Capítulo 3

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Relativamente Sozinho


Depois daquelas férias de julho, no longínquo ano de 2008, eu não vi mais o Igor, pelo menos não pessoalmente. Por alguns meses ouvi falar dele, mesmo sem querer, porque quando a gente não quer saber de alguém parece que os amigos criam uma força-tarefa para nos colocar a par de tudo o que acontece com a pessoa. Mas isso durou apenas alguns meses. Nas férias de fim de ano eu não soube se ele estava na cidade ou não, e até mesmo a Amanda, depois de um ano ou menos, arranjou namorado na faculdade e o assunto Igor simplesmente desapareceu.

Se eu quisesse, poderia ter procurado os parentes dele e perguntado, eu sabia onde eles moravam, mas jurei que nunca faria isso e cumpri meu juramento. Por mais de três anos eu não tinha ideia do que ele estava fazendo ou se pelo menos estava vivo, só em meados do ano de 2011, quando eu estava adicionando amigos ao meu Facebook, vi um perfil com nome e foto bem familiar, era de um cara bonitão, de camiseta regata de time, segurando a bola para sacar como se fosse um famoso da seleção brasileira de vôlei. Mas de era um time desconhecido.

Estava na biblioteca com meu notebook e fiquei olhando aquela foto, pensando se era quebra de promessa ou não eu dar uma espiadinha no perfil. Olhei para os lados, como se fosse um crime ou uma indiscrição muito grande o que eu estava prestes a fazer, e depois de muito pensar, cliquei na imagem para ver os posts. Senti uma pequena decepção: o Igor ainda era o Igor de sempre, o que não gostava de se expor, pois, a não ser que só fosse visível a amigos, não tinha quase nada lá, não tinha status de relacionamento, nem aniversário, nem nada, se limitava apenas às publicações de amigos. A própria foto de perfil era bem antiga e também a única.

As marcações de amigos, a turma de uma engenharia qualquer da UF alguma coisa, eram eventos acadêmicos, uma ou outra festinha sem graça, ou fotos de jogos, ele se destacando entre os demais por causa da altura, sempre no plano de fundo. A cara dele era a mesma, com barba, olhos muito verdes e sim, bastante bonito. Era aquele cara que você se orgulha de mostrar pras inimigas e dizer "olha quem eu já peguei", embora eu nunca tenho falado pra ninguém, não por esconder minhas preferências, porque depois de um tempo eu não escondia mais, e não por querer preserva-lo, porque eu não tinha nenhuma estima pela sua reputação, mas sim porque ficou uma mágoa, um aperto, uma dor que eu não queria reviver.

De vez em quando, motivado pelas sugestões do próprio site e por ter mais de 200 amigos em comum, eu acabava olhando o perfil dele, quase nunca atualizado, talvez eu tenha ponderado algumas vezes se mandava o convite ou não, mas não mandei, afinal não éramos amigos. Acho que demorou mais um bom tempo para a foto do perfil ser substituída, primeiro por uma da formatura, e meses depois, por uma de duas mãos unidas, com alianças prateadas. Foi a última vez que eu olhei.

Já eu demorei a ficar com alguém depois do Igor, e quando fiquei, foi casual. Os carinhas que eu fiquei, que não foram muitos, eu conheci em festas, praia ou eventos, de alguns nem do nome eu me recordo. Eu descobri, depois do "caso" com o Igor e de me conhecer melhor, que eu não era uma pessoa muito fácil pra se relacionar, e que para eu poder namorar de verdade, antes eu teria que encontrar a "pessoa certa". Mas isso não me impedia de me divertir com as erradas enquanto a certa não chegava.

Descobri também que entre as pessoas erradas e "A certa" existem os intermediários, aqueles que a gente pode ver com mais frequência, sem que se criem expectativas e sem compromisso, coisa que hoje em dia se chamam "os contatinhos".

Meu primeiro contatinho eu conheci de maneira inusitada: era uma sexta-feira, por volta das nove da noite, eu voltava para casa depois de passar várias horas trabalhando e resolvi parar na praça e comprar feijão-tropeiro, um costume que eu podia considerar um vício porque eu fazia isso pelo menos quatro vezes na semana e só não comprava todos os dias porque me esforçava para resistir. Na praça sempre tinha muitas barracas, e além do feijão, também tinha churros, cachorro-quente, pipoca, batata-frita e acarajé, mas reparei que naquele dia tinha muito mais, e tinha mesas e cadeiras e até um pequeno palco. Vi uma placa e entendi o porquê do movimento: era uma iniciativa da prefeitura para incentivar a cultura e o lazer local.

Meu Mais ou Menos Inimigo (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora