Capítulo 11

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EVANGELINE ESTAVA TÃO DESLOCADA QUE SÓ queria rastejar para o buraco mais próximo e morrer . Era irremediavelmente desajeitada, enquanto Justice, seu babá du jour, apesar de parecer um casca-grossa, com certeza sabia se portar nas lojas de luxo, escolhendo ou descartando itens apropriados com toda facilidade. Depois de tocar pela primeira vez um vestido cintilante que parecia saído do baile da Cinderela e de ter sentido o tecido luxuoso entre os dedos, Evangeline estava apaixonada. Até olhar o preço e tirar a mão correndo, como se a etiqueta estivesse queimando. Meu Deus. Tudo naquele lugar era tão exorbitantemente caro? Um vestido custava mais do que ela ganhava em um ano! Virou-se, o lábio inferior entre os dentes, em consternação. Ali não era seu lugar . Aquele não era seu mundo. Não se encaixava e estava enganando a si mesma se, por um minuto que fosse, pensou que poderia vir a ser parte dele, ainda que por pouco tempo. Justice, porém, viu sua reação ao vestido e fez contato visual com a vendedora, que ficou feliz demais em embrulhá-lo e adicioná-lo à crescente pilha de compras que estava organizando para Evangeline.

No começo, ele estava se perguntando o que diabos tinha feito para deixar Drake puto a ponto de enviá-lo para fazer compras com uma mulher que não parecia querer ou precisar de nada. Inferno, não é que nunca tivesse ido fazer compras com alguma das mulheres de Drake antes, mas geralmente tudo o que precisava fazer era ficar ao lado observando-a vagar pela loja e apontar peças aqui e ali, deixando a conta para ele, e, em questão de minutos, tudo estava acabado. Mas Evangeline? Ela parecia completamente envergonhada e horrorizada, ainda mais depois que viu o preço do vestido que tinha olhado com tanto desejo, acariciando o tecido de seda. Pelo amor de Deus, nem sequer era um dos mais caros da loja, razão pela qual ele se alegrava de que Drake tivesse ligado antes para passar uma lista detalhada do que queria que o vendedor deixasse separado para comprar . É provável que Evangeline tivesse um derrame se visse os preços desses vestidos. Justice suspirou porque aquele tinha toda cara de que seria um longo dia de merda, e comprar roupas de mulher era como uma viagem ao inferno. Ah, o que ele não fazia para o cara que chamava de parceiro e irmão! Mesmo assim, não conseguia se irritar muito com Evangeline; havia algo de diferente nela. Nunca antes Drake tinha tido uma mulher como aquela, muito menos agido de um jeito tão possessivo desde o primeiro momento em que vira alguém. De certa forma, Justice entendia por quê. Havia algo naquela garota, algo que ele não conseguiu identificar logo de cara, mas que, assim que percebeu, ficou óbvio. Ela não era uma daquelas mulheres calculistas e mercenárias, prontas para sugar de Drake tudo o que pudessem no curto período em que estivessem com ele. Evangeline era inocente, ingênua, doce até a alma e tão genuína quanto se pode ser . Tinha um jeito gentil e, pelo que tinha ouvido de Thane, era leal e feroz na defesa dos outros, até daqueles que não conhecia bem. Tinha enfrentado a amiga que falou com desdém de Maddox e Thane, o que tinha aumentado em umas dez vezes seu respeito por ela. Mulheres como aquela não defendiam homens como ele. Ainda mais contra as melhores amigas. Mas, segundo Thane, ela tinha agido como uma leoa protegendo seus filhotes e ficou puta com o julgamento que a amiga tinha feito de Maddox e Thane. Tinha dado um esculacho nela e deixado bastante claro o que achava da sua opinião. Difícil não respeitar uma mulher doce e gentil que parecia ser intimidada com facilidade e, no entanto, tinha soltado fogo ao defender pessoas que considerou vítimas de um julgamento infundado. Justice nunca se impressionara com nenhuma das mulheres