Capítulo 14:

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 — Por que eu ainda tenho que usar esse disfarce se lá são gerados homens e mulheres?

— Porque o lugar é administrado majoritariamente por nós — explicou Wanessa. — Vocês apenas nascem lá, mas não há nenhum homem trabalhando. Essa área fica sobre os nossos cuidados e as atividades mais ruins com os robôs.

— Isso é muito injusto — Gustavo reclamou e se virou para Luzia que analisava o aeromobil espantada. Era a primeira vez que ambos andavam em um veículo daqueles.

A menina nunca havia visto nada do tipo, nem em todas as suas viagens e pesquisas. Era algo desconhecido e inovador, uma mistura de automóvel com um pequeno avião. Possuía duas extensas asas como a de um aeroplanador e duas rodas frontais como um automóvel, além de uma hélice e uma cauda. Haviam duas fileiras de bancos, assim como nos carros, sendo dois assentos na frente e outros três atrás.

Luzia, Gustavo e Wanessa estavam nos assentos de trás, o rapaz no meio das duas garotas conversando animado com a sua nova amiga. Wanessa era uma mulher muito interessante e não parecia desprezá-lo — não que Luzia fizesse isso –, mas a moça realmente parecia se interessar e prestar atenção ao que ele dizia.

— Como essa coisa sabe pra onde ir? — Gustavo se voltou mais uma vez para a negra.

Não havia motorista no veículo, nem mesmo um robô. Apenas um pequeno painel com alguns botões. Mas de uma forma ou de outra o veículo se movimentava há metros do chão. Já haviam passado, inclusive, toda a cidade e não se via nada no solo além da vegetação.

— Eu coloquei as coordenadas — Wanessa apontou para o painel. — Ele verifica a melhor rota até lá e segue o caminho. Exatamente como os robôs fazem nos táxis.

— Isso ainda é muito novo pra mim. Na minha sociedade não existe nada disso. A gente só anda a pé.

— É, eu sei.

— Sabe?

Até mesmo Luzia voltou a prestar atenção na conversa deles.

— Sim. Eu não contei que faço parte do governo? Nós sabemos de tudo. Controlamos a sua sociedade também.

— Então você é conivente com tudo? — Luzia inclinou o corpo para frente e encarou a outra. — Você já conhecia os homens e como eles vivem!

— Calma, eu sei de algumas coisas. Nós temos imagens e vídeos sobre a sociedade como um todo. Vemos tudo que fazem, mas não individualmente. Conhecer um homem, falar com um, não fazemos. Foi uma surpresa conhecer você, Gustavo. Você é bem diferente do que imaginei — lançou um sorriso a ele. — Acho que conhecer um longe dos outros, ver que é humano como nós, é algo bem diferente do que se poderia esperar.

— E já que você trabalha no governo e sabe todas essas coisas não conseguiria mudar isso? Mostrar pra todo mundo que somos iguais?

— Não vejo como, Luzia. É difícil provar e mesmo que eu conseguisse, ninguém iria querer fazer nada. Pra quê? Alguém precisa trabalhar para nós... Alguém precisa sustentar a nossa sociedade.

— Poderíamos colocar robôs, como nas outras atividades.

— Eu sei. Não é a minha opinião. É apenas o que a maioria de nós diria. Eu também acho que seria melhor acabar com essa "exploração".

— Então se junte a nós. Nós vamos fazer alguma coisa pra mudar isso. Só não sei o que exatamente ainda, mas vamos.

— Talvez eu me una a vocês. Mas vou pensar com calma no que posso fazer para ajudá-los.

A Liberdade que LimitaOnde histórias criam vida. Descubra agora