Capítulo 24

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— Parem! — Gustavo chegou correndo, entrando na viela escura, guiado por gritos femininos de dor. — Ela está do nosso lado!

Nenhum dos homens lhe ouviu ou fez o menor gesto que demonstrasse ter notado sua presença. Prosseguiram batendo e xingando a mulher caída em sua frente, enquanto Luzia gritava de dor, já encolhida e de olhos fechados, sem se dar conta que seu amigo a encontrou.

Sem pensar duas vezes Gustavo se colocou na frente dos três, impedindo que prosseguissem os golpes e pronto para apanhar junto se necessário fosse:

— Parem! Ela é a mulher que está do nosso lado! — Levou alguns golpes até que os homens percebessem a intromissão. — Ela que tava discursando para vocês! — Desviou de um soco. — E não tem culpa de nada!

Os três homens pararam seu ataque e encararam Gustavo. Ponderaram durante alguns segundos se deviam atacá-lo também. Luzia, próxima aos pés do amigo abriu os olhos para ver o que acontecia e se deparou com a cena tensa. Tentou murmurar algumas palavras, chamar a atenção de Gustavo e pedir para que saísse dali e não se metesse em confusão. Mas assim que fez um breve movimento, seu corpo reclamou de dor e as frases não saíram de sua boca.

Gustavo notou a menina se mexendo e desviou seu olhar ao chão. Rapidamente voltou a encarar os homens em sua frente. Eles estavam prontos para atacá-lo quando ouviram a movimentação na rua principal. Homens corriam mais uma vez, gritando de pavor e implorando por ajuda.

— As mulheres! As mulheres estão vindo! — conseguiram distinguir entre os berros.

Os três homens em frente a Gustavo não pensaram duas vezes e saíram correndo de volta a rua, fugindo da ameaça maior. O rapaz que ali permaneceu, se agachou e olhou para Luzia caída ao chão.

— Você está bem? — perguntou, se ajoelhando ao lado dela.

Antes que respondesse, eles ouviram barulho de tiros e gemidos de dor, seguidos por gritos de socorro e pessoas correndo.

— Vamos. Precisamos ir. Você consegue caminhar? — Gustavo passou a mão por baixo das costas dela e lhe ajudou a se sentar.

Ofereceu a mão para a garota que devagar se pôs em pé. Agarrando-a pela cintura, Gustavo puxou-a para andar quando um vulto surgiu há alguns metros deles e disparou duas vezes seguidas, sem dar tempo para que reagissem ou gritassem qualquer coisa. Ambos caíram ao chão.

Gustavo sentiu o braço direito arder. Luzia foi atingida pouco acima do joelho.

— Nãoooo! — Gustavo gritou, assim que entendeu o que aconteceu e percebeu que a amiga também havia sido baleada.

Luzia gemia de dor, mais uma vez caída ao chão, com a mão próxima aonde havia sido atingida. Gustavo se deslocou até mais próximo dela. A policial que ainda permanecia ali, empunhou a arma, pronta para atirar mais uma vez em direção aos dois.

— Ela... ela é uma-a mu-lhe-er — Gustavo bradou entredentes, segurando o braço que foi atingido e desviando a atenção de Luzia a outra mulher em sua frente.

O comentário teve efeito e a policial olhou para Gustavo e em seguida para Luzia caída ao chão.

— Você feriu uma igual a você! — Gustavo pôs-se em pé e gritou, sentindo o braço começar a latejar.

A mulher olhou dele a Luzia, mais uma vez. Realmente o ser caído ao chão se assemelhava muito com uma mulher. Mas não podia ser. O que uma mulher estaria fazendo na sociedade inferior?

A Liberdade que LimitaOnde histórias criam vida. Descubra agora