de Drake, tampouco se preocupava com isso: elas nunca ficavam mais do que alguns dias. Mas, pelo visto, parecia que Evangeline estaria por perto durante muito tempo. Drake nunca tinha vestido uma das suas mulheres da cabeça aos pés. Em geral, dava-lhes um presente caro – na maioria das vezes, joias – e depois as dispensava. Justice sentiu brotar no peito um instinto protetor desconhecido, e a simples ideia de que Drake descartasse Evangeline quando se cansasse dela lhe apertou o peito até causar desconforto. Se não pudesse distinguir a diferença entre Evangeline e as vadias com quem tinha se relacionado antes, era um babaca imbecil. E, se Drake a jogasse fora, Justice considerou que estaria mais do que disposto a chegar junto e dar a ela o respeito e o cuidado merecidos. Ele a tinha levado a um de seus restaurantes favoritos antes de começarem as compras, e ela ficou tão desconfortável no restaurante caro quanto ficava nas lojas de roupas de luxo. Estudou o cardápio por alguns longos minutos, concentrando-se tanto que ele achou que veria a cabeça dela explodir . Quando percebeu que ela tinha escolhido o item mais barato no menu, ignorou o pedido dela e, no lugar, pediu bife Wagyu. Na mesma hora, Evangeline gemeu de horror e sussurrou que aquilo custava duzentos dólares! Um bife! Justice apenas sorriu e disse ao garçom para trazer o mesmo para ele. Em seguida, perguntou qual era o ponto da carne de Evangeline. Mas ela ainda estava tão confusa e horrorizada com o preço que ele decidiu sozinho pelo caminho do meio e pediu ao ponto para ela, e ao ponto para mal para si mesmo. Quando os pratos chegaram, ela mirou o pequeno bife e balançou a cabeça, em descrença. — Experimente — aconselhou Justice. — Derrete na boca. É o
melhor bife que você vai comer na vida. Certeza. — Duzentos dólares de gostosura? — ela perguntou, cética. — Duzentos dólares alimentam mais do que a mim e às minhas colegas de apartamento por um mês inteiro. Ele apenas sorriu e cortou seu bife, observando em silêncio Evangeline cortar um pequeno pedaço com cuidado, de um jeito quase reverente, como se odiasse a ideia de consumir algo cujo preço era exorbitante – ao menos para ela. Porém, quando mordiscou, delicada, o primeiro pedaço, seus olhos se fecharam e um gemido baixinho escapou de seus lábios, o que fez Justice travar a mandíbula, esquecido de seu próprio bife, enquanto observava o prazer puro em seu rosto. — Meu Deus — ela gemeu. — Isso é incrível. — Eu falei — ele disse, satisfeito. — Mas ainda são duzentos dólares de gostosura — ela murmurou. Ele só abriu um sorriso e continuou a comer a carne, mal conseguindo saborear, o que era um crime, porque estava absorto demais em observar a primeira experiência de Evangeline com o delicioso bife. Depois que terminaram, ele anunciou que iam às compras, algo que deliciaria a maioria das mulheres. Certamente, todas as mulheres anteriores de Drake. Evangeline, no entanto, parecia ter acabado de ouvir que teria que limpar os banheiros. Agora, estavam quase terminando. Só mais uma loja. Ele quase sorriu quando percebeu que a próxima parada era para comprar lingerie. E não era qualquer loja de lingerie. Era uma que vendia roupas saborosas, sexy e sedutoras, que pretendiam levar os homens à loucura com a luxúria. As bochechas de Evangeline se enrubesceram com um vermelho brilhante. Ela lançou um olhar suplicante para Justice, que precisou esfregar o peito para aliviar o desconforto com o óbvio constrangimento dela. — Pode esperar lá fora — ela sussurrou. — Não é necessário que esteja aqui. Drake já deixou um monte de coisas separadas nas outras lojas que visitamos, duvido que aqui vá ser diferente. Ela corou, provavelmente percebendo que Drake tinha ligado e informado à vendedora em detalhes o que queria, e Evangeline teria que encarar aquela mulher