"Não chores porque acabou, sorri porque aconteceu" - Dr. Seuss
•Dakota•- É apenas uma picada K, não dói nada - tenta tranquilizar-me Jordan, a minha melhor amiga que, ao contrário de mim, não tem medo de tirar sangue.
- Empresta-me os teus fones e dá-me uma pastilha - eu peço já branca e séria acomodando-me no assento.
- Não trouxe fones mas tenho aqui uma pastilha - ela diz remexendo na sua mala e passando-me uma pastilha. Tiro o papel e coloco-a na boca apressadamente.
- Eu vou buscar café, ok? - ela avisa-me e eu assinto com a cabeça sem olhar sequer para ela, de tão nervosa que estou.
- Ai desculpa - ouço ela reclamar ao longe, dirijo o olhar para ela e percebo que ela foi contra um homem que estava a passar a porta. Ela é muito desastrada. Noutra ocasião, rir-me-ia.
Fico a olhar uns longos segundos para o homem e noto que a sua cara não me é estranha. É bonito. Penso para mim própria e de repente sinto uma picada no braço esquerdo. A enfermeira acaba de me espetar a agulha na veia sem se ter dignado a avisar. Bendita seja.
Masco a pastilha com mais força e velocidade e fecho os olhos com força, pelo que me pareceu uma eternidade. Não posso correr o risco de olhar para a seringa cheia de sangue.
- Ela tem medo de sangue - ouço a voz de Jordan dizer ao homem bonito, cuja cara não me é estranha, que está a olhar fixamente para mim.
Eu tenho a audição bastante apurada e o médico de inumanos contou-me que para além de ter os sentidos muito mais apurados que o do resto das pessoas. Apesar disso, não sou inumana, não tenho nada de humano no meu ADN, a única coisa de igual é a aparência.
Eu, apesar de ter os olhos fechados, consigo sentir os seus olhos postos em mim.
Abro os olhos depois de uns segundos da enfermeira tirar a agulha da minha veia e me ter colocado um penso por cima.
- Bem, penso que é tudo. Os resultados sairão dentro de 10 dias úteis - ela avisa-me escrevinhando qualquer coisa num papel - Fez a sua última tatuagem há quanto tempo?
- 3 semanas - eu respondo imediatamente. Pessoas que fazem tatuagem há menos de um ano não podem doar sangue.
Ajeito o penso e levando-me calmamente do assento, pegando na minha mala ao mesmo tempo. Tiro de lá de dentro uma barrinha de chocolate.
- Vês correu tudo bem! - diz animadamente Jordan assim que me aproximo dela. Ela está ao lado do homem bonito que eu penso que conheço, que está agora com um leve sorriso no rosto.
Reparo nele com mais pormenor. É bastante alto (principalmente para mim que tenho uns meros 163cm), musculado e loiro. Olhos azuis e rosto bonito e atraente. Não deve ter nem 30 anos.
- Quem és tu? - eu pergunto-lhe abrindo a barra e trincando-a em seguida.
- O meu nome é Steve Rogers - ele apresenta-se estendendo-me a mão que eu aperto com a minha mão livre.
Dou mais uma trinca à barrinha.
- Capitão América - Jordan mexe os lábios de forma a ele não ouvir.
- E o que é que a SHIELD quer comigo desta vez? - eu pergunto com um leve suspiro, ele sorri não parecendo muito surpreso com o meu raciocínio rápido. Há um ano atrás a SHIELD tentou recrutar-me como agente. Recusei de imediato.
- Talvez fosse melhor falarmos num local mais privado - ele pede.
Eu anuo acabando de comer a barrinha.
(...)
- A minha resposta não mudou. Não quero ter nada a ver com a SHIELD - eu digo antes sequer de Steve falar, depois de já nos encontramos num local mais reservado, que não passa de um armário vazio do hospital. Jordan ficou do lado de fora.
- É diferente - ele diz calmamente e eu apenas abano a cabeça.
- Mas força, convence-me - eu acabo por dizer ao ver a sua cara tão desesperada por um 'sim' da minha parte.
- Estou a falar de uma força à parte da SHIELD. Não temos que lhes obedecer, eles apenas nos vão dar missões e nós não temos que as aceitar se não o quisermos - ele explica.
- Então quem é o responsável por aceitar ou não as missões que a SHIELD nos propõe?
- Isso é algo que todos em conjunto teremos de decidir - ele responde. Bem gostava que as coisas fossem sempre assim tão fáceis.
- E quantas pessoas estamos a falar? E que missões vamos fazer? - eu pergunto, sentindo a minha curiosamente elevar-se um pouco. A verdade é que ainda não estou completamente convencida a juntar-me a este tipo de coisas. Não acho que tenha, sequer, o perfil para tal.
- Até agora somos 11. O tipo de missões de salvar o mundo de ameaças que soldados normais não conseguem - ele responde e aí fico ainda mais curiosa.
- Tu e mais quem mesmo? E que poderes têm? - eu pergunto morta por saber quem são as outras 10 pessoas que já estão neste grupo. Ele conseguiu despertar total interesse em mim.
- Isso quer dizer que aceitas juntar-te a nós? - ele pergunta com um sorriso contente.
- Sabes o porquê de eu estar a usar estas luvas apesar de estar cerca de 30 graus lá fora? - eu pergunto delicadamente e ele olha para as minhas mãos.
- Eu vi o video. - ele diz apenas, sem responder à minha pergunta. O vídeo. O estúpido vídeo. O vídeo que me fez cair sobre a alçada da SHIELD. O vídeo que mostra eu a saltar para frente de uma pessoa levando um tiro por ela mesmo ao lado do meu coração. Na altura simplesmente me ocorreu fazer aquilo. Isso não faz de mim uma heroína.
- Milhares de pessoas, senão milhões, fariam ou já fizeram o mesmo - eu digo apenas com um suspiro. Não considero que seja algo de extraordinário.
- Nem sequer hesitaste.
- Eu curo depressa, eu sabia que aquilo não me ia matar.
- Se acertasse no coração matava-te - ele argumenta convicto.
- Mas não acertou. - eu contraponho.
- E é por isso que eu estou aqui.
- Só por causa disso? - eu inquiro-o cruzando os braços sobre o peito.
- Foi a causa mais importante.
- Não para a SHIELD . Eles querem apenas usar-me para atingir os seus fins.
- Eles não te vão usar, Dakota. Eu asseguro-te isso. Eu serei o teu tutor, irei ajudar-te a controlares o teu poder. Eu e o resto da equipa. Não és a única nessa situação.
- Não precisas de prometer nada. Apenas vem comigo e eu mostro-te. Podes vir com a tua amiga se quiseres - ele acrescenta vendo que eu ainda não estou totalmente convencida.
- Promete que quando eu quiser sair não me obrigam a continuar. E que me deixam em paz se eu assim o quiser - eu digo depois de longos minutos a ponderar na sua proposta.
- Eu prometo.
- Sim, eu quero ir com a Jordan.