Capítulo 15

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DRAKE REPRIMIU O DESEJO DE OLHAR o relógio de novo, sabendo que o gesto faria Silas e Hatcher perceberem que não estava focado no que deveria, que era a maneira de lidar com uma questão que precisavam resolver com agilidade. E Maddox, aquele maldito homem que vivia escondido, perambulando perpetuamente nas sombras, a distância de um chamado, saberia muito bem onde estava a cabeça de Drake – e não era em um certo Eddie Ryker . Para completar, Justice e Thane estavam sentados no sofá de Drake por razões que ele desconhecia, encostados como se não tivessem nada melhor a fazer do que um intervalo eterno. Trataria dos motivos dos dois para estarem ali assim que terminasse a outra questão urgente. — Então, o que quer fazer, Drake? — Silas perguntou em seu tom tranquilo, sem alterações. Silas era um enigma que Drake nunca admitiria não entender bem. Sabia o bastante sobre aquele homem que considerava um de seus parceiros mais confiáveis e valiosos para não se preocupar se sua lealdade estava depositada no lugar certo. E sabia, apenas a partir do
que tinha conseguido descobrir buscando informações públicas, que a infância de Silas tinha sido o pior tipo de inferno. Mas não sabia muito mais. Com qualquer outro além de Silas, isso deixaria Drake desconfortável. Não contratava homens que usavam sombras como os outros usavam roupas. Mas em Silas ele encontrou uma alma afim, e também um homem que valorizava muito a palavra de outro, em especial, a sua própria. Em todos os anos que trabalharam juntos, nunca tinha visto Silas faltar com a palavra uma vez que a tivesse dado. Independentemente das circunstâncias. Caso contrário, Drake saberia. Fazia questão de saber tudo sobre seus homens de confiança. Mas, pensou, com pesar, tinha aberto uma exceção com Silas, já que ninguém sabia nada sobre o homem além do que ele deixava que soubessem. Drake olhou para Hatcher, cuja expressão era suave e impassível, embora seus punhos estivessem fechados e apertados, um sinal claro de sua irritação. Drake franziu a testa ao perceber . Os homens que demonstravam humor, pensamentos ou intenções eram os mais propensos a serem mortos. — Você vai lidar com isso, Silas — disse Drake, mudando de ideia de súbito, já que antes pretendia dar a missão a Hatcher . Embora tivesse uma confiança implícita em Silas quando se tratava de cuidar dos problemas, aquela tarefa estava abaixo de suas habilidades. Qualquer um de seus homens poderia fazer o que precisava ser feito. E, embora não tivesse problemas em usar qualquer um dos homens que tinha como parceiros já que havia deixado todos ricos, precisava admitir que, de vez em quando, preocupava-se com o peso que Silas carregava sozinho, uma vez que era seu principal cara para "fazer a limpeza e levar o lixo para fora". Silas era valioso demais, muito necessário para as muitas atividades um tanto escusas de Drake. Se Silas soubesse que o pensamento de poupar seu faz-tudo tinha passado pela cabeça de Drake, sentiria-se traído. Ele dava muito valor à lealdade e à execução de qualquer tarefa que Drake lhe desse, independentemente de suas mãos ficarem sujas. Mas a razão pela qual Drake tinha escolhido Silas para aquele papel em particular era justamente porque ele era capaz de se desligar, de fazer o trabalho sem se envolver, sem ter emoções ou sofrer crises de consciência – coisas que Drake exigia de todos os seus homens, mas, em especial, de Silas. Silas não questionaria a decisão de Drake ou seus motivos. Porém, se tivesse sido necessário, teria dito que, entre todos os homens, Hatcher era o que estava com Drake há menos tempo, e ainda precisava provar seu valor não só para o chefe, mas