sabendo que Drake tinha sido explícito em seus desejos. Justice sorriu gentilmente para ela e tocou seu ombro. — Querida, não há motivo para ficar envergonhada. Certamente há uma pilha de coisas te esperando no balcão, e te garanto: vou entrar e esperar enquanto você dá uma olhada e vê se algo chama sua atenção. Traga o que escolher para o caixa, eu prometo que não vou olhar nenhuma vez. Vou apenas pagar e virar as costas. Mas não posso deixála sozinha. Drake cortaria meu saco se eu te deixasse desprotegida, ainda que por um momento. Ele quer que eu fique com você o tempo todo. O rubor no rosto de Evangeline chegou até à raiz do cabelo, e Justice pensou que ela seria incapaz de tal façanha. Seu coração se amoleceu e ele tocou de leve na bochecha dela. — Não precisa ter vergonha, Evangeline. Não tem do que se envergonhar . Gostaria de me considerar seu amigo. Ele quase engasgou com as próprias palavras. Amigos? Agora tinha certeza de que estava mesmo perdendo a cabeça. Não tinha amigos, exceto os homens que chamava de irmãos, e sem dúvida não considerava nenhuma mulher sua amiga. Ou as dispensava por serem vadias, ou as levava para a cama e fazia o que fosse para que ambos aproveitassem. E ali estava ele falando besteira sobre amizade platônica com uma mulher que a maioria dos homens levaria para cama antes que ela pudesse piscar . Drake devia uma a ele. Devia muito. — Agora vá fazer suas compras enquanto peço para a vendedora embrulhar o que Drake já escolheu. E, como prometi, quando você terminar, vou dar o cartão de crédito para a vendedora e virar de costas. Tudo que vou fazer é levar as sacolas para o carro. Sem espiar . Prometo! Ela o presenteou com um sorriso que momentaneamente lhe roubou a respiração, e, de repente, ele pôde entender ainda mais por
que Drake estava tão fascinado por aquela mulher . O negócio com ela era sério. Uma raridade nos círculos em que viviam. Tudo nela era genuíno. Ficou atordoado com essa revelação, sem saber o que fazer a respeito. Uma emoção desconhecida – ciúme – apertou seu peito, e ele xingou muito a si mesmo. Porra de Drake e sua sorte por tê-la encontrado antes dos outros que administravam a Impulse com ele. Observou como Evangeline percorria as prateleiras com hesitação, de olho nos itens a que ela dava uma atenção extra para então descartar depois de ver o preço. Sinalizou com o olhar e, quando Evangeline foi para outra área da loja, a vendedora logo pegou as peças que ela tinha gostado, mas não tinha escolhido por causa do preço. Mostrando que estava atenta, a vendedora empacotou as coisas que Evangeline havia descartado para que ela não soubesse que tinham sido compradas e, em seguida, somou tudo, deslizando a conta na direção de Justice. Depois de pagar, Justice recolheu todas as sacolas e escoltou Evangeline até o carro que os esperava do lado de fora. — Terminamos? — ela perguntou, em um tom cauteloso. Ele sorriu. — Sim, querida. Vou levá-la para casa agora. Ele a conduziu até o carro e, então, entrou pela porta da rua para ficar no banco de trás ao lado dela. Enquanto entravam no trânsito, ela olhava pela janela, parecendo fascinada com a cidade, como se nunca tivesse estado em Nova York. Uma reação estranha para alguém que vivia e trabalhava ali. Como se estivesse sentindo o escrutínio, ela conscientemente olhou para ele e lhe deu um sorriso tímido. — Nunca me acostumo a isso — confessou, a mão indicando o tudo que via do lado de lá da janela. — E talvez nunca me acostume. — A quê? — Justice quis saber . — Toda essa agitação. As pessoas. Os arranha-céus. Todas as empresas e os carros, os prédios empilhados um sobre o outro. Isso lembra os formigueiros que tínhamos em casa, quando eles ficavam agitados e as formigas corriam em todas as direções. Ele riu, notando o sotaque sulista, que achava encantador .
— De onde você é, Evangeline? — Mississippi — ela respondeu, em um tom melancólico. — E o que a trouxe para a cidade grande? Dor brilhou nos olhos dela, fazendo Justice se arrepender na mesma hora de ter feito uma pergunta aparentemente inofensiva. Ela voltou a olhar para o lado de lá do vidro, buzinas e os sons do trânsito soando ao fundo. — Eu precisava ganhar mais dinheiro para ajudar meus pais — ela disse de um jeito que indicava que não queria falar mais sobre o assunto. Então ele decidiu não pressionar, embora estivesse curioso para saber por que ela tinha se mudado para Nova York, por que os pais precisavam de grana. Pelo que ele sabia, ela trabalhava nos turnos da noite em um bar no Queens. Com certeza, havia empregos melhores em Mississippi. E do jeito que ela falara de Nova York em comparação à sua casa, parecia que estava com saudades e infeliz ali. Justice franziu o cenho, doido para perguntar a Drake sobre aquilo. Mas Drake não levaria numa boa. Não que Drake fosse pensar que um de seus irmãos ciscaria em seu território, mas o que era de Drake era de Drake e ele guardava o que era seu para si mesmo. Merda, eles eram todos assim. Talvez por isso o grupo de homens que trabalhava com Drake tivesse um vínculo tão forte. Tinham muito em comum e entendiam as necessidades uns dos outros. Privacidade sendo a principal delas. Não questionar e especialmente não responder a ninguém, exceto uns aos outros. Um arranjo que funcionava bem e era bastante rentável. Um pensamento repentino lhe ocorreu. Se Evangeline soubesse tudo sobre os "assuntos de negócios" de Drake, provavelmente cairia fora na mesma hora. Outras mulheres de Drake não dariam a mínima, desde que tivessem o que queriam. Evangeline, porém, não parecia ser o tipo de mulher que pudesse ser comprada. Era honesta demais e ele não conseguia imaginá-la deixando passar uma atividade ilegal. As qualidades que a colocavam acima de qualquer outra mulher que Drake tivesse tido, provavelmente eram as mesmas que o fariam perdê-la. Mas, até aí, o histórico de Drake sugeria que Evangeline não duraria tanto tempo. Mais do que os outros, Justice acreditava nisso. Pelo menos não tempo suficiente para sacar o tipo de negócio em que Drake – e todos os outros – estavam envolvidos. Ela certamente não compartilharia do tipo de justiça que eles faziam. Merda, se ela soubesse que seu ex-namorado ainda estava se recuperando de um chute merecido, ficaria horrorizada,independentemente de quanto odiasse aquele babaca. Justice suspirou. Drake tinha pisado na bola. Evangeline não era como as outras, e isso ia causar muitos problemas. Se Drake ficasse com ela tempo suficiente. Evangeline lançava olhares furtivos em direção a Justice. Ele não se virou, não queria encará-la e causar um clima estranho. Continuou a estudá-la com o canto dos olhos. Várias vezes, ela inspirou e abriu a boca, mas a fechava em seguida e se voltava de novo para a janela. Obviamente queria perguntar ou dizer algo, mas era tímida demais. Por que achava isso tão encantador, ele não tinha ideia, mas, ao mesmo tempo, não gostava de achar que ela tinha medo dele. Esse pensamento era ainda mais ridículo porque ele, como aqueles que chamava de irmãos, gostava de cultivar um medo e um respeito saudáveis nos outros. Mas a ideia de a mulher de Drake estar receosa de dizer-lhe algo? Fazia seu estômago revirar . — Evangeline? Ela virou a cabeça, cheia de culpa, e seus olhos encontraram os dele uma fração de segundo antes de baixar os cílios e fixar o olhar nervosamente no espaço entre os dois no banco. Em um impulso, ele estendeu a mão para cobrir a de Evangeline, e sentiu ela tremer com seu toque. Controlando a expressão facial, Justice lhe deu um aperto reconfortante. — Olha para mim, Evangeline. Embora fosse um comando, a voz dele era suave e encorajadora. Ela levantou o queixo devagar, de modo que seus profundos olhos azuis circundados pelos cílios escuros encontraram os dele. — Quer me perguntar alguma coisa? Eu não mordo. Desde que, é claro, você me pergunte de um jeito educado — Justice concluiu, com
