— Te beijar? — Gustavo não conseguia crer no que tinha escutado.
— É. — Wanessa deu de ombros, se preparando para convencê-lo. — Eu queria sentir como é beijar um homem. A Luzia se descobriu assexual e não sente atração por ninguém. Você é hétero e sente atração por mulheres e eu tenho minhas dúvidas se não sou bissexual e sinto atração por mulheres e homens. Só queria ter certeza. Você pode me ajudar?
— Você quer que eu te beije para que você descubra o que você é?
— É só um beijo. Só pra eu ver como me sinto. E afinal, você gosta de mulheres, não?
Gustavo estava perplexo. Encarava a garota em sua frente sem saber o que dizer. Se sentia como um objeto pronto para ser usado. Ou então um experimento a ser feito em quem quisesse.
— Só um beijo? Pra você isso é algo simples?
— É que... — ela estava começando a perceber o absurdo que havia proposto. — Eu só queria ter certeza. Você é o único homem que conheço. Seria um único beijo, Gustavo. Pra eu conseguir entender quem sou, e pra nos ajudar também a descobrir se a humanidade continua a mesma de antigamente. Por favor.
Ela deu um passo em direção a ele. Precisava tomar a atitude. Seus olhos miraram seus lábios carnudos. Precisava tê-los em contato com os dela. Mais do que nunca sentia esse desejo. Queria muito sentir como era beijar um homem. E mais do que isso, queria muito saber como era beijar Gustavo.
— Pare. — Ele segurou os braços dela quando já estavam a poucos centímetros. Se sentia cada vez mais usado. — Eu não quero te beijar. E eu não vou. Vocês acham que eu sou um teste que todas podem tentar? — Wanessa se afastou, visto a negativa dele. — Daqui uns dias você vai trazer todas as suas amigas pra me beijar e descobrir o que elas são.
— Não. É claro que não...
— Mas pra você isso é normal, não é? Vocês acham que os homens só estão aqui pra servir vocês. Vocês não se importam com a gente. Tão nem aí se somos humanos e se temos sentimentos também. Isso não importa pra vocês. Vocês só querem satisfazer suas vontades custe o que custar.
— Gustavo, não é isso. — Agora era ela quem estava magoada. Como ele podia pensar aquilo delas? Ela se importava com eles. Ela sabia que eles tinham sentimentos. — Nós... eu não sou assim. Por favor. Me desculpe, eu não queria te humilhar. Achei que não teria problema e...
— Não se explique. Isso só vai piorar — ele tentava se conter. Mas a vontade que tinha era de gritar e jogar na cara dela tudo que estava entalado em sua garganta. Tudo aquilo que sentia em relação a todas as mulheres e como elas tratavam eles.
— Mas... Eu não quero que fique com essa má impressão de mim. Achei que tivesse beijado a Luzia apenas como um teste e não se importaria em fazer de novo. Eu... Eu nem sei o que te dizer. Eu estou envergonhada. Não queria te colocar nessa situação.
— Chega Wanessa. — Ele fechou os olhos e suspirou. — Vamos, eu vou te levar de volta aos limites da sociedade.
— Não precisa. Eu consigo chegar sozinha.
— Não, você não consegue. Você não imagina o que pode acontecer aqui na nossa sociedade. É melhor eu ir com você.
— Obrigada — ela lhe lançou um sorriso triste. Era reconfortante saber que ele não estava chateado a ponto de deixá-la em perigo. — E desculpe mais uma vez.
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A Liberdade que Limita
Science Fiction"A sociedade não está pronta para aceitar toda forma de liberdade" Em um mundo dividido em duas classes, as mulheres são seres superiores e os homens inferiores. Cada um habita uma sociedade, que funciona de maneiras distintas, eles trabalhando e...