Capítulo 12:

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— Eu me sinto ridículo com isso — Gustavo apontou para suas roupas coloridas e a peruca de cabelos longos e laranja que usava.

— Você sabe que isso é importante. E eu me vesti como uma de vocês sem problema nenhum.

— É, mas eu não me sinto bem com tantas cores e com essa peruca idiota.

— Xiu! Fale baixo ou vão escutar. E deixe os cabelos caírem sobre seu rosto.

Gustavo fez o que Luzia pediu e um grupo de mulheres cruzou sem pressa por eles, dando risada e conversando. O garoto prendeu a respiração e torceu para não ser reconhecido. Precisava permanecer com seu disfarce de ser superior até o fim do dia.

Mas nada lhe aconteceu. Usando uma calça vermelha e um moletom verde, Gustavo passava despercebido por todas elas, que achavam que ele era apenas mais uma. Se soubessem que era um ser inferior, era provável que o rapaz acabasse seu passeio como da outra vez: expulso e ferido.

Por enquanto, porém, tudo saía conforme o planejado e Luzia e ele chegaram a uma das enormes bibliotecas sem maiores problemas. Lá dentro encontraram uma sala vazia onde poderiam fazer suas pesquisas durante as horas que se seguiriam. O garoto esperou sentado, enquanto a menina procurou entre as estantes os livros que lhes interessavam, e trouxe mais de dezenas deles.

— O que mesmo a gente tem que procurar? — perguntou Gustavo, vendo a pilha de obras em frente a ele crescer.

— Qualquer coisa sobre como somos gerados. Alguma coisa que diga onde nascemos, como surgimos ou a diferença entre nós e vocês.

— Certo. — Ele pegou o primeiro livro e procurou por seu índice, começando a leitura na parte que lhe interessava.

Algumas horas mais tarde, Gustavo já não aguentava mais ler uma palavra que fosse. As letras dançavam em sua frente. As frases não faziam sentido. E ainda não haviam encontrado nada relevante.

— Você tem certeza que tem alguma coisa sobre isso nesses livros? — perguntou, deitando-se sobre a mesa e encarando Luzia que estava compenetrada em sua leitura.

— Certeza eu não tenho. Mas tem que ter. Onde mais teria esse tipo de informações? Eu já tentei até na internet e não encontrei nada. Essa é a nossa única esperança.

— Bom, eu desisto, então. É perda de tempo. Não sei o que isso tem a ver com a igualdade entre homens e mulheres.

— Tem tudo a ver... Se provarmos que somos iguais e que nascemos da mesma forma e com as mesmas características teremos dado um passo a mais para a igualdade. Poderemos usar isso como argumento.

— Mas e se não nascermos?

— Aí, esqueceremos isso e nem tocaremos no assunto. Mas eu tenho quase certeza que somos gerados do mesmo jeito. Afinal, nossa infância é igual, não é? Vocês não ficam na Casa de Cuidados até os 3 anos? E depois na Casa de Crescimento até os 10?

— Sim. Mas a gente começa a trabalhar depois disso.

— Mas até os 10 anos somos tratados do mesmo jeito. Isso já é alguma coisa. Só precisamos de mais informações. Tipo: de onde viemos? Como ninguém se perguntou ou escreveu sobre isso antes? Será que do nada a gente surge bebê na Casa de Cuidados? Como uma geração espontânea? Ou será que fomos fabricados peça por peça e depois montados, como os robôs?

A Liberdade que LimitaOnde histórias criam vida. Descubra agora