um sorriso. Ela piscou, surpreendida com a provocação do comentário, e então, para surpresa dele, começou a rir . Meus Deus, naquele momento Justice sentiu uma inveja tão fodida de Drake que estava tentado a instruir o motorista a levá-los ao seu apartamento, onde daria seu melhor para fazê-la esquecer o amigo completamente. Depois, apenas diria a Drake que a moça tinha mudado de ideia. Imaginou a si mesmo levando um cascudo e bloqueou esse pensamento. Drake era seu irmão, assim como todos os outros caras mais próximos dele. Mas... Se Drake fizesse como sempre e aquele fosse um caso rápido, Justice estaria esperando. Embora algo lhe dissesse que Evangeline ia mudar o jogo para Drake. Soubesse ele ou não. — Evangeline? — ele disse quando ela se calou, com os olhos ainda brilhando com a vontade de rir . — Er ... senhor ... Ela o mirou, em uma confusão súbita. — Justice — ele disse, com suavidade. — Meu nome é Justice. Nada de senhor . Imagino que vamos nos ver com frequência, então não é preciso formalidade. Ela pareceu pensar sobre o que ele tinha dito, o riso sumindo de seus olhos, sendo substituído por inquietude e confusão. Tratava-se de uma mulher que não tinha ideia de seu lugar na vida de Drake. Era bom Drake corrigir isso logo ou em um estalar de dedo ela já teria ido embora. — Ah, Justice, a que horas o Sr . Donovan... quer dizer, Drake... estará em casa, digo, no apartamento dele? A insegurança dela matava Justice por dentro. Merda, ele queria abraçá-la apenas para lhe dar conforto e tranquilidade, mas, se fizesse isso, nada garantia que Drake não o matasse – ou, ao menos, tentasse matar – quando chegassem a seu apartamento. Sempre foi do tipo que acreditava que dois irmãos nunca seriam separados por uma mulher, mas agora achava que algumas poderiam valer a pena. Repreendeu-se em sua mente pela ideia infeliz, e logo
parou de pensar sobre o que não era possível. — Drake estará em casa às seis e não quer que se preocupe em se arrumar para o jantar . Ele quer comer em casa esta noite. Inquietação aflorou nos olhos de Evangeline. Ela puxou a mão que estava coberta pela dele e a juntou com sua outra mão, apertando as duas com o nervosismo. Mordeu o lábio inferior, a mente a mil por hora. — Preciso parar no mercado mais próximo — ela disse — Por favor? Ele a encarou, perplexo com o pedido inesperado e com o fato de que Evangeline estava claramente aborrecida. Desencanou. As ordens que tinha recebido eram para fazer Evangeline feliz e dar a ela o que quisesse, desde que estivesse segura e Justice estivesse ao seu lado. Apertou o botão do intercomunicador e ordenou ao motorista que parasse no supermercado mais próximo. Pelo canto dos lados, viu o alívio de Evangeline. Vai saber o que estava acontecendo com ela. Minutos depois, eles pararam em frente a uma mercearia gourmet conhecida por selecionar os melhores produtos e por ter uma variedade de produtos importados. Evangeline desceu do carro antes que Justice pudesse sair do outro lado e dar a volta para abrir sua porta. Ela correu em direção à entrada, forçando Justice a dar passos largos para alcançála. Ele só alcançou Evangeline na porta, e ela o mirou com o cenho franzido. — Não precisa ir comigo. Vou demorar apenas alguns minutos. Pode esperar no carro. Tenho certeza de que cumpriu sua cota de compras do dia. Justice franziu o cenho para ela, a mandíbula fazendo uma linha que indicava teimosia. — É preciso, sim. Ela revirou os olhos, claramente de saco cheio. — Beleza então — murmurou, enquanto entrava no mercado. Pegou uma cesta para pôr os produtos, mas ele a confiscou na mesma hora, o que provocou outra careta de Evangeline. Em seguida,falando consigo mesma, apressou-se em percorrer cada um dos corredores, o rosto com uma expressão de extrema concentração. Justice se perguntou que caralho tinha provocado aquela inesperada expedição ao supermercado, mas uma rápida mirada nela foi suficiente para perceber que estava prestes a ter um ataque, e a última coisa que Justice queria era ter que lidar com uma mulher histérica. Ficou quieto e a seguiu pelos corredores, pegando as coisas que escolhia para colocar na cesta. Para sua surpresa, dessa vez Evangeline não escolheu os itens mais baratos. Optou pelas marcas mais caras, comparando os produtos meticulosamente antes de tomar uma decisão. No açougue, Evangeline analisou as ofertas, e Justice quase pôde ver a engrenagem girando na cabeça dela enquanto mordia o lábio inferior, pensativa. Por fim, optou por peixe fresco e, assim que lhe foi entregue o embrulho com os filés, ela correu para a seção de vinhos. Foi ali que