Capítulo 23

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EVANGELINE ACORDOU E LOGO SE ACONCHEGOU mais nas cobertas, uma dor leve em suas nádegas trazendo de volta o prazer delicioso que Drake lhe dera. Não tinha a menor vontade de sair do casulo, de se levantar e entrar na realidade. Por isso, ficou ali por um longo tempo, saboreando cada momento da noite anterior . Era como ter o sonho mais bonito, do qual nunca queria despertar . E, então, lembrando-se do já clássico combo bilhete e presente ridiculamente caro com que vinha acordando todas as manhãs desde que se mudara para a casa de Drake, virou-se com relutância, esperando... Soltou um suspiro, suas esperanças caíram por terra. Estava lá: uma caixinha ao lado de um bilhete. A maioria das mulheres acharia aquilo muito romântico. Mas, cada vez que Drake lhe dava um presente, de alguma forma barateava a relação dos dois, e a reduzia a uma transação comercial. Como se estivesse pagando a ela por ... sexo. Quando o melhor presente que poderia dar a ela era poder acordar em seus braços.

Ela se encolheu e, então, se sentou, puxando as pernas contra o peito e envolvendo-as com o braço, abraçando-se enquanto olhava aquela caixinha ofensiva. Não tinha por que adiar, Drake, sem dúvida, deixara no bilhete suas instruções para o dia. Primeiro, abriu a caixa, temendo o que veria. Mas nem ela estava preparada para a extravagância daquele presente. Ela o deixou cair como se estivesse queimando, e encarou horrorizada o mimo que custara dezenas de milhares de dólares. Era uma gargantilha de safiras e diamantes, que reluziu, brilhante, à luz. As pedras eram de tamanhos diferentes, que iam das muito grandes até as mais pequeninas, que estavam incrustadas nas bordas. Era linda, com certeza, mas Evangeline não se via usando aquilo. Será que Drake não tinha aprendido nada sobre ela? Que presentes caros eram totalmente desnecessários? Não lhe dera segurança suficiente de que ele era tudo o que ela queria e precisava? E não presentes todo dia de manhã? Com as mãos trêmulas, abriu o bilhete e, então, leu a escrita, agora familiar . Bom dia, meu anjo. Espero que seu joelho esteja bem melhor e que goste da gargantilha que escolhi especialmente para você. Comparada à sua beleza e aos seus lindos olhos azuis, ela fica sem graça, mas acho que vai combinar muito bem com os dois. Certifique-se de me informar se sair do apartamento. E lembre-se de nunca fazer isso sem um dos meus homens. Aquilo não deveria estar incomodando Evangeline. Achou que tinha superado tudo depois da noite anterior, quando tinha percebido certas coisas sobre Drake e sua necessidade – seu prazer – em cuidar dela e protegê-la. Mas, naquele momento, fora da fantasia, ficava irritada com Drake querer restringir tanto a sua liberdade. Falando nisso, era mesmo necessário armar aquele circo todo cada vez que ela queria deixar o prédio?
— Você escolheu isso — ela lembrou a si mesma. Tinha sido bem avisada sobre os requisitos de Drake, e tinha aceitado de bom grado, concordando com esses requisitos e também sabendo as consequências e recompensas de suas ações. Ah, tudo bem, afinal não ia durar para sempre, certo? Apenas até que... que o quê? Que Drake se cansasse dela? Decidisse que queria um novo macaco de estimação? O pensamento a entristeceu, e ela se repreendeu por querer tudo. Ter o bolo e devorá-lo também. Tinha que parar de pensar demais. Viver o momento ao menos uma vez na vida. Não pensar sobre o dia seguinte até que ele chegasse. Por um período glorioso em sua vida, ela ia aproveitar e colocar as suas necessidades acima das necessidades dos outros, e se recusava a passar todo seu relacionamento com Drake sentindo-se culpada por, como ele mesmo tinha dito, apreciar o passeio. Quando, em sua vida, tinha cedido a algum impulso? Mandado a cautela às favas e mergulhado, sem pensar, em alguma coisa? Ah, essa era fácil: nunca! Claro que havia coisas que ela gostaria de fazer . Visitar as amigas, por exemplo. Ou apenas desfrutar de um passeio lá fora. Mas, sinceramente, o que mais precisava era ter um descanso de toda aquela testosterona abundante que sempre havia onde Drake estava – ou melhor, onde ele não estava. Se tivesse que passar mais um dia com um dos homens dele na sua cola, Evangeline talvez gritasse. De repente, um dia sozinha sem deixar o apartamento de Drake pareceu mais atraente do que antes. Evangeline se levantou e tomou um banho sem pressa. Depois, lembrou-se de passar a pomada em seu