solteiro, ventilador de teto e trocentas toalhas, a gente podia esquecer as camas e se deitar sobre as toalhas e ainda assim seria confortável. Ele ligou o ventilador, que era bastante barulhento, o que também era bom, e enquanto eu pensava em falar alguma coisa para quebrar o gelo, ele simplesmente me abraçou, me tirando do chão, e me beijou. Nos beijamos, foi bom, a gente ainda travado, mas ele estava a fim de não perder mais tempo e eu entrei no jogo, desajeitado no início, mais solto depois.
Enquanto nos beijávamos, ele me pôs de pé sobre uma cadeira que tinha no canto do quarto, me chamando de chaveirinho, mas dessa vez eu não briguei, só achei engraçado. Sobre a cadeira eu ficava muito mais alto do que ele e podia fazer o que ele fazia comigo, obriga-lo a virar a cabeça para trás e inclinar o queixo, para me beijar. De cima, olhei dentro dos olhos verdes e entendi o porquê de ele não usar mais óculos.
— Usando lentes agora, é? — perguntei, me dando ao direito de alisar o rosto dele com o dorso dos dedos. Ele tinha feito a barba enquanto eu não tinha nenhum pelo, mesmo sendo um mês mais velho.
— Sempre quis me livrar dos óculos, finalmente consegui.
— Legal, seus olhos ficaram maiores, parece, mais verdes. Ficou bonito, gostei.
Nos encaramos por um tempo, sem dizer nada, a confissão que eu fiz sem perceber aos poucos foi fazendo sentido e nossas bocas foram se torcendo contra a nossa vontade, até que caímos na risada, ele abraçou a minha cintura e eu me joguei nos braços dele, que teve trabalho para me segurar. A partir daí ficamos mais sintonizados para matar a vontade — e a curiosidade — de estar um com o outro, sem brigas, sem disfarces, sem nada. Nos beijamos longamente, eu tirei minha camisa e comecei a tirar a dele, que completou o serviço, depois me deitou na cama deixando bem claro quem comandava a coisa toda, e eu gostava, a gente já tinha conversado e fantasiado sobre isso. E assim, com a luz do quarto ruim, sacudindo junto ao som de tec tec do ventilador velho e mal instalado, com barulho de caminhão chegando e saindo no pátio, com vozes ao longe numa conversa suspeita, denunciando que o local podia ser perigoso, com roupas espalhadas pelo chão, com pernas e braços presos por mãos fortes quando eu sofri, eu me entreguei.
III
Quando saí do banheiro, o Igor desligou a televisão que só passava quatro canais e olhou para mim, eu ainda envergonhado e ele se esforçando para parecer de boas. Aproveitei para perguntar se iríamos passar a noite toda ali, ele respondeu que podíamos sair de madrugada e se sentou na cama, me dando um selinho. Sentei ao lado dele, com algum incômodo ainda, e perguntei o porquê de ele ter escolhido um hotel e ele respondeu que escolheu porque era seguro, barato e longe da cidade. Rimos. Ele se deitou olhando para cima e eu deitei ao lado dele, nós dois ficamos olhando o ventilador girar e fazer o seu barulho ritmado, e depois de um tempo ele passou um braço sob a minha cabeça e me puxou para mais perto. Virei de lado e fiquei olhando-o, ele se virou também e ficamos em silêncio, beijando de lábios, bem próximos. Sem querer, meu braço direito, que estava preso entre nós dois, tocava no pau dele e quanto mais eu tentava afastar, mais esbarrava. Pedi desculpas e ele passou uma perna sobre mim, puxando meu lábio inferior com os dentes e apertando a minha mão onde a excitação crescia novamente.
— Você tá bem? — ele perguntou no meu ouvido.
— Não, se é para o que você está pensando.
Ele sorriu e começou a me beijar, aumentando a intensidade até o momento em que tive que reclamar do aparelho. Posso dizer que colocamos em prática tudo o que já tínhamos comentando nas nossas conversas, sexo, beijos, chupões e mordidas, depois tomamos banho separados e dormimos afastados, porque essas coisas são um pouco constrangedoras no início, e quando acordamos, por volta das cinco da manhã, saímos do quarto nas pontas dos pés. Ele falou com alguém enquanto eu esperava perto do carro ainda bêbado de sono, a conta já estava acertada, então, em poucos minutos nós víamos o sol nascer na rodovia, a caminho de casa.
Foi uma despedida morna depois de uma noite quente, eu estava mais introspectivo do que ele e ficava olhando pela janela, o vento frio da manhã me ajudava a despertar. Fui deixado na rua de casa, mas longe o suficiente para que nenhum vizinho nos visse, com um abraço rápido, um tapinha na perna e um "foi legal" e "até mais". Saí do carro e corri para casa, entrei sem fazer barulho, usei o banheiro e caí na cama, onde não pensei mais nada, nem sonhei.
Continua...
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Meu Mais ou Menos Inimigo (Degustação)
Teen FictionIgor e Lucas poderiam formar o clássico casal que se apaixona depois de uma briga, mas não formam. Separados pelos estudos, pelos egos e por uma garota, eles se evitam por quase dez anos, quando o grande Igor volta para confundir os sentimentos do b...