ela levou mais tempo, olhando e estudando, falando baixo, para si mesma. Talvez as compras da manhã tivessem sido demais para ela: Evangeline claramente estava ficando louca. Acabou escolhendo duas garrafas. Uma de um vinho tinto caro e outra de um branco também caro e de excelente qualidade. Depois disso, ela ainda passou mais quinze minutos no corredor de confeitaria, e Justice pensou que estava louca de vez – embora ele tivesse espiado os itens na cesta e ficado com água na boca imaginando as deliciosas sobremesas que Evangeline poderia fazer com aquilo. — Terminei — ela disse, embora uma ruga ainda aparecesse em sua testa quando olhava para os itens na cesta. Quase como se tentasse pensar se tinha se esquecido de algo. Depois de uns segundos, ela foi em direção ao caixa, onde Justice despejou os itens da cesta. Quando o caixa registrou as compras, Justice viu Evangeline estremecer e, em seguida, enfiar a mão no bolso e tirar um maço de notas de vinte cuidadosamente dobrado. Com ansiedade, ela olhou para o total na registradora e de volta para o dinheiro em sua mão como se estivesse preocupada por não ter o suficiente. Contou as notas devagar e soltou um suspiro de alívio quando viu que tinha o valor total e ainda vinte de sobra. Justice franziu o cenho e agarrou o pulso dela antes que entregasse a grana para o caixa. Lançou um olhar de reprimenda para ela e sacou o cartão de crédito de Drake para pagar a conta. Evangeline não pareceu nada feliz com aquilo, mas ele é que não ia dizer para Drake que sua mulher tinha tentado pagar algumas centenas de dólares em compras de supermercado quando ela vivia, ou melhor, tinha vivido em um apartamento de merda, trabalhando em um emprego de merda, dando duro para as contas fecharem no fim do mês. Justice entendia de orgulho. E todos os seus irmãos também. Ele – e eles – respeitavam aquilo. Mas Drake ficaria puto se soubesse que Evangeline tinha usado o dinheiro de que claramente precisava para comprar comida para ele. Justice agarrou as sacolas, recusando a oferta de Evangeline para ajudar a levá-las, e foi para a entrada. — Cabeça dura também — ela murmurou. — Todas essas malditas regras. No carro, o motorista pegou as sacolas de Justice, e ele se virou para ela, a dúvida óbvia em seu olhar . — Do que está falando? Ela corou como se tivesse sido pega no flagra. Não era para Justice ter ouvido o que tinha dito. — Apenas constatei outro requisito para trabalhar na Impulse — disse ela. Justice ergueu uma sobrancelha. — Hã? De que requisitos está falando? — Claro, você tem que ser durão e gato para trabalhar na Impulse. Quer dizer, não há uma única pessoa trabalhando lá que não seja linda ou bem durona. E agora percebi que obviamente há mais um requisito. Teimosia. Justice jogou a cabeça para trás e riu. Ainda estava rindo quando escoltou Evangeline até a porta do carro para que ela entrasse. Quando sentou ao lado dela, balançava a cabeça. —Bem, lá se vai uma das chamadas regras — ela murmurou. — Eu quero mesmo saber? — ele perguntou.
— Deixei de fora "nunca sorrir", além de ser durão, atraente e cabeça dura, mas você detonou essa regra, então pelo visto tudo bem dar um sorriso ou outro de vez em quando. Ele riu e balançou a cabeça de novo — Agora podermos voltar para o apartamento? — ele perguntou, exasperado. Ela lhe lançou um olhar desgostoso. — Se tivesse tempo, eu faria essas comprar durarem mais algumas horas. Só para te fazer sofrer . Justice tentou segurar o riso, mas não conseguiu. Gostava daquela mulher e a respeitava para caramba por conseguir se manter controlada sob pressão. Tinha reparado que, para ela, o dia todo tinha sido um passeio no inferno. E também que ficava envergonhada por alguém estar pagando por suas compras. — Você ainda vai fazer, Evangeline — ele disse, com carinho. — Você ainda vai fazer . — Bom, graças a Deus então — ela resmungou. — Odiaria perder a chance de irritar um cabeça dura gato e durão. Ele riu novamente e mandou o motorista levá-los para o apartamento de Drake. Assim que deu a ordem, o clima alegre acabou, e Evangeline ficou calada e meditativa. E rígida. Durante todo o caminho até o apartamento de Drake, ela parecia uma pessoa a caminho da própria execução.

Bom finzinho de domingo
#BoaNoite ✌️😘

   Submissa      (Série The Enforcers #1)  Onde histórias criam vida. Descubra agora