Capítulo 21

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Gustavo mal tinha acordado em seu dia de descanso quando ouviu alguém batendo na porta. Largou a vassoura que usava para limpar o pequeno apartamento e seguiu para abri-la. Era estranho alguém ali tão cedo, principalmente em um dia tão importante como aquele. Esperava que fosse alguma coisa rápida ou que não fosse os amigos lhe importunando. Já estava ansioso, e qualquer outra coisa lhe deixaria ainda pior.

Abriu a porta e se deparou com alguém usando o uniforme das fábricas e um boné. O corpo do homem era alto e magro, mais do que o comum. E ele tentava cobrir o rosto com o acessório da cabeça. Somado a isso o fato de usar o macacão cinza em pleno dia de descanso deixava Gustavo desconfiado.

— Bom dia. Posso entrar? — a voz suave e fina falou e ele enfim teve consciência de quem se encontrava em sua frente.

— Wanessa?

A moça tirou o boné e Gustavo pôde ver o rosto dela e os cabelos presos em um coque. Era a menina que conhecia, com seu sorriso típico iluminando a face.

Ele fez um sinal para que ela entrasse e fechou a porta assim que passou. Wanessa se pôs no meio do apartamento, notando a vassoura escorada na parede e os ciscos amontoados no piso.

— O que você está fazendo aqui? — ele a encarava.

— Vim ajudar com os preparativos. Algum problema pra você?

— Não. É só que... Como você chegou aqui? E como conseguiu essa roupa? — apontou para o corpo dela.

— Trabalho no governo. Consigo o que eu quiser. E eu tenho memória boa, lembrava o caminho.

— Você veio sozinha? — Ela assentiu com a cabeça. — Você veio sozinha na nossa sociedade em meio a um dia de descanso? E não ficou com medo?

— É claro que não! — Wanessa abriu um sorriso, seus dentes reluziram em direção a ele. — Eu sei me cuidar!

— Isso foi arriscado. Somos mais perigosos do que parece.

— Você está preocupado comigo ou não queria que eu viesse aqui? Se for a segunda opção posso ir embora do mesmo jeito que vim. Mas se for a primeira eu agradeço e dispenso a preocupação.

— Não é uma coisa nem outra. Apenas fiquei surpreso. E é sério quando digo que nós somos perigosos. Principalmente no dia de descanso.

— Tudo bem, não farei mais isso.

— A próxima vez me avise que eu vou te pegar.

Dessa vez foi ela quem olhou surpresa pra ele. Achava que todo aquele sermão era porque Gustavo não gostava de sua presença. Mas se ele estava se oferecendo para buscá-la, talvez não fosse bem assim.

— A próxima vez eu te aviso sim — ela deu uma piscadinha para ele. — Mas o que você poderia fazer se alguém viesse nos atacar?

Gustavo pensou. Seus hematomas do ataque que havia sofrido há pouco tempo agora que haviam melhorado. Realmente não havia nada que ele pudesse fazer para protegê-la de verdade. Mas, ainda assim, sentia que a simples presença de algum habitante da sociedade traria mais segurança a ela.

— Pelo menos estaríamos em dois e poderíamos apanhar juntos.

Wanessa soltou uma longa e gostosa risada. Gustavo riu também, vendo a rir, mas não emitiu som nenhum.

A Liberdade que LimitaOnde histórias criam vida. Descubra agora