também com os parceiros e irmãos. Ele lançou outro olhar rápido a Hatcher e ficou satisfeito pelo fato de que ao menos o companheiro não estava demonstrando nenhum sentimento em relação à decisão de Drake. Mas também não podia culpá-lo por sua raiva contra Eddie quando Drake queria nada além de pegar aquele babaca para ele mesmo matá-lo. Mas aquilo não era sobre Eddie. Eddie já havia recebido uma mensagem bem clara, cortesia de Silas, Jax e Justice, para manter uma boa distância de Evangeline Hawthorn no futuro. Primeiro que ele, sem dúvida, ainda estava se recuperando. Apesar de ter ido à boate de Steven Cavendar na noite anterior . E, não só teve sua entrada permitida como também foi tratado como VIP e aproveitou-se de todas as vantagens que acompanham esse status. Drake tinha feito o dever de casa em relação a Eddie, e só tinha ficado mais desgostoso, como se fosse possível. O cara não tinha dinheiro, aliás, nem trabalhava, muito menos parecia ter ambição de fazer algo mais do que viver da generosidade dos pais e de jogar dinheiro fora sem pensar, na tentativa de impressionar tanto mulheres quanto homens. Queria algo que não tinha chance de conquistar nunca. Respeito. Era uma parasita sanguessuga, e, uma vez que viu Evangeline, não teve dúvidas de que ela cairia em seu colo como uma ameixa madura pronta para ser mordida. Certamente tinha escolhido a mulher errada, e nada cairia em seu colo. Evangeline queria, precisava, ansiava por um homem forte e dominador, mesmo que, como Drake suspeitava, não tivesse percebido isso ainda. Mesmo que tivesse sido satisfatório na cama, Eddie teria falhado em todos os outros níveis em que era possível falhar com uma mulher . Era fraco, inexpressivo e não tinha a menor consciência sobre seu estilo de vida, que tinha somente graças aos pais. Como filho único, tinha sido descaradamente mimado e não sabia nada sobre o mundo real onde Drake, seus homens e Evangeline viviam, e no qual tinham sido forjados. Era um idiota petulante que acreditava que bastava apontar o dedo para uma mulher para tê-la agarrada a si como uma tábua de salvação. Até Evangeline. E ela não só tinha ferido o orgulho de Eddie, fazendo-o precisar de todo seu charme para seduzi-la, como também tinha feito ele de bobo, e pior, ele sabia, embora nunca fosse admitir . Tinha colocado uma missão para si mesmo: tirar a virgindade de Evangeline e descartá-la no dia seguinte, para nunca mais pensar nela de novo. — Deu uma boa lição no nosso querido Eddie? — Drake perguntou a Silas, mudando, de repente, o pensamento. — Porque acho que se ele saiu e ficou a noite toda festejando na boate do Cavendar, não recebeu metade do que merecia. Sua declaração terminou em um grunhido que fez Maddox se materializar de repente no canto mais distante da sala, onde ficava a porta semioculta. Ele observava tudo com os olhos semicerrados, como se decidisse se era preciso intervir . — Estou surpreso que ele estivesse andando — disse Silas, em seu tom característico, sem emoção. — Está dizendo que ele tem poderes de cura mágicos, então? – Drake franziu o cenho. O sarcasmo pesava sobre o, agora, silencioso cômodo. Hatcher deu de ombros. — Um homem é capaz de muita coisa quando seu orgulho está envolvido. Depois que as primeiras portas se fecharam na cara dele, ele provavelmente se desesperou. E todos sabemos que Cavendar é um michê ganancioso que venderia a própria mãe se pagassem bem. E como Eddie entrou e se ele estava conseguindo andar não seria problema para ele. Só que ele foi visto e não foi expulso. E assim como Cavendar pode ser comprado, duvido que as mulheres que Eddie geralmente tem como companhia deem a mínima para o fato de que ele pareça ter sido atropelado por um caminhão, contanto que as mantenha felizes. E lhes dê carta branca usando o dinheiro de seus pais. — E é por isso mesmo que quero que vá conversar com Cavendar — Drake disse para Silas. Silas acenou com a cabeça. — E depois me conte... — Merda. Quase se esquecera de si mesmo e do fato de que estaria com Evangeline o restante do dia... e da noite. — Falo com você amanhã — ele emendou. — Espero que o assunto esteja resolvido até lá. — Mais uma vez, Silas apenas assentiu. — Deveria ter jogado esse idiota no Hudson — Maddox disse, em tom sombrio, falando pela primeira vez. Um barulho fez os quatro olharem na direção do elevador . Evangeline estava ao lado de Jax, que balançava a cabeça como se dissesse que todos eram estúpidos por não prestarem atenção. Inferno. Quanto da conversa tinham ouvido? Mas Evangeline não olhou nem uma vez para Drake. Concentrou-se apenas em Maddox, a indecisão clara em seus olhos, mas Maddox nem se alterou. Foi até Evangeline, pegou as coisas que ela segurava e, em seguida, jogou-as nos braços de um Silas desnorteado – algo de que Silas não gostou nem um pouco pois chamou a atenção para ele quando estava prestes a se afastar em silêncio, como fazia na presença de todos os recémchegados. E, então, Maddox abraçou Evangeline e deu-lhe um beijo barulhento na bochecha. — Como está a minha refém favorita? — ele brincou. Drake teve que se conter ao ver aquela exibição espontânea e exagerada de afeto. Sabia bem por que ele tinha feito isso. Se Drake não tivesse se distraído, algo que vinha fazendo cada vez com mais frequência desde que Evangeline entrou em sua boate naquela primeira noite, saberia muito bem que ela e Jax estavam subindo no elevador . Inferno, ele teria visto o momento exato em que tinham atravessado a
entrada da boate. Quando Evangeline continuou olhando para Maddox com preocupação, ele lhe lançou um olhar de indulgência e riu. — Não vá ficar tímida comigo agora, querida. Você já me mostrou suas garras. Não se preocupe. Na real, não jogo ninguém no Hudson. É apenas um desejo que tenho. Um cara tem essa reação quando o contador o informa que deve muito mais do que tinha calculado antes – depois de ter pedido uma extensão do prazo para pagar as taxas e de ter pago os impostos devidos pelo atraso, pois todas as minhas K-1s dos investimentos não vão entrar até bem depois de 15 de abril. Até Silas piscou em reação a como Maddox tinha sido convincente. Não tinha passado despercebido para Drake que Maddox tinha, de propósito, usado termos que Evangeline, em suas condições econômicas, não conheceria e, bem, ricos ou pobres, ninguém amava a Receita Federal. Evangeline riu e o som melodioso do riso aliviou a tensão na sala. — Ah, coitadinho. Tenho algo para fazer você se sentir melhor — ela brincou, já que ele tinha brincado com ela. Drake agora estava cerrando os dentes. Evangeline estava ali. Mais de uma hora atrasada. Ele não tinha acreditado na desculpa esfarrapada de Jax sobre um congestionamento de merda, mas ela estava ali, o que significava que todas os outros não deveriam estar . E, no entanto, ali estavam eles. Percebeu então o quanto tinha sido distraído e idiota. Seus homens sabiam que Evangeline iria à boate. Aqueles que não a conheciam estavam, sem dúvida, morrendo de curiosidade para vê-la, e aqueles que já haviam estado com ela queriam apenas uma desculpa para vê-la de novo. De repente, a ameaça de Maddox de despejar alguém no Hudson soou muito atraente, só que, neste caso, seria um monte de gente. Evangeline estendeu a mão para a caixa que Jax segurava, e ele fez um olhar de cachorrinho ferido que fez Drake querer bater a cabeça na mesa. Mas o que era isso? Seus homens estavam virando uns florzinhas? Puta merda! — Me