Capítulo 20

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COMO ESPERADO, EVANGELINE ACORDOU SOZINHA na cama na manhã seguinte. Sem dúvida, Drake tinha saído há algum tempo. Não tinha ideia de como ele conseguia trabalhar tanto e de como tinha conseguido incluí-la naquela rotina corrida. Fechou os olhos em pânico ao ver que o que tinha para aquela manhã era o mesmo que tivera em todas as outras manhãs desde que oficialmente se mudara para a casa de Drake. Temia saber qual era o presente supercaro da vez. Com um suspiro resignado, abriu primeiro o presente, evitando o bilhete que Drake tinha deixado. Era um deslumbrante e sem dúvida caríssimo bracelete cravado com enormes diamantes. Combinava com os brincos de diamante que ele lhe dera, e Evangeline ficou preocupada que em breve Drake lhe desse um colar do mesmo tipo. O único presente que nunca tirava era o colar que Drake lhe dera, porque tinha um significado especial para ela. Representava o apelido que ele tinha lhe dado, o jeito que só ele tinha de chamá-la, e tinha sido o primeiro presente que ele lhe dera. Naquele momento, ela ainda não tinha percebido que aquilo seria um ritual diário: Drake comprando joias caras que a faziam sentir-se culpada por serem extravagantes e desnecessárias. O que a deixava desconfortável era o pensamento por trás dos presentes. Que ele estava tentando comprá-la, quando tudo que queria era ele. Sentia-se culpada usando uma joia tão cara enquanto seus pais e suas amigas viviam um dia de cada vez, um salário a cada mês. Sim, Drake tinha cuidado de suas amigas e de sua família, mas Evangeline ainda se incomodava em viver com tanto luxo e ganhar presentes cujo valor seria suficiente para cobrir as despesas de seus pais por um ano inteiro. Com outro suspiro, colocou o bracelete cuidadosamente de volta na caixa e saiu da cama para guardá-la ao junto das outras peças, antes de voltar para ver o que Drake tinha a dizer naquela manhã. Longo dia no escritório. Tenho muita coisa para fazer e várias reuniões. Gostaria que cozinhasse algo que possa esquentar mais tarde, já que não sei a hora exata em que vou chegar . Vou ligar para você do caminho, para que aqueça a comida antes de eu chegar . Zander vai passar aí hoje à tarde para pegar uma lista com você e sair para comprar tudo o que precisar para esta noite. Aproveite o dia e descanse. Fui bem duro com meu anjo ontem à noite. Evangeline apertou os lábios. Não podia nem ir ao mercado comprar as poucas coisas necessárias para cozinhar? Afinal, não importava o que Drake dissesse, era uma prisioneira? Só tinha uma certeza. Não ia ficar parada naquele apartamento o dia todo enquanto Zander brincava de menino de recados. O dia estava bonito e a previsão era de temperaturas mais baixas, mais outonais que do resto da semana. Não tinha intenção de ficar em casa sem sair o dia todo. Como não sabia a que horas Zander iria chegar – e por que precisava de Zander para ser babá du jour de qualquer maneira? Ele não tinha trabalhado na noite anterior? Ou teria que passar por todos os
homens de Drake, um por um, até que chegasse ao último e começasse tudo de novo? Deu de ombros. Bom, não sabia que horas ele chegaria, e havia um mercado ali perto. Se Zander não tivesse chegado depois que Evangeline tomasse banho e se vestisse, ela iria ao mercado comprar os ingredientes necessários para o jantar . No banho, pensou em várias receitas, buscando algo mais sofisticado do que costumava cozinhar para as amigas quando fazer cada dólar render ao máximo era uma necessidade. Lembrou-se do bife (bife Wagyu?) que tinha comido com Justice e tinha sido supercaro. A questão era: onde encontraria aquela carne cara para comprar, se é que era possível conseguir comprá-la sem ser nos restaurantes chiques que a serviam. Tinha a receita de um molho de manteiga simples e delicado: uma carne tão gostosa não precisava de nada pesado para mascarar o sabor natural, e bem, manteiga deixa tudo mais saboroso, sua mãe sempre dizia. Vagens seriam um acompanhamento perfeito, assim como uma deliciosa receita caseira de macarrão com queijo que sabia, e, para incrementar, poderia acrescentar lagosta. Só faltavam batatas, porque, para ela, bife sem batatas era um pecado imperdoável. Batatas gratinadas ou apenas cozidas com um molho à escolha de Drake? Terminou o menu quando vestiu um par de jeans confortáveis e tênis. Escolheu um