Capítulo 10

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QUANDO EVANGELINE ACORDOU, DUAS COISAS estavam evidentes. Uma, Drake não estava mais na cama com ela, e duas, era quase o fim da manhã. Era quase meio-dia e, no entanto, ainda se sentia exausta e tudo o que queria era se aconchegar mais fundo nas cobertas e voltar a dormir . Ao se ajeitar, buscando uma posição mais confortável, virou-se para o lado em que Drake tinha dormido e sua mão instintivamente procurou um lugar quentinho, ou qualquer outra prova de que a noite anterior não tinha sido um sonho. Então, seu olhar caiu sobre um pedaço de papel dobrado, com o seu nome escrito nele. Forçando-se a se sentar, cruzou as pernas, estendeu a mão para o bilhete e o abriu, hesitante, sem saber o que poderia estar escrito ali. Sua sobrancelha franziu quando ela leu o conteúdo. Suas coisas estão na sala de estar, para colocar onde quiser . Mas, para que saiba, somente seus objetos de valor afetivo foram trazidos. Suas roupas, sapatos e acessórios foram jogados fora. Um dos meus homens estará aguardando para levá-la para fazer compras do que quer que necessite. E quero que compre tudo de que precisa. Meu homem terá uma lista de acessórios necessários, e os vendedores nas lojas a que for levada já receberam minhas instruções, bem como as suas medidas, e, quando chegar, já terão feito uma seleção adequada para a sua avaliação. Medidas? E, falando nisso, o que havia de errado com suas roupas? Como assim ele as tinha jogado fora sem nem falar com ela? Que desperdício foi esse? Para os padrões de Drake, as roupas com certeza não eram caras, mas ela tinha que economizar para comprar cada item e nunca tinha tido o luxo de sair e comprar um guarda-roupa inteiro ou coisa parecida. Comprava uma calça jeans ou uma camiseta ou um par de sapatos. E quando tinha grana. Mandar dinheiro para os pais era o primeiro item na sua lista de prioridades. Juntar um pouco para si vinha em segundo, mas bem lá embaixo nessa lista. Doía que Drake tivesse descartado desse jeito tão imediato as roupas que Evangeline tinha ralado para conseguir comprar . E daí que tinham sido compradas em um brechó ou em uma liquidação de um shopping popular? Tinha pago por cada peça com o próprio suor . Ninguém lhe tinha dado nada e ela se orgulhava disso. Nunca uma das suas amigas tinha precisado cobrir sua parte no aluguel do apartamento, porque Evangeline cuidava para que depois de enviar o dinheiro para a família, tivesse o suficiente para pagar o combinado tanto do aluguel quanto das compras de supermercado. Ela também cozinhava bastante em casa para não gastar comendo fora, o que era mais uma economia. Estava claro que Drake tinha vergonha de Evangeline, e isso acabava com ela. Ela tinha seu orgulho. Sabia que não era nada de mais, e ainda não conseguia entender o que fazia ali, naquele apartamento, com instruções para ir comprar um novo guarda-roupa inteiro, do qual uma única peça custaria mais do que todas aquelas que Drake tinha jogado fora com tanta facilidade. Sentiu-se... humilhada. Assustou-se e seu pulso se acelerou quando um telefone tocou ao lado da cama. Olhou com atenção, procurando de onde vinha o som, para ver um celular caro e supertecnológico que ela teria de economizar durante um ano para poder comprar e que definitivamente seria um gasto fútil. Olhou de novo para o bilhete. Ali, Drake informava que aquele telefone era dela e que iria ligar mais para o fim da manhã. Atendeu o telefone, vacilante, torcendo para ter apertado o botão certo, e murmurou um "oi" com hesitação. A resposta dele foi direta, formal. — Justice está a caminho. Já deve até ter chegado. Vai te levar às compras. Ela sentiu uma decepção inesperada porque não era Maddox. Ele tinha sido o mais legal com ela, e não era tão intimidante quanto alguns dos outros homens de Drake. E então balançou a cabeça, estava louca. Eram todos perigosos e completamente estranhos, e, no entanto, devia confiar neles porque Drake tinha instruído assim. Evangeline hesitou e mordiscou o lábio inferior, incomodada por Drake ter