"Não vás tão docilmente nessa noite linda" - Dylan Thomas
• Dakota •
- Sua Alteza! - um guarda exclama surpreso quando me vê fazendo uma vénia, um pouco atrapalhado.
- Leva-me às masmorras onde colocaram Erik. - eu ordeno de imediato sem perder tempo.
- Desculpe, mas não tenho autorização para tal, Sua Alteza. - ele nega e estou prestes a passar-me quando ouço uma voz feminina atrás de mim, completamente desconhecida.
- Ela deve querer saber notícias do seu amigo. Mas talvez possa explicar-lhe primeiro as razões de ele estar preso. - a voz diz, num tom autoritário e confiante.
Viro-me e deparo-me com uma mulher deslumbrante. Alta, loira com o cabelo muito comprido e brilhante e olhos azuis. Um corpo de supermodelo. E linda de morrer. O completo oposto de mim.
- E quem és tu...? - eu inquiro-a de forma neutra franzindo as sobrancelhas. Nunca a havia visto na minha vida. E tem tudo menos ar de soldado ou alguma coisa relacionada com o facto de estar a dar ordens aos guardas! Está vestida com um típico e bonito vestido azul asgardiano.
- Oh claro que não sabes quem sou... O meu nome é Cecilie, sou a noiva de Loki. O seu irmão. - ela esclarece sorrindo, mostrando os seus dentes brancos e alinhados.
Sinto o meu coração partir-se aos bocados. Sinto-me ficar sem ar. Sinto o enorme esforço que estou a fazer para não deixar que lágrimas escorram pelo meu rosto.
- Parabéns. Agora quero ver Erik. - eu digo neutra, sem sorrir de volta. Sou ótima a esconder as minhas emoções. É como se colocasse uma máscara na cara impossibilitando as outras pessoas de saberem o que estou a sentir.
- Erik descobriu-se ser um demónio enviado por Hella para lhe dar informações sobre si. - ela diz agora séria e profissional. Eu olho-a séria e atentamente. De seguida abano a cabeça. Como que a tentar distrair-me do facto de o meu mundo estar completamente virado de cabeça ao contrário.
- Suponho que hajam provas que sustentem essa teoria. - eu acabo por dizer depois de ponderar no mais acertado a dizer agora. Estou prestes a passar-me por completo. E continua-me a doer a cabeça. É como se estivesse alguém a tocar bateria dentro do meu crânio. Constantemente.
- Sim. - ela confirma assentindo com a cabeça, sem explicar nada em concreto.
- Ok. Agora quero vê-lo. Onde é que ele está?
- A Dakota ainda não percebeu a gravidade da situação... Erik é um criminoso de alto risco. Penso que não tem noção daquilo que ele é capaz. Ele vai tentar manipulá-la... - ela diz. Como se fossêmos amiga de longa data.
- Desculpa, mas tu ainda não deves ter percebido. Isto não foi um pedido. Foi uma ordem. Eu exijo vê-lo agora. - eu interrompo-a quando ela está prestes a dizer outra coisa qualquer. Ela perde o jeito.
- Aaã claro. - ela diz bastante embaraçada e com um sorriso amarelo e constragido. Noto um certo desagrado na sua expressão.
- Leve-a até ele. - ela faz sinal para o guarda.
Apercebo-me que neste momento ela tem mais autoridade que eu. E eu seria a rainha se não fosse pelo facto de ter estado em coma. E ela nem sequer é casada com Loki. Ela é noiva de Loki. Noiva... De Loki... Sinto o meu coração quebrar-se de novo e mudo imediatamente de pensamento. Foco-me em Erik. E caramba. Ele é um demónio. Era a isto que ele se referia quando disse que viria a desapontar-me. Mas... Demónios não sentem compaixão. Nem amizade. Nem amor... Apenas lealdade com quem os criou, com os seus criadores. Sei disso. Estudei todas as criaturas existentes.
(...)
Estou apenas sentada à frente de Erik. Ele está algemado. Ainda não lhe dirigi palavra. Estamos apenas a olhar um para o outro. Estamos naquilo que eu penso ser a sua cela. Não é acolhedora. Faz lembrar uma daquelas salas que há nos manicômios onde colocam os serial killers.
Tento analisar as suas expressões. Ele está à espera que eu diga algo. Está com receio. Vejo arrependimento nos seus olhos. E intensidade e profundidade.
Acho que é mais ele que me está a ler os pensamentos, do que eu a ele.
- Mentiste-me. - eu acabo por dizer num tom acusatório.
Ele abre a boca para dizer algo, no entanto fecha-a em seguida.
- Não nasceste demónio. Tornaste-te um, certo? - eu acabo por perguntar-lhes após uns minutos em silêncio. Existem 2 tipos de demónios, os que nascem e os que são convertidos. O segundo tipo acaba por ser mais chamado de os semi-demónios. Como é que são convertidos? Qualquer um pode ser convertido, basta não terem ninguém que amem ou que os ame e tenham cometido algum erro tão terrivel que a escuridão dentro deles os assombre.
- Sim.
- Porquê? - eu pergunto-lhe e ele hesita, não sabendo ao certo como começar ou como arranjar palavras para me contar o que lhe aconteceu de tão mau na sua vida.
- Aqui não é sítio certo. - ele acaba por dizer e eu abano a cabeça.
- Não existe um sítio certo. Existe o agora. O agora que é aqui. - eu argumento num tom baixo, porém desesperada. Ele percebe isso.
- A minha ex-mulher matou o nosso filho quando ele tinha 4 anos. E eu matei-a a tentar impedi-la. - ele diz rápido sem olhar para mim.
Não estava à espera de algo tão... Cruel.
- Qual era a tua missão? Qual a razão de Hella te ter escolhido? - eu decido perguntar sabendo que não posso reconfortá-lo sem antes saber se eu realmente importo para ele. Se ele realmente me ama, como eu pensava que amava.
Ele não responde, continuando a não olhar para mim.
- Há duas opções. Eu estive a pensar nelas e medi-las. Eles pensam que Hella te mandou aqui para me matares e ao resto da minha família real. Mas eu não acho que tenha sido isso. Se o fosse ter-me-ias matado já há muito tempo. Matar-me-ias logo assim que me conheceste. Talvez não conseguisses matar Loki nem Thor, mas afinal quem conseguiria? Não. Não era esse o plano. Hella incumbiu-te de tu ganhares a minha confiança para depois levar uma apunhalada nas costas. Ela queria que tu me destruisses. - eu digo e ele finalmente olha-me nos olhos como que me a dizer que eu acertei em cheio.
- No entanto, não o fizeste. Mudaste de ideias, não foi? - eu continuo.
- Sim.