joelho. Era tarde para um café da manhã, então avaliou suas opções de almoço. Estava tentada a pedir um delivery, embora tivesse muitos ingredientes ali para que fizesse algo para si mesma, rapidinho. Comida sempre fora um luxo para ela, um luxo a que raramente se dava, a não ser em ocasiões especiais. Quanto mais pensava nisso, mais tinha vontade de comer uma comida chinesa ou tailandesa boa de verdade. E por que não? Tinha muito dinheiro. E os servos de Drake não estavam por perto para sacar o cartão de crédito do bolso. Mas ela não deveria estar economizando? Não podia acreditar que as coisas estavam garantidas. E se Drake, de repente, se cansasse dela e a mandasse embora? Ela precisaria de cada centavo para se sustentar até encontrar um emprego e um novo lugar para morar . Porque de uma coisa já sabia: se Drake terminasse o relacionamento, não ia voltar para seu velho apartamento sabendo que ele pagara o aluguel por dois anos. Mandando para longe aqueles pensamentos desagradáveis, Evangeline foi para a cozinha e pegou o telefone para procurar lugares nas redondezas que entregavam no apartamento de Drake. Após alguns frustrantes minutos iniciais, percebeu que não tinha a menor familiaridade com aquela parte da cidade e quase desistiu da ideia de pedir um delivery. Mas então lhe ocorreu que, certamente o porteiro ou o concierge poderiam lhe ajudar . Feliz por não ter que desistir do almoço agora que já tinha se acostumado com a ideia e não conseguiria tirá-la da cabeça, Evangeline terminou de se vestir e pegou o elevador até o saguão. Quando ela saiu, olhou ao redor, um pouco desconfortável, sem saber direito onde encontraria o concierge. Das outras vezes que teve de passar correndo pelo lobby não conseguiu observar onde ele ficava. Foi salva pelo porteiro, que se aproximou dela com um sorriso de boas-vindas no rosto. — Senhorita Hawthorn, posso ajudá-la? — Sim — ela, disse, com gratidão. — Vai soar muito bobo. Ela corou, mas o porteiro apenas sorriu e lhe deu um olhar gentil. — Garanto-lhe que nada que pedir será bobo. Como posso ajudála? — Bem, er ... pode me dizer onde encontrar o concierge? Sabe, eu queria pedir uma comida chinesa ou talvez tailandesa, mas não conheço muito esta parte da cidade e não tenho ideia de quem entrega aqui ou não. Você acha que o concierge saberia me dizer? — Claro! — O porteiro parecia horrorizado. — Mas, senhorita Hawthorn, da próxima vez não precisa se incomodar em você mesma ligar . Posso lhe dar vários menus, bem como o serviço de entrega que o Sr . Donovan usa com mais frequência. Com ou sem um menu, tudo que precisa fazer é interfonar e falar comigo ou com o concierge sobre o que deseja e, na mesma hora, cuidaremos disso. Entregaremos a comida em seu apartamento pessoalmente. — Ah — ela disse, devagar, entendendo que, em sua ignorância, tinha evidentemente cometido uma gafe. — Já sabe do que gostaria? Sei de um excelente restaurante que oferece comida chinesa e tailandesa a apenas alguns quarteirões daqui. Posso providenciar para que entregue o que você gosta em apenas alguns minutos. Ela recitou um longo pedido que incluía vários aperitivos e acompanhamentos, pois queria provar tudo. O porteiro apenas assentiu e depois explicou a Evangeline que ela deveria voltar para o apartamento, e que traria a comida em vinte minutos ou menos. — Mas espere. Preciso saber quanto custa — ela protestou, começando a tirar uma nota de vinte do bolso. Mais uma vez, o porteiro pareceu horrorizado e, na mesma hora, levantou a mão em protesto. — Não posso aceitar seu dinheiro, senhorita Hawthorn. O Sr . Donovan não ficaria nada feliz. Fui instruído a cuidar de todo e qualquer pedido seu. Ele cuidará de tudo, por favor, não se preocupe. Evangeline suspirou. Claro. Por que ela não tinha adivinhado? Ainda assim, não querendo mais aborrecer o gentil porteiro, ela sorriu e enfiou o dinheiro de volta no bolso. — Obrigada, senhor . E, por favor, me chame de Evangeline. Senhorita Hawthorn soa formal demais, e, bem, como tenho certeza de que já percebeu, estou longe de ser o tipo de garota que precisa ser chamada de senhorita qualquer coisa. O homem sorriu, aparentemente feliz com a abertura de Evangeline. — Então por favor me chame de Edward, porque também não estou muito acostumado com "senhor". — Edward, então — ela disse, ampliando seu sorriso. — E, Evangeline, por favor me avise quando lhe puder ser útil.

   Submissa      (Série The Enforcers #1)  Onde histórias criam vida. Descubra agora