determinado que ela precisava ir às compras. Se não era boa o suficiente do jeito que era, com certeza não ia mudar tudo em si mesma só para atender aos padrões dele, qualquer que fosse o status dos dois, já que não tinham definido isso ainda. Drake pareceu entender o silêncio de Evangeline, e ela se perguntou se deveria adicionar "leitura de mentes" à crescente lista de qualidades dele, embora parecesse que não houvesse nada que Drake não pudesse fazer ou realizar . Mas dinheiro, ou melhor, ter dinheiro, muito dinheiro, parecia vir com um conjunto de regras e parâmetros completamente diferentes, que incluíam muito mais coisas que se era obrigado a fazer do que o contrário. — O que foi, Angel? — ele perguntou com uma voz suave que sugeria que não ficaria satisfeito se ela simplesmente respondesse que "nada" ou fingisse que estava imaginando coisas. Seria um insulto para sua inteligência superior . Ela se encolheu, não querendo entrar no que a estava incomodando. Em voz baixa e calma, ela respondeu: — Por que você jogou fora todas as minhas roupas, inclusive minhas calcinhas e meus sapatos? Se não sou boa o suficiente para você do jeito que sou, por que me transformar em algo que eu não sou? Não seria real. A menos que seja o que você queira e o que qualquer mulher faria. Uma mulher que você brinca de vestir como se fosse uma boneca, para torná-la boa o suficiente para ser vista na sua companhia. Tenho orgulho de quem e do que sou — disse, com firmeza. — Paguei por cada peça que você jogou fora sem a menor consideração. Gostava delas. E, além disso, ninguém me deu ou as comprou para mim. Batalhei por tudo que tenho, e, jogando fora praticamente tudo o que possuo, você me mandou uma mensagem alta e clara de que não sou boa o suficiente e está enviando um de seus servos para fazer compras comigo de modo que eu não te faça passar vergonha na frente dos outros. Drake ficou mudo e ela ficou tensa porque quase podia sentir, pelo telefone, a raiva dele borbulhando. Engoliu em seco, nervosa, e fechou os olhos, pensando que talvez ele estivesse puto o suficiente para apenas desistir dela e deixá-la voltar para casa. Em vez disso, Drake suspirou, e ela o imaginou impaciente, passando a mão pelo cabelo, os lábios fazendo aquela careta firme que o faz parecer tão intimidante. — Angel, suas roupas são umas merdas. Não me leve a mal. Você sendo você, tão bonita como é, consegue brilhar mesmo com elas. Outras mulheres nunca conseguiriam ficar tão lindas com aquelas porcarias. Não tem nada a ver com você me envergonhando, e com certeza não tem nada a ver com você não ser boa o suficiente para mim. Tem tudo a ver com o fato de que você agora é minha e eu cuido do que é meu. O que significa que eu pago tudo o que você usa: sapatos, calças jeans, vestidos e, especialmente, a lingerie. Queria fazer algo legal para você e você precisa de roupas mais bonitas, não aquelas merdas que se compra em brechós. Uma mulher minha nunca terá nada que tenha sido usado por outra mulher . Ponto final. Então, tire agora da sua cabeça essas idiotices de "não ser boa o suficiente" e de "estar me envergonhando" ou vai me irritar . Porque é uma bobagem

completa, e não vou admitir você pensando isso toda vez que estiver usando algo que comprei para te dar . Evangeline ficou atônita, em silêncio, e se sentou na beira da cama, boquiaberta. Dessa vez, no entanto, Drake não entendeu o silêncio como sinal de que estava chateada ou zangada, como antes. Como, diabos, aquele homem sabia quando falar alguma coisa se estava a quilômetros dela e não podia vê-la nem ler sua linguagem corporal e suas expressões faciais? — Preciso ir agora. Tenho uma reunião importante. Justice deve estar aí em breve, se é que já não está, então você deve se vestir porque vou ficar puto se outro homem vir o que é meu e o que só eu posso ver . Ele vai te levar para comer e depois às compras. Não quero você com fome. E ela achou que não poderia ficar mais nervosa do que já estava. — Preciso saber se você está ouvindo — Drake disse, impacientemente. — Responda, Angel. Me dê um