dê a caixa ou não vai ganhar um — Evangeline disse. A tentativa dela de parecer ameaçadora fez Thane e Justice rirem. Jax suspirou e fez um drama elaborado antes de entregar, relutante, a caixa – ou era uma vasilha de plástico tampada? Evangeline abriu a tampa, enfiou a mão lá dentro e, para completa surpresa de Drake, tirou um dos cupcakes que tinha lhe dado como sobremesa na noite anterior . Ela segurou o bolinho sob o nariz de Maddox para provocá-lo. — Melhor agora? Ele estreitou os olhos. — Vai depender se você tiver colocado veneno aí ou não. — Se coloquei, não é nada além do que merece. Tenho certeza de que o seu contador me agradeceria. Outra rodada de riso soou e Drake se recostou em sua cadeira. Qualquer esforço para disfarçar sua irritação desapareceu. Não que alguém estivesse prestando atenção nele. — São cupcakes? — Justice perguntou, incrédulo. Ele e Thane estavam olhando Maddox e Evangeline como se os dois estivessem loucos. Drake até podia ver a graça no fato de que uma mulher com cupcakes havia entrado em seu santuário, onde nenhuma mulher tinha estado antes. Muito menos levando bolinhos. Evangeline virou-se em direção a Thane e Justice, mas Jax limpou a garganta. Evangeline revirou os olhos e deu-lhe uma das guloseimas. Drake teve um pressentimento ruim de que seu anjo iria fazer seus homens comerem em sua mão como cãezinhos adestrados, dando-lhes guloseimas toda vez que se aproximassem. Depois, ela caminhou até Thane e Justice, que estavam descansando no sofá de couro, e, com zelo, entregou um cupcake para cada. O que ela fez em seguida surpreendeu Drake. Primeiro, caminhou até Hatcher, que olhou nervoso para ela e para Drake, como se avaliasse a reação de Drake, ou talvez tentasse determinar se deveria mesmo falar com a mulher do chefe. — Oi — ela disse, em uma voz tímida, e lhe estendeu um
cupcake. — Sou Evangeline. — Hatcher pegou o bolinho e sorriu para ela. — Olá, Evangeline. Sou Hatcher . Mas quando ela voltou sua atenção para Silas, que desde então tinha se camuflado no canto mais distante – um canto tão mal iluminado que Drake ficou surpreso por Evangeline ter localizado Silas com tanta facilidade – o quarto inteiro pareceu prender a respiração. Caminhou até aquele homem grande, que ficou imóvel e silencioso como uma estátua, e emitiu um sorriso trêmulo. Drake percebeu então que, apesar de toda sua falsa bravata, ela estava, de fato, aterrorizada. Toda sua irritação anterior deu lugar a orgulho. Evangeline estava fazendo exatamente o que ele tinha pedido. Entrar em seu mundo e aceitá-lo – e a ele. E ela obviamente sentiu que aceitando Drake, estaria aceitando seus homens como uma extensão dele. Seu ciúme evaporou porque ela estava fazendo aquilo – tudo aquilo – por ele. Ele se recostou, um pequeno sorriso em seus lábios enquanto observava Evangeline inclinar a cabeça para olhar para Silas, que era bem mais alto do que ela. Então ela apenas colocou a mão na vasilha, tirou um cupcake e o estendeu em direção a Silas. — Oi — ela disse, do mesmo jeito como antes tinha se apresentado a Hatcher . — Sou Evangeline. Juro que não envenenei o seu cupcake. Só o do Maddox. — E ela se inclinou para a frente e sussurrou, como se conspirasse. — Me assegurei de que o dele tivesse granulado e cobertura cor-de-rosa. Uma risada soou atrás de Evangeline, mas ela manteve a atenção focada em Silas. Devagar, ele estendeu a mão, com a palma para cima. Ela colocou o cupcake gentilmente em sua mão e ele ficou no mesmo lugar, espantado, um olhar perplexo em seu rosto, como se não tivesse ideia do que fazer com Evangeline. Somos dois, irmão. — Que merda é essa? Agora nós temos festinha do cupcake?

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