Capítulo 22:

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— Não deixem ninguém passar! É pra ter greve, ninguém vai trabalhar hoje — Luzia disse para Gean e Rick que estavam com eles.

Vários homens já chegavam às fábricas e encontravam as entradas trancadas com diversos objetos que o grupo conseguiu encontrar. Luzia e Wanessa vieram para a sociedade masculina quando ainda era madrugada. Desde cedo as duas, mais Gustavo e seus dois amigos, trabalhavam arduamente para o que seria o mais importante dia da revolução até aquele momento. Era a hora da greve. Finalmente a sociedade feminina teria consciência do que estava acontecendo, com algo que afetaria diretamente elas.

Um dia sem produção seria uma grande perda para quem não estava acostumado a racionar. As mulheres e o governo feminino notariam a ausência dos produtos fabricados e buscariam descobrir o que havia acontecido para a falta de mercadorias. Seria nesse momento que se deparariam com os motivos: o desejo pela igualdade e o fim da exploração. Os homens queriam ser iguais e não produziriam mais até que elas solucionassem isso. Eles não seriam mais coniventes com a exploração delas.

Mas para que o recado fosse entendido, a greve precisaria ser perfeita! Todos precisariam aderir pelo tempo necessário e também a mensagem precisaria ser muito bem entendida. Foi nisso que Wanessa e Luzia trabalharam por semanas. As duas estavam exaustas. Há dias, vinham fazendo campanhas e distribuindo panfletos na sociedade feminina também, sem descanso.

Porém, apesar de cansadas, estavam realizadas pelo objetivo que parecia que ia ser conquistado. Os homens enfim agiriam e as mulheres — todas as mulheres — tomariam consciência sobre a situação deles e sobre o que exigiam.

Gean, Rick e Wanessa se deslocaram até as três entradas da fábrica e permaneceram de prontidão. O prédio de metal ao fundo deles já estava com as luzes acesas, porém não havia indícios de alguém no local. Tudo era vazio e silencioso.

Em compensação ao lado de fora, homens se dispunham por todo o pátio coberto de grama que circundava a edificação, olhando para as entradas trancadas com espanto. Nunca antes havia acontecido uma coisa daquelas. Era algo inédito e eles não sabiam o que esperar.

Alguns viam que Gustavo, seu colega, estava mais a frente, próximo a uma das entradas, ao lado da mulher que apresentou na reunião que presenciaram e supunham que era alguma coisa relacionada àquele dia. Entretanto, outros — os que não compareceram — não conseguiam ter um mísero palpite do que ocorria.

Luzia e Gustavo já haviam combinado o que fariam e chegando o momento em que todos já se faziam presentes, decidiram começar os anúncios e explicar o que acontecia. Gustavo pegou o microfone mais confiante dessa vez:

— Amigos, muitos de vocês já sabem o que eu e algumas outras pessoas estamos buscando. A gente quer a igualdade entre as duas sociedades. E temos o apoio de mulheres nisso. Não estamos sozinhos. Mas hoje será o nosso dia de agir. Precisamos fazer alguma coisa pra que isso aconteça. E hoje faremos. Vai ser uma greve. Ninguém vai trabalhar. Vamos nos recusar! Vamos mostrar que somos mais do que isso. Que somos mais que simples seres que ficam fabricando as coisas pra elas.

Foi a vez de Luzia assumir, pegando o microfone da mão dele e olhando ainda mais convicta para sua plateia. Wanessa admirava a amiga pela sua coragem. Ela jamais conseguiria encará-los assim. Não temia Gustavo, ou seus amigos. Mas tinha receio de que com tantos juntos eles pudessem se unir e fazer alguma coisa contra elas.

— Se vocês pararem de produzir. Pelo menos por hoje, as mulheres vão notar que algo está acontecendo — começou a garota dos cabelos azuis. Muitos dos que ainda não conheciam Luzia e que nunca haviam visto uma mulher antes olhavam para ela espantados. Outros perguntavam se ela era realmente uma mulher. — E sim, eu sou uma mulher — ela ouviu os comentários deles. — Eu sou uma mulher que está do lado de vocês e que está aqui pra ajudar. Vocês precisam parar hoje. Vamos ficar aqui! Vamos protestar. Vocês têm os mesmos direitos que nós. E devem lutar por isso. Não podem aceitar essa inferioridade. Nós todos somos iguais e devemos ser tratados como tal.

A Liberdade que LimitaOnde histórias criam vida. Descubra agora