OK. — Tudo bem — ela disse, finalmente, quase sussurrando. — Ótimo. — Dava para ouvir a satisfação na voz dele. — Agora mexa-se e vista-se logo para que Justice não veja o que não deve e eu não precise dar uma surra nele. Evangeline pensou que Drake já tinha desligado quando ouviu: — E, Angel, só para que saiba, não ficarei nada feliz se não quiser aceitar qualquer um dos itens que preparei para você. Bem devagar, ela finalizou a ligação e deixou o telefone cair na cama. Então, olhou mais uma vez para o bilhete que ainda não tinha terminado de ler . Começou pelo início de novo, mas pulou rapidamente para as partes que ainda não tinha lido. Bem no finalzinho, com a letra de Drake, estava escrito: E ligue para as suas amigas e passe o número novo. Assim não será necessário que um de meus homens as expulsem de novo daqui às 5 horas da manhã de novo. Ela riu e puxou os joelhos para o tronco, abraçando-os ao seu corpo enquanto olhava em volta, maravilhada. Aquilo estava mesmo acontecendo? Como, pelo amor de Deus, ela tinha caído naquele notório buraco de coelho e ido parar em uma realidade alternativa? Mandou embora a sensação esmagadora de que estava perdendo o controle rapidamente e ligou primeiro para Steph, porque a última coisa que queria era a polícia irrompendo no apartamento de Drake determinada a resgatar a sequestrada. Para seu alívio, as três amigas estavam juntas no apartamento e a colocaram no viva-voz, o que significava que não precisaria contar a mesma história maluca três vezes. No tom mais controlado que conseguiu, relatou os eventos que terminavam com ela indo ao apartamento de Drake com ele. As reações das meninas foram explosivas. — Perdeu a cabeça? — Nikki gemeu. — Vangie, o que sabe sobre esse cara? E se você desaparecer e a gente nunca mais tiver notícias suas? Evangeline suspirou. — É pedir muito querer um pouco da confiança das minhas melhores amigas? — A gente só acha que você deveria dar um pouco mais de tempo para o que está rolando, de preferência, longe dele, onde você não está impressionada — Lana disse, diplomática. — Você tem que admitir, isso é super—repentino e completamente diferente do seu jeito de fazer as coisas. — É verdade, mas ir para a Impulse também era, e vocês não se importaram em me coagir a fazer aquilo — disse Evangeline. Até então, Steph tinha ficado em silêncio, e Evangeline deveria ter sacado que o pior estava por vir . — E quanto tempo acha que vai levar para esse Drake se cansar e te descartar? O que diabos você vai fazer, Vangie? Você não pode depender de um homem, especialmente de um com o poder que ele tem. A dor calou fundo no coração de Evangeline, ela inspirou com força e, repentinamente, o que as amigas devem ter ouvido pelo telefone, a julgar pelo silêncio que se seguiu. Mas o que mais incomodou Evangeline foi que Steph tinha acertado em cheio na sua insegurança, uma insegurança que vinha crescendo, sobre quanto tempo aquele lance com Drake duraria. — Isso foi desnecessário, Steph — Lana interveio, com raiva. — Está agindo como uma vaca ciumenta e não combina com você. Deixe a Vangie. Desde quando a gente a conhece, ela nunca fez nada por si mesma. Talvez seja a hora de fazer, e de viver um pouco. — Preciso ir — Evangeline disse, calma. — Tenho que estar vestida e pronta para sair em dez minutos. — Espere, Vangie, antes de ir — Nikki disse, em um tom apressado. — O proprietário do apartamento veio aqui de manhã para nos entregar um recibo e um contrato de aluguel controlado. O aluguel foi pago antecipadamente por dois anos, com um contrato garantindo que não haverá aumento nos próximos dez. Que doidera é essa? — Drake não queria que minha saída causasse problemas financeiros a vocês —Evangeline explicou, em voz baixa. — Sorte de vocês que, depois que ele se livrar de mim, ainda poderão morar em um apartamento com aluguel pago e terão a garantia de não ter aumento por um bom tempo. Então ela desligou bem rápido, ainda mordida pelo comentário de Steph.

#BoaMadrugada 😉😴

   Submissa      (Série The Enforcers #1)  Onde histórias criam vida. Descubra agora