#8 Morango

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Sábado 16:29

PChris

Minha perna bate no chão setenta vez por minuto, meu coração vai sair pela boca a qualquer momento, sinto uma gota de suor escorrer lentamente pela minha testa. Não queria, mas estou completamente nervoso. Observo meu celular a cada três minutos, verificando se alguma mensagem chegou.
Ele está dez minutos atrasado.
O que eu 'tô fazendo aqui?
Acho que ainda existe em mim um garoto estúpido que acredita em uma mudança genuína.
Idiota.
Meu celular vibra, eu pego o de forma eufórica para verificar, mas era só uma mensagem do William perguntando se tinha dado tudo certo. Não respondo a mensagem.
Me obrigo a aceitar o fato de que ele não vem.
Faço o sinal para o garçom da lanchonete e peço um copo grande de milk-shake de chocolate.
Venho nesse lugar a tempo, minha mãe me trazia aqui quando eu era pequeno, mesmo não tendo muito dinheiro ela sempre se esforçava em me trazer aqui quando eu tirava boas notas, ou fazia algum tipo de boa ação. O dono do lugar me conhece e sempre me dá uma cortesia ou outra, mesmo eu sempre insistindo ao contrário.
O tempo não está pedindo por um milk-shake, do lado de fora da lanchonete está ventando, com pequenos flocos de neve caindo sobre as ruas movimentadas de Oslo, mas eu estou com uma puta vontade desse milk-shake gelado.
O garçom retorna com a minha bebida e eu fico lá bebendo lentamente, esvaindo a cabeça de toda a confusão da minha vida fodida. Ouço a sino da porta tocar e minha atenção vai para a porta, vejo Noora entrando e falando no telefone, ela está claramente irritada, pois ele quase quebra o celular para desligar. Ela olha pra mim, eu me obrigo a dar um sorriso forçado e volto a minha atenção para a janela que me da acesso a imagem de uma rua iluminada.
- Oi.
Me surpreendo ao ver Noora sentada na cadeira a minha frente. Ela me olha e dá um dos sorrisos mais forçadamente engraçados que eu já havia visto. Solto uma risada curta.
- O que você quer?- pergunto, voltando a minha atenção para a janela.
- Quero te perguntar uma coisa.- Diz ela se ajeitando na cadeira.
Olho para ela. Linda. Essa é uma das palavras que definem Noora.
- Fala.
- É sobre a Eva.
Nessa hora foi a minha vez de se ajeitar na cadeira.
- O que tem ela?
Ela suspira, passando as mãos em seu cabelo curto e loiro.
- Esse é o problema, eu não sei. Ela não atende o celular, não responde as minha mensagens e quando vou na casa ela não me atende.
- E o que eu tenho haver com isso?
A Loirinha me olho de forma acusadora.
- Olha, eu sei que você é só um maldito fuckboy, que não liga para os sentimentos de ninguém além dos seus próprios interesses, mas Eva é uma garota legal, eu já falei com as meninas.
"Você acha que eu queria vim aqui falar com você? Não! Mas você é a única pessoa que me resta. Então, você vai me ajudar ou vai agir como um puto desgraçado?"
Eu termino a minha bebida olhando bem nos olhos da Noora, ela fica desconfortável, mas também não cede o olhar. Me levanto, pago o garçom e vou em direção a porta, olho para trás e vejo que ela ainda estava na cadeira me encarando como se eu cheirasse a lixo.
- Você vem ou não?- digo impaciente.
Ela se levanta. Vamos até o meu carro.
- Sabe onde ela mora?- a Loirinha pergunta entrando no carro.
- Sei.
Ela parece curiosa em saber como eu sei onde é a casa da Eva, mas também não pergunta.
É William, essa daí vai dá trabalho.
Sorrio com o meu pensamento.

...~...~...~...~...~...~...~...~...~...~...~...

No meio do caminho, peço a Noora para ligar pra Eva pelo meu celular, ela resmunga dizendo que não adianta, mas faz mesmo assim.
Noora tenta uma três vezes, mas sem sucesso, ela murmura um "Eu disse."
Paro o carro em frente a casa de Eva, Noora tira o cinto e se prepara para sair do carro, mas eu seguro seu braço pedindo pra esperar. Pego o meu celular e mando uma mensagem a Eva.

"Está em casa?"

Antes de completar um minuto, ela me manda uma mensagem de volta.

Eva: "Para de me ligar!"

"Qual é o seu problema? Por que não atende a merda do celular?"

- O que está acontecendo?- Noora me pergunta impacientemente curiosa.
Eu levo meu indicador aos lábios e peço para fazer silêncio. Ela bufa.

Eva: "E por que você está me perturbando?"

Penso por um instante e concluo que não faço ideia do que responder, a verdade era que eu nem sabia exatamente o que eu estava fazendo aqui.
Eu poderia ter ignorado tudo isso, poderia estar dormindo ou na casa da Carly fazendo o que eu faço de melhor, mas estou aqui. Merda.
Me lembro da noite da festa em que quase nos beijamos, me lembro de ir atrás dela, me lembro de ficar com ela na outra festa. Seu cheiro. Aquele cheiro de morango, ou framboesa, esse cheiro que eu não conseguia tirar da cabeça, era dela.
Não sou o tipo de cara que curta sexo romântico, mas era esse o cheiro que a Eva tinha, e que, de uma certa forma, eu gostei. Ela não é o tipo de garota que chama a atenção, ela também não era do tipo que se importava se roupa a deixava sexy ou não, mas ela era bonita, não uma beleza extravagante, mas o tipo de beleza que cresce enquanto a conhece.
Eu não sou assim, as meninas com quem eu durmo são de beleza fria, são aquelas que fazem de tudo para chamar a minha atenção, aquelas que colocam seus jeans mais apertado e as blusas mais curtas, era essas com quem eu dormia... durmo. Mas nenhuma delas tinha esse cheiro. Morangos, ou framboesas.
Penso no que responder.

"Eva, me atende! Ou pelo menos abre a porra da porta!"

- Vai até a porta.- Falo a Noora.
- Mas...
-Vai logo!- Falo a interrompendo.
Ele desce do carro mal humorada, mas desce.

Eva: "Caralho, você está aqui?"

Não respondo.
Vejo Noora na frente da porta e depois de alguns segundos a porta abre. Observo Eva abraçar Noora, e por cima do seu ombro ela olha para o meu carro, o vidro está levantando e ela não me vê, mas ela levanta uma das mãos e, sabendo que eu veria, ela levanta o dedo do meio. Sorrio. Ela também sorrir.
Morango, definitivamente é morango.

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