Luzia estava almoçando em uma lanchonete, distraída em seu computador, ainda com a obsessiva necessidade de encontrar respostas para a pergunta de como elas nasciam, quando foi surpreendida por uma moça que sentou-se na cadeira em sua frente.
— Olá — disse ela animada, lançando um sorriso simpático.
A menina dos cabelos azuis desviou sua atenção do computador e largou seu lanche no prato, encarando a mulher com um misto de surpresa e animação:
— Oi Wanessa!
A negra abriu um sorriso ainda maior:
— Se importa de eu almoçar aqui você?
— Não.
Wanessa agradeceu e chamou um dos robôs, pedindo uma das opções saudáveis do cardápio. Não demorou muito para que a refeição chegasse.
— Não sabia que morava aqui perto.
— E não moro. Eu tava na biblioteca aqui na esquina e vim almoçar rapidinho.
— Ah! — ela fez uma pausa e aproveitou para beber seu copo d'água. — Alguma atividade importante? Parece estar ocupada.
— Um pouco — Luzia percebeu que estava sendo mal-educada. A intromissão em seu almoço tranquilo poderia não ter sido bem-vinda, mas aquela era a mulher que lhe ajudou a descobrir quem ela era de verdade. — Estou fazendo umas pesquisas, mas não consigo descobrir muita coisa. A internet não tem nada. Já revirei isso aqui — apontou para o computador e suspirou. — Nem nos livros tenho achado as informações que preciso.
— Posso ajudar de alguma forma? O que você está procurando exatamente?
— Nada importante. Apenas uma curiosidade minha.
O que Wanessa diria se soubesse o assunto que lhe afligia? Será que diria que isso não tem importância e a julgaria por estar perdendo tempo com aquilo ou lhe incentivaria a continuar buscando informação? Na dúvida preferiu não arriscar e mudar de assunto.
— E você? Mora por aqui?
— Eu trabalho aqui perto. Estava passando pela calçada e lhe vi aqui. Mas não se incomode com a minha presença, se quiser ir prosseguir suas pesquisas não tem problema, eu entenderei.
— Obrigada. Já terminei de almoçar, mas te faço companhia. Preciso te contar o que descobri sobre assexualidade. Cheguei no apartplug e naquela mesma noite já fui pesquisar o que você disse. É exatamente o que eu sou. Não tenho nenhuma dúvida.
— Imaginei que sim, pelo que tinha me descrito.
— Eu pesquisei muito! Descobri tantas coisas! Você sabia que no passado isso era bem mais comum? E que o símbolo, tipo o slogan deles era: "Comer um bolo é bem melhor do que sexo"? E ainda há vários tipos de assexuais. Não somos todos iguais. E isso é o mais bacana de tudo. Porque todo mundo é diferente. Ninguém é igual, nem nunca foi.
— Que interessante. Eu conhecia o termo mais superficialmente. Mas fico feliz em ver você animada com isso.
— Eu tô muito animada sim. Agora sei que não estou sozinha. E até decidi agir. Vou tentar lutar por um mundo igual pra todo mundo. Onde eu possa ser assexual sem ser vista como alguém estranha pelo resto das pessoas. Livre pra poder ser quem eu quiser.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Liberdade que Limita
Ciencia Ficción"A sociedade não está pronta para aceitar toda forma de liberdade" Em um mundo dividido em duas classes, as mulheres são seres superiores e os homens inferiores. Cada um habita uma sociedade, que funciona de maneiras distintas, eles trabalhando e...