Capítulo 21

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EVANGELINE NÃO DISSE O QUE ESTAVA SENTINDO, mas o Dr . McInnis pareceu ter percebido que ela estava angustiada e agitada – talvez o fato de ela ter ficado o tempo todo murmurando que aquilo não era necessário tenha sido uma boa pista. Ele deu um sorriso reconfortante, disse que iria atendê-la bem rápido e que não precisava se preocupar . Mas quando ele falou que Evangeline precisaria levar alguns pontos porque o corte tinha sido bem profundo e havia o risco de uma infecção, se ele fosse deixado aberto a bactérias, germes e sabe Deus o que mais, seu nível de ansiedade disparou. Foi Silas que a acalmou e disse, natural e sério, que ela estava atrasando todo o processo. Que se relaxasse e permitisse ao médico fazer o que achava necessário – e, no fim das contas, aquele era o médico – já teriam terminado e poderiam estar de volta ao apartamento de Drake. Ela pegou na mão dele, mais para seu conforto do que para qualquer outra coisa, e lhe deu um aperto de agradecimento, perguntando-se por que parecia ser a única a ver o homem gentil e
educado através da aparente rigidez daquele homem. Uma rigidez que provavelmente tinha sido moldada por necessidade. Tinha a mesma impressão a respeito de todos os homens de Drake. Que talvez nenhum deles tivesse tido uma infância fácil e que todos tinham lutado muito para construir o caminho para o sucesso, portanto mereciam cada parte da grana e do respeito que exigiam. Com certeza, eram um grupo diverso, que incluía desde o refinado Drake e as palavras suaves que ele parecia sempre ter na ponta da língua aos homens mais rústicos, que tinham a esperteza das ruas, como Zander e, bem, Justice. Apenas de uma maneira diferente. Silas era uma misteriosa combinação do estilo refinado e cheio de sofisticação de Drake com a ousadia que Zander e alguns dos outros tinham. Mas a única característica comum a todos era aquela atitude de não dar a mínima ao que os outros pensam. Não tinha dúvida de que, apesar de ter sido muito paciente e gentil com ela, Silas não era assim com todo mundo. Ela tinha visto uma ponta de frieza em seus olhos. E de dor . Duvidava que ele tivesse percebido que ela tinha visto aquilo e, se tivesse, sabia que ele não ficaria feliz. Mas ela era uma observadora de pessoas. Para mulheres como ela, observar era o mais próximo que conseguia chegar dos estilos de vida dos outros e, assim, desfrutava um pouco do mundo alheio através da observação. Como resultado, em geral enxergava muito mais do que uma pessoa comum. Estudava as pessoas, observava quando elas não sabiam que eram observadas. Era nesses momentos que a maioria delas deixava escapar e revelava o que costumava tentar esconder . Era muita pretensão achar que sabia algo sobre Silas, seu passado e suas razões de ser . Mas ela intuía nele um tormento interior antigo, vindo da infância. E não era na infância que a maioria das pessoas eram moldadas? A família ou a falta dela, as defesas aprendidas e a capacidade de lidar com os outros e criar seus próprios escudos para sobreviver . Creditava tudo que era à sua educação, ao amor e ao apoio incondicional que recebera dos pais e sua constante orientação. Às convicções que os dois tinham passado a Evangeline. Os pais dela eram pessoas boas. As melhores. Ela era uma das sortudas, diferentemente de Silas e, ela acreditava, da maioria dos homens de Drake, talvez até do próprio Drake. Ele era um homem distante que, dentro de si, guardava um fogo ardente. Era muito severo sobre o que considerava seu código pessoal. Ela não precisava de um manual para saber disso. Bastava olhar para ele para ver que, muito provavelmente, o passado tinha moldado o homem que tinha se tornado. Um homem por quem estava irremediavelmente atraída, a quem não conseguia resistir, mesmo quando sua mente, ou melhor, sua sanidade, questionava seus motivos e suas decisões e, com frequência, queria saber se tinha perdido a cabeça ao mergulhar em uma relação tão extrema com um homem que mal conhecia, de forma tão imprudente, sem uma avaliação ou consideração mais cuidadosa. E, mesmo assim, ainda que soubesse que tinha pela frente um longo caminho antes de conseguir arranhar a superfície deste homem complicado e misterioso, ela tinha vontade e sim, uma sensação de desafio, de ser capaz de descascar camada após camada até chegar ao coração dele. Só então compreenderia perfeitamente o que tinha feito de Drake aquele macho alfa inflexível, intransigente e dominador . Mas não achava nenhuma dessas características ruins. Não quando elas se expressavam de maneira tão deliciosa. Bom, mas naquela manhã Evangeline tinha desobedecido Drake descaradamente e ele tinha ficado puto e não parecia nem um pouco feliz. Ela sugou seu lábio inferior, mordiscando nervosa, ao pensar em quais seriam as consequências de suas ações e qual seria a reação de Drake quando chegasse em casa. Embora sua culinária pudesse distraílo, duvidava de que conseguiria dissuadir Drake se ele estivesse planejando falar sobre sua desobediência, algo que ele havia dito que não toleraria de maneira nenhuma. E, pensando bem, Evangeline sabia que ele estava certo e que ela tinha agido como uma criança petulante e birrenta, querendo impor alguma coisa fazendo aquilo. Sabia as regras. Sabia de cor . E Drake estava certo. Tudo que ela precisava ter feito era pegar o telefone e ligar para ele, dizer o que queria e ele provavelmente teria concordado. Lembrou-se de uma das coisas que Drake tinha escrito no bilhete e se sentiu mais culpada ainda. Ele tinha dito a ela para ficar em casa e descansar, que um de seus homens iria às compras para trazer tudo o que ela precisasse. As palavras exatas tinham sido: Fui bem duro com meu anjo ontem à noite. Evangeline suspirou. Ele só estava cuidando dela e tinha sido gentil. E ela tinha sido uma vaca, entendendo tudo errado e se exaltando por achar que não podia nem mesmo ir ao mercado sem uma grande operação de segurança. Devia desculpas a Drake. Desculpas sinceras, e não frases prontas, que dissessem a ele o que ela achava que ele queria ouvir, com objetivo de apenas acalmá-lo. — Evangeline? O tom preocupado de Silas interrompeu seu devaneio silencioso. — Está sentindo alguma dor? Ele anestesiou a área e você não deve sentir os pontos. Se sentir, fale para gente na mesma hora. Do local onde se preparava para suturar o corte, o médico a mirou, preocupação em seus olhos. — Posso lhe dar uma injeção para dor . Vou dar uma com antibióticos e te passar uma pomada para aplicar três vezes por dia. Não acho que um antibiótico oral seja necessário nesse caso. Porém, se notar qualquer vermelhidão, sensibilidade ou inchaço na área e, principalmente, se sentir-se mal e tiver febre, mesmo que baixa, quero que volte na mesma hora para eu te passar antibióticos. Ela retribuiu com um sorriso tranquilizador . — Estou bem. De verdade. Não estou sentindo nada. E não preciso de medicação para a dor . Se doer mais tarde, tenho certeza de que um analgésico será mais do que suficiente. Estava muito preocupada pensando em todos os erros que cometi hoje para perceber qualquer desconforto no joelho. É meio chato quando a gente percebe que agiu como uma criança birrenta, se apoiando em razões ridículas para ficar emburrada.

   Submissa      (Série The Enforcers #1)  Onde histórias criam vida. Descubra agora