Luzia abriu os olhos e se deparou com um lugar onde jamais estivera antes. Estava deitada sobre uma cama macia, com lençóis brancos. Ao seu redor nada além de alguns mobiliários: uma cômoda na mesma parede que a cama, um sofá de 3 lugares mais distante dela e próximo a porta-janela que dava para uma sacada, uma televisão na parede oposta onde estava e um robô a sua frente, lhe encarando imóvel.
Antes de ficar surpresa com as paredes coloridas do local, se deu conta de onde estava e averiguou seu próprio corpo. A roupa que usava antes sumiu, dando espaço a uma camisola branca. Passando a mão pelos próprios braços notou alguns hematomas e pontos sensíveis. Seguiu a exploração erguendo a camisola pra cima e se deparando com um enorme curativo sobre uma das coxas. Lembrou-se da dor excruciante que sentiu antes de apagar, a confusão na sociedade masculina, o tiro que levou e o seu próprio resgate por uma ambulância.
Estaria mesmo em um hospital? Olhou ao redor. Ou aquela era uma espécie de prisão? Um local para onde foi levada por ter ajudado os homens a fazerem uma greve e por ter ficado do lado deles? Só havia uma maneira de descobrir...
Afastou os lençóis, abaixou a camisola e puxou as pernas para levantar da cama. Sentiu-se um pouco tonta. Parou alguns segundos para recuperar o equilíbrio e logo conseguiu ficar em pé. Deu o primeiro passo ao mesmo tempo em que ouviu sons vindo pelo corredor. Assim que deu o segundo — com dificuldade ao mover a perna machucada — duas mulheres adentraram o quarto. Ambas de branco e segurando um tablet.
Luzia lembrava vagamente de uma delas, era quem lhe prestara os primeiros socorros.
— Deite-se novamente — falou a outra, uma mulher ruiva, de cabelos longos, lisos e presos em um rabo de cavalo. Luzia a encarou, procurando por alguma ameaça. Ela percebeu. — Não vamos lhe fazer mal. Você está no Hospital Mandic sobre cuidados médicos e ficará bem.
Sem outra escolha e relutante, a menina voltou a se deitar sobre a cama. Seu corpo agradeceu de mais uma vez poder repousar os músculos cansados.
— O que aconteceu? — apontou pra a própria coxa.
A outra médica, a que tratou da garota ainda na sociedade masculina, deu um passo a frente se aproximando mais ao responder:
— Você foi baleada, mas apenas superficialmente. A bala não chegou a alcançar o fêmur, e você ficará bem. Também teve lesões por todo o corpo, porém nada grave. Fizemos diversos exames, incluindo uma ressonância e não encontramos maiores danos. Em alguns dias você estará bem novamente. Apenas precisa de repouso.
— E talvez sinta dificuldades de se locomover por uma semana ou mais — complementou a outra. — A coxa é uma área importante do corpo da mulher, sendo o local mais forte de nosso corpo. Entretanto, tudo voltará ao normal. E pode ser que o ferimento doa um pouco, mas já te demos alguns analgésicos para evitar qualquer tipo de dor.
— E quando poderei sair daqui?
— Ainda não sabemos. Queremos fazer mais alguns exames e ter certeza de que estará bem. Por enquanto aproveite apenas para descansar.
As médicas saíram dizendo que Luzia já tinha uma visita do lado de fora, esperando que ela acordasse para poder entrar e que dariam espaço e privacidade as duas. Imaginando que a visita fosse Wanessa ou até mesmo Gustavo, a garota se surpreendeu ao ver entrar Minerva, com cara de cansada.
Ela foi em direção a amiga e lhe deu um abraço apertado:
— Luzia, sua louca! No que você se meteu?
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A Liberdade que Limita
Science Fiction"A sociedade não está pronta para aceitar toda forma de liberdade" Em um mundo dividido em duas classes, as mulheres são seres superiores e os homens inferiores. Cada um habita uma sociedade, que funciona de maneiras distintas, eles trabalhando e...