suéter largo, com um decote canoa que deixava à mostra quase nada de seu colo, que estava bem mais bonito graças aos novos sutiãs que tinha comprado. Olhou para a crescente coleção de joias que Drake lhe dera, mas optou por não usar nada além do colar de anjo. Era simples e sem ostentação. Tinha a ver com ela, diferentemente das outras coisas. Após aplicar uma maquiagem leve e pentear os longos cabelos, achou melhor não prendê-los, para que secassem mais rápido. Depois, foi para a sala de estar para pegar a bolsa e sair . Estava tão entretida em seus pensamentos que não notou Zander até que ele pigarreou. Evangeline levou um susto e soltou um gritinho. Depois, afastou-se com cautela, xingando a propensão dos homens de Drake em aparecer do nada. Será que Drake tinha dado a eles passe livre para o apartamento? Ou eles simplesmente preferiam não bater? Pelo amor de Deus. — Desculpe por te assustar de novo — Zander disse. — Drake tinha dito que você sabia que eu viria. — Ele disse que viria, não que já estaria aqui quando eu me levantasse — Evangeline murmurou. — Pelo visto, a ideia de bater na porta ou tocar a campainha para avisar que estão chegando não é hábito de nenhum de vocês. Zander sorriu. — Vou sair do seu pé assim que me der a lista de compras para o mercado. Evangeline franziu o cenho. — Na verdade, eu mesma vou fazer as compras. Faça o que quiser com a sua tarde. O sorriso de Zander desapareceu, e ele a olhou, inquieto. — Ei... não foi o que entendi. — Mas é como vai ser — ela respondeu, firme. — Estou indo às compras. Você decide se quer vir . Evangeline se virou em direção às portas abertas do elevador . — Merda. Drake não vai gostar disso — Zander murmurou atrás dela. Ela apertou o botão para fechar a porta e divertiu-se ao ver a expressão assassina de Zander quando as portas se fecharam na cara dele, impedindo-o de acompanhá-la. Desceu e passou pelo porteiro, surpreso, antes que ele conseguisse abrir a porta para ela. Ao sair, sentiu o ar revigorante e piscou ao ser banhada, de repente, pela luz do sol. Estava certa. Era um dia espetacular . Respirou fundo, como se estivesse vendo o mundo exterior pela primeira vez desde que entrou no mundo de Drake. Sem perder tempo saboreando a sensação de liberdade, Evangeline começou a descer a rua em direção ao mercado, a poucos quarteirões de distância, com a lista na cabeça. Zander a alcançou na esquina, quando ela esperava a luz para a travessia de pedestres ficar verde. Agarrou seu cotovelo e a girou, seus olhos brilhando com fúria. — O que diabos acha que está fazendo, mulher? — Só faltou ele rosnar para ela. — Está tentando deixar Drake puto? — A questão mais correta é se ele está tentando me irritar — ela respondeu, docemente. — Adoro como as minhas compras, das quais por acaso eu nem ia participar, foram planejadas e organizadas apesar de ninguém além de mim saber o que vou cozinhar e do que vou precisar, incluindo marcas, temperos, ingredientes etc. — É para isso que serve uma lista — ele rosnou. O celular de Evangeline tocou e, quando o pegou e viu o nome de Drake na tela, lançou um olhar acusador para Zander . Ele deu de ombros. — Você cavou seu próprio túmulo. — Alô? — ela disse, preocupada. — O que diabos acha que está fazendo? — Drake disse. — Vou fazer compras para o jantar, como você mandou — ela disse, na defensiva, não gostando de nada de que Zander estivesse a poucos passos de distância e provavelmente conseguisse ouvir cada palavra de Drake, mesmo com os sons de tráfego ao redor . — Talvez não se lembre da conversa que tivemos em que fui bem claro dizendo que eu precisava saber onde você está o tempo inteiro, e, se fosse sair, que eu precisava ser informado e que eu não ficaria nem um pouco feliz se você se esquecesse disso. Seu tom era frio. Claramente, Drake estava furioso. Não apenas com raiva. Ele estava, como Zander disse, puto. — Não tive essa chance — ela respondeu, em um tom frio à altura do dele. — Me mandaram dar uma lista a ele, me disseram que ele iria comprar e eu não. Prefiro fazer minhas próprias compras, especialmente quando se trata de um menu que planejei meticulosamente. Ele não aceitou e queria que eu ficasse dentro do apartamento o dia todo, quando o tempo aqui fora está maravilhoso e eu queria fazer minhas próprias compras. Portanto, minha única opção foi vir sozinha.

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